Antes de colocar quimono, se familiarizar com a faixa na cintura e cair nos tatames, Fernando Henrique Bueno Koch sonhava em ser jogador de futebol. A cada final de treino com a bola nos pés, saía do ginásio do Recreio da Juventude para dar uma olhada nos treinamentos de judô. Até que um dia resolveu ver como era e mudou de esporte. Descobriu um dom que o transformou em judoca prodígio. Nesta sexta-feira, aos 16 anos, o caxiense inicia a participação em seu primeiro torneio europeu representando a seleção brasileira e nos próximo dias vai fazer uma espécie de estágio, ambos em Berlim, na Alemanha.
– Essa oportunidade só surgiu porque eu consegui bons resultados em torneios nacionais, como a seletiva de base e o meeting da base. Essas competições somaram pontos para o ranking nacional, e com esses pontos entrei no top 4. Por ser uma competição internacional, o nível vai ser muito grande, mas não há o que temer porque o judô brasileiro já é muito forte. O Brasil tem alguns campeões olímpicos e muitos campeões mundiais – destaca o garoto, que está na faixa marrom.
Desta sexta a domingo, ocorre a última etapa do circuito europeu sub-18, chamada de Estágio Internacional. Depois, nos dias 1º, 2, e 3 de maio, também participa dos treinos de campo. É um intercâmbio entre judocas e estilos praticados no mundo. Até então, ele só conseguia observar atletas europeus ou asiáticos pela televisão.
– Tem um judoca que é inspiração para todos que estão começando, principalmente pela técnica apurada. Era um cara difícil de ser derrubado, o japonês Toshihiko Koga. E tem um outro japonês mais recente, o Shohei Ono, medalhista de ouro na Olimpíada do Rio 2016. Do judô brasileiro, eu gosto muito do Charles Chibana, que é um atleta muito técnico – cita Fernando Koch.
Nem sempre esses japoneses foram seus ídolos. Antes dos 10 anos, ele gostava de Messi, Neymar e companhia:
– Sempre gostei muito de futebol, desde a infância. Era um sonho ser jogador de futebol, mas acabei vendo que não era fácil como se pensa. Aí, eu saía do treino de futsal e vinha aqui para o judô. E comecei a gostar. Descobri um dom.
Um dom que o levou aos tatames da Alemanha e o colocou entre os melhores do mundo.
"Fernando é um menino prodígio", elogia sensei Giovani Cruz
Campeão gaúcho, terceiro lugar no meeting da base e vice-campeão brasileiro regional, Fernando Koch vem de conquistas expressivas em 2017. É o resultado dos treinos puxados com o técnico ou sensei Giovani Cruz, do Recreio da Juventude, que é só elogios ao aluno:
– O Fernando é um menino prodígio. A gente via um talento desde quando ele começou no judô. A sub-18 é uma classe em que a maioria dos atletas acaba abandonando, por estudos ou por festas e tal. E ele ficou focado. É um atleta que tem uma técnica apurada, preparação física invejável, cabeça boa e tem tudo para medalhar em Berlim.
A projeção é que o caxiense chegue ao topo nacional em um ou dois anos, desde que mantenha o foco e corrija alguns detalhes. Hoje, ele é o quarto colocado no ranking nacional na categoria leve sub-18 (até 66kg).
– Ele é extremamente agressivo. A característica dele é pegar na frente e sair atacando. Está sempre buscando o ippon. No campeonato brasileiro regional, ele pegou o número 1 do ranking nacional e venceu por ippon. Depois, fez a final com um judoca do Rio Grande do Sul e perdeu. Mas isso mostra como esta categoria é forte e equilibrada. Eles estão muito próximos. A questão é ajustar os detalhes.
Se for bem na Alemanha e depois no Campeonato Brasileiro, na Bahia, e no Pan-Americano, no México, as chances de garantir vaga no mundial do Chile, em agosto, serão grandes. Para orgulho do sensei e do clube:
– O Recreio da Juventude está muito bem representado no judô. Claro que a Sogipa e o Grêmio Náutico União, ambos de Porto Alegre, estão acima, mas o Recreio da Juventude está voltando a pintar no cenário nacional. A nossa projeção é bem positiva.