Há 111 anos, o clássico Gre-Nal mexe com os mais distintos tipos de torcedores: os confiantes, os pessimistas, os que fingem que não se importam com futebol, os que não perdem um jogo e até aqueles de ocasião. Gremistas e colorados esperam ansiosamente para enfrentarem os maiores rivais. Afinal, um jogo como esse, como diz a máxima, pode arrumar ou desarrumar uma casa. A partida desta quarta-feira (23), a 427ª na história do duelo, é válida pela Libertadores, a segunda na competição, mexe ainda mais no âmago de azuis e vermelhos. GZH conversou com um torcedor ilustre de cada lado, Eduardo Bueno, o Peninha, gremista, e Fabricio Carpinejar, colorado, para que relatem as expectativas e as ansiedades para o jogo desta noite.
— Eu não consigo pensar em outra coisa.
Foi assim que o escritor Fabrício Carpinejar atendeu ao telefone na manhã de terça-feira (22) direto da sala de sua casa em Belo Horizonte, onde irá assistir ao Gre-Nal da noite desta quarta, quando a reportagem de GZH ligou para ele. O clássico é assim, monopoliza a vida de 99% dos gaúchos, espalhados de sul ao norte do Brasil. Algo praticamente inexplicável para quem não é ou não convive nos pagos do Rio Grande do Sul. Esse talvez seja um pouco diferente porque pode acabar modificando os rumos da história recente do duelo entre Grêmio e Inter, a invencibilidade tricolor já chega a nove partidas, a última vitória colorada foi ainda em setembro de 2018, quando Edenilson marcou no triunfo por 1 a 0 no Beira-Rio. Até por isso, Carpinejar aponta que o favorito é o time da Arena.
— A maquiagem, a soberba, o salto alto é todo do Grêmio. Queremos ganhar, mas eles são os favoritos. Somos os azarões desse jogo. Somos os vira-latas e eles são os dobermans. O Coudet já entendeu a importância do Gre-Nal. A gente vai tentar manter a liderança na Libertadores, queremos ganhar, mas os favoritos são eles. Vai ser um jogo tão fechado, calculado, que será uma partida aberta. A gangorra pode virar um escorregador — disse o escritor.
Apesar da reticência para a partida desta noite, Carpinejar praticamente já desenhou o seu desfecho para o jogo do Beira-Rio. Com um velho conhecido da torcida colorada, quase como um apogeu a uma trajetória que pode chegar a 500 jogos no duelo contra o Grêmio, praticamente de uma forma cabalística.
— É o Gre-Nal do mistério. Eu acredito que vai ser o 10º gol do nosso camisa 10 no jogo em que ele completa a marca de 500 partidas. São caprichos do destinos que só um Gre-Nal é capaz de nos proporcionar. Basicamente, como o Fernandão fez no gol 1000 — finaliza.
O placar? Esse, Carpinejar não tenta arriscar. Nas palavras dele, é mais fácil ganhar a Mega-Sena, acumulada desde 5 de setembro, do que acertar o resultado do jogo de hoje.
Se por um lado a invencibilidade gremista de dois anos no clássico passa a responsabilidade de favorito para o Grêmio, o torcedor gremista, mesmo com a má fase recente da equipe, vive em um clima mais leve para o jogo desta noite. As cinco vitórias e os quatro empates passam uma tranquilidade para o lado azul do Estado. Por isso, Peninha tratou até com certa ironia o confronto desta quarta e relembrou a ausência de Paolo Guerrero no lado colorado, que ainda não marcou contra o maior rival.
— Eu tô preocupadíssimo com esse Gre-Nal, por causa da ausência do Guerrero. Ela reforça muito o tradicional rival e isso me preocupa — disse em tom de brincadeira, e completou:
— A ausência do Cavani no Grêmio, acho que ele está lesionado, também me deixa aflito para o jogo.
Mesmo com a possibilidade de inúmeros desfalques do Tricolor no clássico, como Geromel, Maicon e Jean Pyerre, nenhum deles confirmados para entrar em campo a partir das 21h30min, o escritor e historiador mantém o otimismo e a confiança para um resultado positivo pela quarta rodada da fase de grupos da Libertadores.
— Para mim, o placar do Gre-Nal é 1 a 0 para o Grêmio, com gol contra do zagueiro "bola nas Cuesta" (fazendo referência ao zagueiro colorado) — afirmou Peninha, aos risos.
A vitória ou a derrota no segundo clássico da Libertadores pode mudar o rumo da história tricolor. Mais um triunfo contra o principal rival, um possível 10º sem perder, faz com que o clube encoste no Inter na liderança do grupo E da competição sul-americana e retome parte da confiança para o restante da temporada. E uma derrota pode botar fim a um ciclo vitorioso que começou em 2016, quando Renato Portaluppi voltou ao Tricolor, botando o time no caminho das conquistas novamente.