A mesma disposição usada para fazer mais de mil gols como atacante, Romário aplica agora na política. Senador eleito pelo Rio de Janeiro em 2014, o ex-atacante de 51 anos se coloca como o pré-candidato do Podemos ao governo fluminense na disputa de outubro. Mas o "Baixinho" também pretende ser presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Antes de iniciar um ano que promete ser intenso, o artilheiro passou alguns dias entre Florianópolis e Balneário Camboriú. Esteve em Santa Catarina para disputar partidas beneficentes e assistir à estreia do filho Romarinho pelo Figueirense, na quarta-feira (17). Com um estilo despojado e um físico mais franzino do que o habitual, Romário recebeu a reportagem no hotel Il Campanário, em Jurerê Internacional, onde ficou hospedado.
Como tem sido o retorno do teu trabalho no Senado com foco nas pessoas com deficiência e doenças raras?
O retorno tem sido muito positivo. Quando entrei na política, era a minha bandeira principal. Você como senador, deputado ou vereador se envolve em todos os segmentos do nosso país, educação, saúde, esporte, meio ambiente. Você tem por obrigação de estar presente em tudo e ter interesse em saber de tudo um pouco. Mas essa bandeira das pessoas com deficiência e das doenças raras eu abracei desde o começo. Entrei na política por causa da minha filha, por defender essa causa, tem sido muito gratificante. Estou feliz com que tenho feito, reconhecidamente o brasileiro aceitou bastante essa minha entrada na área.
E houve avanços?
Avançou. Fui relator há três anos da lei brasileira de inclusão, principalmente no que se diz respeito ao mercado de trabalho. Houve um avanço muito grande, muitas pessoas com deficiência, principalmente com autismo e síndrome de Down, têm evoluído bastante. Existem muitos parlamentares que hoje, alguns que não tem ninguém com deficiência ou doença rara na família, abraçaram essa causa. Isso tem evoluído bastante no nosso país.
O senhor quer ser presidente da CBF?
Tenho essa vontade, não sei te dizer se vai ser agora, porque na CBF, como quase tudo no nosso país, é muita política envolvida. Existe uma força por parte de algumas pessoas no futebol para que aconteça essa possibilidade. Também me vejo com essa possibilidade, mas não sei se será agora. Acredito que um dia pode acontecer.
O senhor acredita que pode mudar a CBF?
Com a constituição política que existe no futebol brasileiro é difícil a mudança. Mas se tratando do que estamos acompanhando nesses últimos episódios de corrupção com a prisão de ex-dirigentes, praticamente comprovem de que o presidente atual da CBF é corrupto e faz mal ao futebol, se enriquece ilicitamente com dinheiro da CBF, essas provas são importantes para que surjam outros nomes que, assim como eu, queiram melhorar o futebol. Acredito que com essa minha luta contra a corrupção no futebol, que vem desde quando eu larguei os gramados e passou a ser mais pública desde que ingressei na política, sou legitimado para assumir esse cargo e vou correr atrás disso.
O senhor deixaria a política de lado?
Não sei se a palavra é deixar de lado, mas a partir do momento que você assume um compromisso desse nível tem de passar a ter um tempo, prestar mais atenção. Mas com certeza não vai me atrapalhar nas atuações como senador.
Qual seria sua primeira ação como presidente da CBF?
A CBF tem que se desvencilhar de algumas coisas. Por exemplo, a arbitragem é uma delas. Sou contrário de a arbitragem estar abaixo dos braços da CBF. Com certeza eu deixaria a arbitragem autônoma, deixaria os seus profissionais decidirem o que é bom para essa entidade. E uma das ações que eu faria também é investir em todos os sentidos no futebol de base e futebol feminino. São coisas importantes que têm que acontecer na CBF, além de tomar conta da Seleção Brasileira para deixar para as federações resolverem os problemas dos seus clubes e seus campeonatos.
Pretendes concorrer neste ano?
