Na capital espanhola, conglomerado de mais de 3 milhões de almas, o Real Madrid é o número 1 em popularidade. O rival Atlético de Madrid, que o aguarda na decisão da 61ª edição da Liga dos Campeões, neste sábado, em Milão, no Estádio de San Siro, batizado de Catedral do Futebol pelos fanáticos italianos, é o segundo. O mapa local exibe ainda o lutador Rayo Vallecano, paixão do bairro operário de Vallecas, e o Getafe, agora na Série B. Eles batem nos saudosistas como o São José e o velho Cruzeirinho perto de nós.
Na Espanha, 47 milhões de habitantes, o Real domina o coração da maioria dos torcedores. O vizinho entra numa terceira e distante posição. O Barcelona, o atual campeão nacional e da Copa do Rei, uma sempre bem-vinda dobradinha, vive no meio.
Leia mais:
Liga dos Campeões: saiba tudo sobre a grande final
Luiz Zini Pires: decisão entre Real e Atlético de Madrid testará duas escolas de futebol
Saiba como ver a final da Liga dos Campeões entre Real e Atlético
Nos seis continentes, o abismo entre os dois finalistas da mesma cidade – o título europeu já ficou na mão de 22 clubes distintos de 21 cidades – é oceânico. O Atlético antes lutava com Valência e Sevilla num segundo e apertado bloco, quase sempre distante das grandes decisões e dos maiores títulos. Descolou-se. Embora o Sevilla, um dos times mais copeiros do continente, tenha festejado o título da Liga Europa 2015-2016 .Foi o ótimo futebol da Espanha que roubou e embalou o precioso toque de bola do Brasil dos velhos e quase perfeitos tempos.
É a Espanha a vencedora das últimas edições da Liga dos Campeões, da Liga Europa e da Supercopa da Europa. É a Espanha a nação que mais exporta jogadores e treinadores qualificados.
O Real Madrid brilha como mais globalizado entre os 211 clubes que alicerçam a Fifa. É o mais rico, faturamento de mais de R$ 2 bilhões na temporada passada e pelo 11º ano consecutivo o que mais arrecada.
É o mais popular, 131 núcleos (peñas) de torcidas organizadas em 61 países. Não há nada parecido.
O gigante levantou 10 vezes a “orelhuda”, apelido da taça da Liga dos Campeões. É tão temido que, quando entra no torneio, que gerou R$ 5 bilhões no ano passado, estreia sempre com o selo de “favorito” estampado no peito da camisa branca.
O adversário do decacampeão na partida que fecha a temporada europeia e deixa os telespectadores brasileiros quase hipnotizados é apenas o 15º no ranking dos que mais ganham dinheiro com a bola no pé. Levantou R$ 748 milhões, dinheiro insuficiente, por exemplo, para contratar três estrelas do inimigo, Cristiano Ronaldo, Gareth Bale e o reserva James Rodríguez.
Em fase de crescimento, o Atlético de Madrid é um clube em busca de mais músculos. Quem o vitaminou atende pelo nome de Wang Jianlin. O milionário chinês do ramo imobiliário levou 20% do clube. O custo do naco? R$ 200 milhões. Dinheiro necessário para garantir posto num novo cenário, um lugar mais seguro entre os grandes, sem os altos e baixos que afetam os clubes médios da Europa rica.
Os sócios notaram a nova fase. Cresceram. Passaram de 66 mil para 86 mil e o público no Estádio Vicente Calderón dificilmente baixa dos 50 mil a cada 90 minutos. As vendas de produtos licenciados, camisetas entre eles, cresceram 45% nas lojas, oficiais ou não. A marca global do clube teve um boom de 45%. A consultoria Ibope Repucom observou que 86 milhões de pessoas começam a se interessar mais, bem mais, pelo Atlético em 30 países. No Twitter, os seguidores pularam de 800 mil para 2,2 milhões. Os sinais de robustez estão no ar.
Decisão em Milão une time de craques e equipe de operários.
Os cantos não se misturam. Têm identidade única. “Hala Madrid” (Vamos Madrid) é o grito de uma torcida. “Aupa Atleti” (Viva Atlético) responde a outra.
Quando a bola rolar na castigada grama da final, longe dos padrões exigidos pela Uefa e Fifa, todos os números que colocam os dois finalistas em patamares diferentes, desaparecerá segundos depois do apito inicial como manda a regra do clássico "mata". Um lado ostenta os melhores jogadores, como o craque Cristiano Ronaldo, o outro se ampara no coletivo. CR7 fez 16 gols no torneio. Sozinho. O mesmo número de todo os festejados pelo time adversário.
Com Zidane, o Real Madrid trocou de treinador em janeiro e recomeçou. Ao lado de Diego Simeone, o Atlético Madrid segue uma só ideia desde 2011.
– É a posse de bola – grita Zidane, pupilo do campeoníssimo técnico italiano Carlo Anceloti e que evita comparações com o espanhol Pep Guardiola.
– É a marcação – gesticula Simeone, admirador dos mestres argentinos Carlos Billardo e Marcelo Bielsa.
Um vai atacar, muito. O outro estará de guarda fechada, muito.
Em maio de 2014, em Lisboa, o primeiro encontro da dupla em uma final, o Madrid venceu por 4 a 1, mas na prorrogação. Pegou um adversário extenuado e com jogadores importantes, como Diego Costa, longe da melhor forma. Dois anos depois, o Atlético melhorou, reuniu jogadores mais qualificados – o francês Griezmann é um achado – reforçou o conteúdo do banco de reservas e se escuda na mística de Simeone.
O rival mantém quase os mesmos atletas da última decisão, mas não é máquina vencedora de outros tempos, anos de Ancelotti. As casas de apostas e a mídia têm o seu favorito, o mesmo de sempre. Mas guardam uma reserva. O primo pobre desfila com roupas de classe média. Seu líder, que definiu sua nova fase, acha que pode trocar de andar. Pegar oelevador. Simeone disse aos espanhóis.
– Quem chega ao Atlético sabe que pode jogar. Quem fica, entende que é preciso jogar com o coração.
Real Madrid e Atlético de Madrid farão dois jogos em um: a técnica contra o suor.
*ZHESPORTES