Os punhos fechados junto ao peito – a garra da linguagem corporal – e a determinação no olhar do meio Éder depois de um bloqueio matador diante dos Estados Unidos na noite do último sábado serão decisivos na próxima etapa da Liga Mundial.
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No caminho para ratificar o posto de maior vencedora da disputa – arrebatou nove títulos em 26 edições –, a seleção brasileira jogará em Belgrado, a capital da Sérvia, contra os provocativos donos da casa, iranianos e búlgaros entre os dias 23 e 25.
No vôlei, os sérvios já foram comparados aos argentinos no futebol pela capacidade irritante de desestabilizar o adversário. No verão de 1998, acompanhei a seleção na época comandada por Radamés Lattari em uma partida pela Liga em uma Belgrado ainda cingida por guerras que marcaram os 7 mil anos de história da região conhecida como berço da cultura pré-histórica mais importante da Europa.
Dentro de quadra, os sérvios demonstram quase sempre o destemor do lendário Átila, último e mais poderoso rei dos Hunos, que tomou e governou o maior império de seu tempo, no século 3. A cidade de seis pontes sobre os rios Danúbio e Sava foi invadida por 40 exércitos e reconstruída 38 vezes.
Um episódio que denota esta ancestral disposição para a guerra aconteceu fora do ginásio. Teve lugar no elegante lobby do hotel Hyatt Regency de Belgrado. Depois de o cartão do jogador Giba ter sido recusado, o funcionário avisou que a operadora informara o bloqueio. Passou a mão em uma tesoura e comunicou que iria destruí-lo. Solidários com o companheiro e indignados com o olhar enfezado do sérvio, o time brasileiro cercou o balcão, o sempre plácido Radamés voou e tentou segurar o recepcionista. A turma do "deixa-disso" agiu, e um incidente diplomático foi evitado. No fim, nunca se soube se o cartão foi recusado mesmo ou se era birra com Giba.
Ainda que, no ano seguinte, tenha sido bombardeada pelas forças aéreas da Otan devido à guerra do Kosovo, Belgrado a partir de 2000 começou um processo de abertura política e econômica que a consolidou como uma das mais incandescentes cidades do sudeste europeu.
Haverá também muito calor dos fanáticos torcedores sérvios a impulsionar sua seleção, invicta, como o Brasil, neste início da Liga Mundial. São os atuais vice-campeões e trazem no DNA o apetite às vezes mordaz pela vitória.
*ZHESPORTES