Tenho mais quatro anos no Senado. Hoje sou pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro. O meu partido acha que é uma boa hora para me lançar a governador. Meu Estado vive um momento crítico, assim como o país, mas o meu Estado é um dos piores da Federação. Tenho pensado muito, estudado muito sobre o Estado, aprendido sobre os problemas e deficiências. Hoje estou no páreo.
E estás articulando para isso?
Nós, não só eu, como os que trabalham comigo, e o partido, temos feitos algumas articulações, alguns movimentos e conversando com alguns futuros parceiros. Por isso te afirmo que sou pré-candidato. Estamos desde o ano passado fazendo esse movimento para ser governador do Rio janeiro. Tem que ser trabalhador, sabedoria de formar um secretariado muito técnico, principalmente em segurança pública, educação e saúde. Não é nada diferente dos outros Estados. Tem outros temas com muita importância, mas nesse momento o Estado precisa mais desses três.
Por que o Rio de Janeiro chegou nessa situação?
Nesses últimos quatro ou cinco mandatos no nosso Estado tiveram pessoas que a gente achou que eram competentes, mas que no final a conclusão que a gente chega é de que foram corruptos por mais que politicamente tenham tido até momentos felizes. Só que o objetivo deles a gente chegou à conclusão que era só se enriquecer com a máquina pública. Quebraram o Estado, a gente começa com Garotinho (Anthony Garotinho), Rosinha (Rosinha Garotinho), principalmente o Cabral (Sérgio Cabral), e hoje o Pezão (Luiz Fernando Pezão). O Pezão nem vou dizer em relação à corrupção, até porque não teve nada provado, mas é um mal administrador. O PMDB no nosso Estado demonstrou que não foi uma boa escolha. Também já votei no PMDB, inclusive no Cabral na primeira eleição e no Pezão. Inclusive ajudei na sua campanha, pedi voto para ele.
Você se arrepende?
A palavra não é arrependimento. Eu hoje aprendi muito de ter me equivocado, de ter apoiado o Pezão, como me equivoquei de ter apoiado o Crivella. São pessoas que, a princípio, a gente acreditava que eram competentes para tomar conta tanto do Estado como da cidade, mas infelizmente isso não aconteceu. Assim como eu, milhões de pessoas erraram, mas nunca é tarde para se redimir e voltar atrás. Acredito que essas pessoas não voltam mais a governar nosso Estado e nossa cidade. Que a gente possa escolher melhor nossos governantes.
O que o senhor defende para o Podemos em nível nacional?
Hoje nós temos, na minha opinião, se não for o melhor, um dos melhores candidatos à Presidência, que é o senador Álvaro Dias. Ele já mostrou sua competência no Paraná como governador e em alguns anos no Congresso como senador. O Podemos hoje tem o Álvaro como pré-candidato, ele está totalmente fora dessa bagunça, dessa lama que existe no nosso país. Vejo o Álvaro como uma das possibilidades de o nosso país melhorar.
Se o senhor tiver que escolher, preferes Lula ou Bolsonaro?
Não escolheria nenhum dos lados. Apesar de eu ter uma relação muito boa com o Bolsonaro, respeito muito não só ele como a família, mas voto no Álvaro. Entre Lula e Bolsonaro, voto no Álvaro.
O Brasil vai ser hexa em 2018?
Se você fizer essa pergunta para 200 milhões de brasileiros a resposta será o que todos nós queremos e esperamos. A Seleção tem tudo para fazer uma grande campanha. Depois do Tite o Brasil melhorou em todos os sentidos. O grupo, ele conseguiu unir em todos os setores, os jogadores estão felizes, pelo que me consta. Isso é importante. Vou te citar 1994. Talvez eu fosse o único jogador que não era satisfeito com a comissão, mas depois eu cheguei e acabei me entrosando com a comissão. Então isso é bom, se o time sai com pensamento positivo, se todos se dão bem na parte tática e técnica, comissão, jogadores, a diretoria... E aí nem falo o presidente da CBF, porque se ele sair do Brasil acaba preso. É vergonhoso para um país não ter seu representante maior do futebol nos jogos. Pelo que estou vendo, até a Copa do Mundo torcemos para que ele seja expulso totalmente do futebol. Dentro do campo temos condições de fazer uma grande apresentação e ser hexa.
