Não poderia ser mais desafiadora a estreia de Arilson como técnico de futebol profissional. Sua primeira partida, à frente do Aimoré, tem o seguinte cenário: domingo, 17h, Estádio Cristo Rei, semifinal da Copa Paulo Sant'Ana, 2 a 0 para o Pelotas no jogo de ida. Para chegar à decisão — e consequentemente a uma competição nacional, Copa do Brasil ou Série D —, tem de vencer por três ou mais gols de diferença ou pelos mesmos 2 a 0 para levar aos pênaltis. Mas nada disso tira seu entusiasmo. Aos 44 anos, Arilson Gilberto da Costa vê na substituição a Fabiano de Borba uma chance de ouro para finalmente deixar a categoria de base, onde acumula ótimos trabalhos com o Aimoré (em todos os campeonatos estaduais que disputou, levou a equipe de São Leopoldo no mínimo ao quarto lugar) e conquistou vaga à Copa São Paulo.
— É a oportunidade que apareceu. Nenhum time que estivesse ganhando iria me contratar, né?
Como foi o convite para treinar o time profissional do Aimoré?
Eles me ligaram e perguntaram se eu queria, disseram que eu tinha estrela e podia reverter o resultado. Mas só aceitei depois que o Fabiano (de Borba) já tinha sido desligado. Acho que me escolheram porque me conhecem, estou aqui há cinco anos. Na base, o time é terceirizado por investidores, mas eles acompanham. Como o campeonato sub-19 está parado, dava para conciliar sem problemas.
Fizeram um contrato para as finais da Copa Paulo Sant'Ana ou é mais extenso?
Que contrato? Não tem contrato. O que tem é um acordo, até o final da Copinha. Pode ser de um ou três jogos...
Como fazer para esse acordo ser de três jogos (precisa vencer o Pelotas por três gols)?
Conversei com os jogadores, é um grupo experiente, alguns até jogaram comigo como o Élton (ex-Grêmio). Temos o (volante) Faísca, o (zagueiro) Luis Henrique, conheço todos. Falei para eles que é possível virar. Dei exemplos de como é possível.
Quais exemplos?
O primeiro que falei foi em 1997, na Copa do Brasil. Pelo Inter, perdemos por 2 a 0 para o Santos na Vila e revertemos no Beira-Rio, fiz os dois gols, daí ganhamos nos pênaltis. O mundo está cheio de exemplos. Não teve uma vez que nós quase perdemos depois de abrir 5 a 0 pelo Grêmio contra o Palmeiras (na Libertadores de 1995)? Levamos 5 a 1 lá. O grupo tem de acreditar que é possível, este é o primeiro passo.
Todos conhecemos o Arilson jogador, mas como é o Arilson professor?
A primeira coisa é que digo para os jogadores não me chamarem de professor. Não sou professor, sou o técnico. Peço para me chamarem de Arilson, só. Sou agitado na beira do campo e gosto de respeitar o ambiente dos atletas. Mas cobro bastante, até porque fui muito cobrado como jogador. Ouço todo mundo, mas a última palavra é minha. Tento pegar o que aprendi de melhor de cada treinador.
Quais seriam eles?
O Felipão e o Celso Roth fazem mais o estilo xerifão, o Nelsinho Baptista já ia mais pelo diálogo. Aprendi demais com o Gregório Manzano no Valladolid e também com o Zagallo, na Seleção. Que bobagem eu fiz (em 1996, frustrado com a reserva, fugiu da delegação que disputava o Pré-Olímpico na Argentina e foi para a Alemanha para jogar a semifinal da copa do país pelo Kaiserslautern, não foi autorizado e rumou para sua casa, em Bento Gonçalves).
Foi uma bobagem mesmo, né?
Foi, cara. Me arrependo. Na época, tinha 21 anos e ninguém para me orientar, diferente de hoje, que todos os jogadores têm assessores, empresários. Claro que não faria nada disso de novo. Entendo o Zagallo, pedi desculpas a ele. Aprendi. Tanto que hoje falo para os jogadores mais jovens: "Não tentem me enganar, tudo o que vocês fazem eu já fiz muito pior".
E qual é o estilo que o técnico Arilson gosta de ver nos times?
Gosto que meus times joguem. Quero que os jogadores marquem alto, pressionem já a defesa do adversário. Organizo a defesa, quero que meu lateral primeiro marque e depois ataque, mas o extrema tem que primeiro atacar para depois defender. Meu trabalho é tirar o melhor de cada jogador. Mas não vou fazer milagre em três dias. Não vou fazer o Aimoré jogar como o Barcelona. Quer jogar como o Barcelona? Ok, então traz o Messi e o Suárez. O que preciso é fazer o Aimoré ser competitivo, se comportar como um time do Interior, com todas as dificuldades que isso traz. E para isso, vamos jogar, vamos encarar o desafio. O grupo é muito bom, muito forte e estão todos confiantes. Disse para eles: "Dependo de vocês para ficar mais aqui".
É teu objetivo treinar no profissional, de repente começar no próximo Gauchão ou na Divisão de Acesso?
É, sim. Acho que dei minha contribuição na base, mas me considero pronto para treinar times profissionais. Estou preparado.