A você que gosta de fazer comentários agressivos em reportagens ou que inunda as redes sociais com grosserias, vai aqui uma dica preciosa: reflita muito sobre o que diz. E não faço essa recomendação apelando para seus pruridos éticos, de pensar e respeitar o outro, até porque muitas vezes esses pruridos são escassos. Miro no seu próprio interesse.
Usemos dois clássicos da selvageria nesta era digital: o colorado fazendo troça da "Coligay" e o gremista entoando os cânticos com a palavra "macaco". Perdão pela crueza do que vou dizer aqui, agora: você é um imbecil! Nem digo que seja preconceituoso. É imbecil, mesmo. Burro!
Por quê?
Vamos por partes, como diria aquele sujeito britânico que fez escola para os homicidas e latrocidas porto-alegrenses.
Sobre a Coligay: os colorados que a usam como forma de ofender os gremistas são tão tacanhos que não se dão conta do favor feito ao rival. A cada vez que você usa essa essa suposta desqualificação, está chancelando uma histórica fantástica de respeito às diferenças ocorrida nesse clube que, por acaso, é o meu. Eram anos 1970, época difícil de ditadura. A Coligay é um case de diversidade que deve orgulhar os gremistas, e esses gremistas, quando têm lucidez, recebem o xingamento e agradecem, porque sabem que você está dando um tiro no próprio pé.
Sobre o "macaco": não é à toa que o Inter o adotou como mascote. A cada vez que você diz isso, mesmo sem intenção racista (a esmagadora maioria faz isso como o corintiano que chama o palmeirense de porco. mas o que importa é o significado para o receptor da mensagem), desenha um sorriso no rosto do rival. Longe de mexer com os brios dos colorados, você está lhes dando munição. Quando mais você profere bobagens do tipo, mais eles lhe colam a etiqueta de racista. Você faz um desserviço ao Grêmio, clube de origem plural e forte negritude, que não merece isso.
Feita a tentativa de diálogo lúcido, vamos combinar o seguinte: Grêmio e Inter, juntos, têm algo como 15 milhões de torcedores. Se Porto Alegre tem 1,5 milhão e não consegue erradicar a criminalidade, imagina num universo 10 vezes maior. Há, sim, bandidos de todo tipo. Racistas, homofóbicos, homicidas etc. É o ônus de sermos clubes populares.
O que devemos fazer? Unir-nos para, sem hipocrisias, dar um basta no preconceito, sem a arrogância de se dizer uma inviável e perigosa "raça pura", na qual bandidagens não existem em razão simplesmente da cor de uma camiseta.