Quem é o Romário da atual Seleção?
É difícil ter outro Romário, ter outro Pelé, outro Maradona, outro Ronaldo. Tem hoje o Neymar que é o grande jogador brasileiro e, automaticamente mundial. É o jogador que a gente tem mais esperança e condição de ajudar o Brasil a trazer o hexa.
Como o senhor avalia o governo do presidente Temer?
O Temer fez escolhas erradas nesse um ano e pouco que ele assumiu, mas também não posso ser hipócrita e preciso dizer que muitas das escolhas foram corretas como em relação ao (Henrique) Meirelles, ao presidente do Banco Central. Nossa economia deu uma melhorada. Não me arrependo de ter sido a favor do impeachment do PT, que estava implodindo o nosso país. Eu esperava até mais do atual governo, mas hoje pensando não com o coração, mas como político presente no dia a dia, se não fosse a escolha errada de alguns políticos do Temer que estão totalmente envolvidos na Lava-Jato, o governo está caminhando. De um a 10, eu daria um sete. Esperava nessa época do ano dar um nove ou 10, mas darei um sete principalmente pelo crescimento que vem acontecendo no nosso país. Algumas reformas que aconteceram nesse período foram importantes. A reforma política não é a ideal, mas já aconteceu, a reforma trabalhista por mais que eu tenha votado contrário acabou ocorrendo, até pela sua importância para o país, e agora vem a reforma da Previdência.
Vais votar a favor ou contra?
Do jeito que está hoje já houve uma melhora muito grande, acredito que até chegar o dia da votação no Senado haverá mudanças positivas em relação aos pensionistas, idosos e trabalhadores. Mudando como acredito que mude, a probabilidade de eu votar a favor é muito grande.
A noite de Floripa é boa?
Já fui muito da noite, mas o tempo passa e a gente vai dando prioridade a outras coisas. Por exemplo: cheguei ontem ao hotel, estava pronto para ir para a noite. Mas deu 22h e acabei dormindo. Floripa, e principalmente Jurerê, é muito conhecida por isso. A cidade vive um momento difícil com os beach clubs na parte jurídica. Eu não consigo entender nem ver Jurerê sem essa movimentação. Acho que é muito positivo todos entrarem num acordo. Os beach clubs têm de continuar. Não sou morador para te dizer coisas mais específicas, se existem contrários a isso é porque determinadas coisas não fazem bem à cidade. Era hora de os donos, os representantes, sentarem com as associações de moradores e chegarem num acordo. O que posso te afirmar é que Jurerê sem os beach clubs não será Jurerê. E até para o fomento do turismo, não só de Florianópolis, mas de Santa Catarina, é importante que eles continuem abertos. A noite de Floripa é linda e maravilhosa.
Renato Gaúcho diz que é melhor do que o Cristiano Ronaldo. Romário é melhor do que os dois?
Com todo o respeito a todos, dentro da área sou melhor do que todos, não tem nem como comparar o Romário dentro da área.
Fisicamente você mudou bastante, emagreceu...
Eu fiz o procedimento cirúrgico interposição ileal, que é uma cirurgia para a minha diabetes. Cheguei a bater 480 de glicose, o que me preocupou muito. É uma cirurgia bastante complexa, deu até polêmica, bem minha cara... (risos). Mas o mais importante é que me curei, minha glicoe em jejum é 85, 90, 92. Cheguei a perder 20 quilos e já ganhei oito. Muitos dizem que estou correndo mais. Estou feliz e estou saudável.