É possível brilhar, marcar quatros gols e terminar uma partida vaiado pela própria torcida: foi o que aconteceu com o brasileiro Neymar, na quarta-feira (17), depois de goleada por 8 a 0 sobre o Dijon, por não deixar Edinson Cavani cobrar pênalti no final da partida.
O jogo já estava decidido em 7 a 0, com chances do centroavante uruguaio se tornar o maior artilheiro da história do Paris Saint-Germain diante do seu público, mas o camisa 10 foi para a cobrança.
Neymar não gostou da reação do público e demonstrou insatisfação ao deixar o gramado. Depois da partida, não deu declarações e não cumprimentou a torcida.
Situação paradoxal, depois de o craque ser eleito o melhor jogador em campo, após uma exibição espetacular. Neymar fez quatro gols, deu duas assistências e ganhou nota 10 do jornal esportivo francês L'Équipe, um feito bastante raro.
Mas parte da torcida não perdoou o jogador por mais uma polêmica com pênaltis, apesar de evidentemente inferior à discussão entre Neymar e Cavani para decidirem quem faria a cobrança na partida contra o Lyon, em 17 de setembro passado.
Desta vez, o jogo estava definido e Cavani estava a um gol de chegar superar os 156 gols marcados pelo sueco Zlatan Ibrahimovic, com quem está empatado na artilharia do PSG. Se tivesse cobrado, o uruguaio poderia deixar o estádio com um novo recorde. Mas Neymar foi para a bola e Cavani terá que esperar.
A chegada de Neymar no início da temporada, depois de o PSG desembolsar 222 milhões de euros para tirá-lo do Barcelona, causou um terremoto no futebol francês, em especial no vestiário do clube parisiense. Cavani precisou aprender a compartilhar o protagonismo com o recém chegado.
O técnico Unai Emery se esforçou para que o embate de setembro não tivesse maiores consequências.
Contra o Dijon, era Neymar o responsável para cobrar o pênalti. Mas o brasileiro já havia feito um "hat-trick" e dado duas assistências. Deixando a bola para Cavani bater, Neymar teria feito "um gesto muito bonito, de fair-play", admitiu o companheiro belga Thomas Meunier, que minimizou o incidente.
A equipe não quer atravessar outra tormenta a um mês do duelo decisivo das oitavas de final da Liga dos Campeões, contra o Real Madrid.
"Show de um homem só"
Mas Neymar fez ouvidos moucos aos pedidos da arquibancada e decidiu não ceder o ápice de seu protagonismo no "show de um homem só", como estampou o jornal L'Équipe em sua manchete.
A decisão do brasileiro dividiu os torcedores, tanto no estádio quanto nas redes sociais. Alguns o parabenizavam pela grande atuação, enquanto outros o questionavam pela atitude e pelo excesso de individualismo.
— Se for só pelo recorde, se não é na quarta será no domingo — falou Thomas Meunier. —Quando você marca quatro gols, dá duas assistência e tudo o que você ganha são vaias por um pênalti, eu vejo como ingratidão dos torcedores — acrescentou o belga ao defender o companheiro.
Na Espanha, que acompanha de perto a trajetória do PSG antes do duelo contra o Real Madrid, a imprensa ecoou o novo episódio da rivalidade Neymar-Cavani, apesar da prioridade do clube francês seja evitar qualquer chance de incêndio.