Está nas mãos de um dos principais empresários de Caxias do Sul devolver os tempos de glória ao Juventude. Aos 49 anos, Roberto Tonietto é dono da Rodoil, distribuidora de combustíveis. É ele também quem lidera o processo para transformar as categorias de base em uma fábrica de dinheiro para o Juventude. Parte desse projeto já rendeu frutos e levou o Juventude a sua sexta final de Gauchão. Dos 34 jogadores do elenco que decidirá o campeonato a partir deste domingo, contra o Inter, no Alfredo Jaconi, 17 deles são pratas da casa.
Ao assumir o clube, Tonietto encomendou um levantamento: quanto o clube teria faturado se tivesse vendido os seus principais pratas da casa diretamente para a Europa – e não para clubes brasileiros. Assim, em vez de ter faturado R$ 42,1 milhão, com as negociações de Fernando Menegazzo, Dante, Thiago Silva, Naldo, Ederson e Alex Telles, teria amealhado pelo menos R$ 130 milhões.
– Depois da dupla Gre-Nal, o Juventude é a principal vitrina do Rio Grande do Sul para jogadores jovens. Agora, em uma condição financeira melhor, temos no mínimo 70% dos direitos dos nossos atletas da base. Queremos buscar o grosso do dinheiro quando esses meninos foram para a Europa. O Juventude vai ficar com o maior lucro, e não os outro clubes – anuncia o dirigente.
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Tonietto explica que o Juventude já está formando parcerias com clubes da Suécia, da Alemanha e da Itália, a fim de fazer com que clubes da Série B desses países sejam a porta de entrada dos pratas da casa do Jaconi na Europa.
– Como manteremos grande parte dos direitos econômicos, esses atletas serão revendidos por um valor bem superior ao que conseguiríamos aqui, no Brasil. Além disso, muitos de nossos jogadores têm dupla cidadania, principalmente a italiana, o que valoriza ainda mais o jogador – afirma o presidente do Juventude.
Atualmente, o clube fatura R$ 2,4 milhões por temporada com as transações de seus jogadores da base. Roberto Tonietto entende que, com essas medidas, esse valor subirá 50% até 2018. E poderá dobrar a partir de 2019.
– Esse planejamento está bem estruturado, mas ganhará um grande impulso se conseguirmos subir para a Série B, o nosso grande objetivo para o segundo semestre – diz Tonietto. – Na Série B, teremos os 38 jogos transmitidos pela TV. Hoje, temos somente alguns do Gauchão e da Copa do Brasil. A Série C tem pouca visibilidade – acrescenta.
O atacante Brenner, vendido ao Inter, foi um caso à parte. O Juventude negociou 60% dos direitos econômicos para o Beira-Rio (a transação teria sido acima dos R$ 2 milhões), mantendo os demais 40%.
– Houve a possibilidade de vendermos até um percentual maior, mas estamos apostando no sucesso do jogador e em uma valorização ainda maior, com venda para a Europa – explica Roberto Tonietto.
Terceiro polo de jovens jogadores no Rio Grande do Sul, o Juventude abriga 250 meninos nas escolinhas de recreação, mais 150 nos times de competições, do sub-11 ao sub-14, além de 38 atletas no sub-15, 19 no sub-17 e outros 25 no sub-20. A captação de jovens atletas é feita a cada dois ou três meses em cidades do interior gaúcho e em Santa Catarina. As peneiras são chamadas de Refinarias, e treinadores da base viajam para acompanhar in loco os testes. Além disso, o Juventude é a grande vitrina para os garotos dos 92 municípios da Serra (uma população de 1,5 milhão de habitantes). O CT do clube, no Parque Oásis, conta com quatro campos oficiais, mais dois sintéticos, no ginásio. É lá que funciona a fábrica de craques do Juventude. Nos alojamentos do Jaconi, vivem 20 meninos que atuam na base.
– Também recebemos jogadores de empresários. Anos atrás, com o clube cheio de dívidas (que chegaram a R$ 25 milhões), não tínhamos o que fazer, e o clube acabava ficando sem nada quando o atleta era vendido. Agora, com uma condição melhor, ficamos com pelo menos 70% ou 80% desses jogadores que chegam via empresários – conta Tonietto.
O ex-volante Lauro é o atleta com o maior número de partidas oficiais pelo Juventude: 572 – sem contar as conco temporadas de jogos pelas categorias de base, onde começou aos 16 anos. Símbolo do Juventude, ele entende que a excelência na formação de pratas da casa já começa na escolinha do clube.
– Muitos dos jogadores lançados pelo Juventude estavam no clube desde as escolinhas. O Juventude é um clube família, comunitário, e isso se reflete na formação dos garotos. Os jogadores são tratados com carinho, com respeito, e aprendem a gostar do clube – aponta Lauro.
Para o ex-jogador, que passou quase 20 anos como atleta do Juventude, o clube de Caxias do Sul leva outra vantagem sobre os clubes grandes.
– O principal trunfo do Juventude é não ter a pressão da dupla Gre-Nal por ganhar títulos na base. Assim, se pode trabalhar com calma, desenvolver bem o atleta. O foco é a formação de um jogador extremamente profissional, de um cidadão. Aqui, os pratas da casa têm respeito pela camisa que vestem e, depois, levam isso adiante, para outros clubes – comenta o volante campeão gaúcho de 1998 e campeão da Copa do Brasil de 1999.
Com um orçamento anual de R$ 9 milhões (contra R$ 312 milhões do Inter e R$ 221 milhões do Grêmio), o Juventude mantém uma folha espartana no futebol: R$ 250 mil mensais. O teto salarial é de R$ 17 mil. Nessa sexta-feira, os salários foram colocados totalmente em dia, de olho na final do Gauchão. O quadro social, com 4,4 mil torcedores em dia, representa mais de R$ 200 mil por mês no caixa do clube. Os patrocínios na camiseta geram pouco mais de R$ 100 mil em publicidade, enquanto que o Profut custa R$ 35 mil a cada 30 dias para o Juventude. A FGF repassa R$ 1 milhão para que o clube dispute o Estadual – valor que o Juventude acha baixo demais, uma vez que recebe o mesmo que clubes que fecham as portas no segundo semestre.
– Temos um orçamento enxuto. O Antônio Carlos, por exemplo. Não podemos pagar o que ele vale. Mas veio pela projeção que o Juventude oferece. Antes do nome de um treinador, por exemplo, traçamos o perfil. Para trabalhar aqui, o profissional precisa gostar de jogar com a gurizada. Somos um clube formador e precisamos desse tipo de treinador, não daqueles que só gostem de jogar com velhos – afirma o dirigente.
Após as finais, o Juventude negociará até quatro jogadores – não está descartada também a contratação de Antônio Carlos por um clube de Série A. Antes disso, porém, Tonietto acredita que o bicampeonato seja possível:
– Temos condições de repetir 1998 (quando o Juventude foi campeão em cima do Inter). Para um clube como o Juventude, com um orçamento 20 vezes menor do que Inter e Grêmio, ganhar o Gauchão é preciso que se forme a tempestade perfeita, que tudo dê certo nas finais. E, olhando pra o horizonte, vejo essa tempestade se formando.
* ZH ESPORTES