Protagonizar reviravoltas em sua carreira deixou de ser novidade para Paulinho faz tempo. Em 2008, ele esteve próximo de desistir do futebol por desilusão. Tinha 20 anos e voltou ao Brasil disposto a abandonar a ideia de ser jogador. Havia passado uma temporada na Lituânia, onde se cansou de ouvir insultos racistas, e outra na Polônia. Por isso, tirou de letra a urgência de renascer no futebol chinês depois das marcas deixadas pelo 7 a 1 e pela passagem decepcionante no Tottenham.
O racismo, isso, sim, foi um golpe. Paulinho, sujeito de boa conversa e boa compreensão do mundo à sua volta, jamais imaginou ter de lidar com as piores atitudes que o ser humano possa ter. Defendia o Vilnus e bastava sair nas ruas para ser xingado ou ouvir sons imitando macaco. Na Polônia, os insultos não se repetiram. Mas o salário era curto e foram seis meses sem jogar, como reserva.
Em 2008, pegou o avião de volta para São Paulo e desembarcou no Pão de Açúcar, hoje Audax, disposto a buscar outra profissão. O Pão de Açúcar havia descoberto o volante em um campeonato infantil na zona norte de São Paulo. Apostava nele, tanto que o mandou para cumprir um projeto de adaptação ao futebol europeu no Leste. Seu clube só não imaginava que os instintos animais de alguns torcedores lituanos implodiam seu projeto de formar um volante de primeira linha.
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O Pão de Açúcar convenceu Paulinho a seguir. Foi preciso usar de muita conversa, já que o projeto oferecido pelo clube era disputar a quarta divisão paulista. Foram dois acessos seguidos. Em um jogo da Série A-3, contra a Penapolense, o técnico do Bragantino à época, Marcelo Veiga, foi ao estádio ver um atacante. Mas se encantou com o volante adversário. Levou-o para Bragança Paulista para a Série B de 2009 e o Paulistão do ano seguinte. Nesse campeonato, destacou-se e foi para o Corinthians, onde brilhou e foi apontado como um dos grandes responsáveis pela Libertadores de 2012, ao fazer o gol da vitória sobre o Vasco nas quartas de final.
Com uma trajetória dessas, resgatar o sucesso no distante (e milionário) futebol chinês foi um desafio suave para Paulinho. O Guangzhou Evergrande pagou R$ 48,4 milhões ao Tottenham em junho de 2015. Não se arrependeu. Assim como fez na Seleção, o volante brilha e decide. Foi dele, por exemplo, o gol do título da Superliga chinesa em 2016. Na largada de 2017, fez dois no 2 a 1 sobre o Beinjing Gouan, de Renato Augusto e Ralf. São 15 gols pelo clube chinês, com o qual renovou contrato até 2020.
Na Seleção, depois dos três sobre o Uruguai, ele se tornou o volante com mais gols. Chegou aos nove e deixou para trás nomes do quilate de Falcão, César Sampaio, Emerson e Dunga, com seis. A atuação em Montevidéu, aliás, foi uma festa para os estatísticos. Nunca um jogador adversário havia feito três gols no Uruguai no Centenário. Nunca, desde 1959, um brasileiro havia feito três na Celeste. O último tinha sido Paulinho Valentim, numa Copa América, em Buenos Aires.
Ao final do jogo, Paulinho admitiu: nem nos melhores sonhos imaginou fazer três gols nos uruguaios dentro de um templo do futebol. Embora, ele não seja muito de sonhar, mas de agir e dar viradas em sua vida. Como aconteceu de novo agora.