E o Aimoré está classificado para uma competição nacional! Queria tanto que estivesses aqui para comentarmos isso, pai! O segundo gol aos 46 minutos, a defesa do goleiro no último pênalti... Seria tão bom comemorar contigo. Sei que estás vibrando aí, e acho até que tem um dedinho teu naquela defesa, lembrando teus tempos de goleiro, mas gostaria tanto de vibrar ao teu lado. Já são cinco meses sem teus beijos, abraços e sorrisos, sem falar nos inúmeros telefonemas diários, dos quais sinto tanta falta. Vibra daí, meu gordinho, que continuaremos aqui torcendo pelo teu Aimoré, e agradecendo a cada dia a bênção de teres feito parte das nossas vidas. A Nanda continuará cantando o hino com toda a vibração que ensinaste para ela, e, como ela diz sempre: "nunca deixaremos de amar o vovô Helio".
O relato da advogada e professora Cristina Dahmer Ilhosa é um agradecimento aos jogadores, à comissão técnica e à direção do Aimoré, que, pela primeira vez em mais de 80 anos, levaram a equipe de São Leopoldo a uma competição nacional. Desde a morte de seu pai, o militar da reserva e também advogado Helio Dahmer, um fanático torcedor capilé, em abril, sentiu-se ainda mais ligada ao clube com o qual tanto dividiu as atenções ao longo da vida.
— Quando éramos pequenos, por causa do exército, nos mudamos para Manaus. Nunca o Aimoré foi tão famoso nas Amazonas — recorda Cristine.
Helio foi ligado ao Aimoré desde criança. Na juventude, defendeu o clube em campo, como goleiro do time júnior. Na fase adulta, defendeu o clube nos tribunais, oferecendo seus serviços gratuitos no departamento jurídico, após voltar de sua missão no norte do país (e facilitar a missão dos amigos, que precisavam informá-lo sobre os resultados).
Há 20 anos, descobriu uma doença cardíaca que só seria resolvida com um transplante. Sabendo da gravidade, reuniu a família, separou um abrigo do Aimoré e informou:
— É com essa roupa que vou ser sepultado.
Demorou. Apesar do grave problema, conviveu bem com por duas duas décadas. Sem jamais abandonar o Aimoré. Jamais.
— Ele estava na UTI e gravei um jogo do rádio para ele ouvir. Ele precisava saber do time. Cada vez que ganhava, ele dizia: "O Aimoré vai para a Libertadores" — lembra a filha, que acabou sendo responsável pela outra paixão de Helio, a pequena Fernanda, primeira neta, a quem ensinou a cantar em altos brados "Aimoré, Aimoré! Clube do meu coração...".
Em abril deste ano, o coração do clube parou. E Helio vestiu o casaco separado há 15 anos. No crematório, o hino tocou, quase como o cantado pela netinha.
— Agora vamos para a Copa do Brasil. Quem sabe a profecia dele não se confirma e o Aimoré vai mesmo para a Libertadores?