A violência dos vândalos do River contra o ônibus do Boca, que resultou no adiamento da decisão da Copa Libertadores, preocupou mais os dirigentes da Conmebol pela presença do presidente da Fifa no estádio do que pelos prejuízos causados a uma das equipes ou porque era mais um vexame envolvendo a instituição que dirige o futebol sul-americano. Gianni Infantino, o homem da Fifa, até pela posição que ocupa, certamente deve saber que os hermanos são desordeiros contumazes e mega-reincidentes em confusões dentro e fora do campo.
Só para recordar, uma dos maiores vergonhas ocorreu na Copa de 1966, no jogo entre Inglaterra e Argentina. O capitão argentino, Antonio Rattin, se descontrolou, discutiu com o juiz, acabou expulso, mas demorou quase 20 minutos para deixar o campo e ao sair, cometeu a descortesia de amassar uma bandeirola inglesa. Foi saudado com vaias estrepitosas e gritos de "animais, animais".
O histórico de violência dos argentinos contra os europeus marcou o Mundial de Clubes, especialmente na década de 1970, quando o título era decidido em jogos lá e cá entre os campeões continentais. Naquela década, dos 10 torneios, em sete os campeões europeus se recusaram a jogar na América do Sul ou não houve competição pelo mesmo motivo.
Vale lembrar ainda, entre outras ocorrências, a Batalha de La Plata, o jogo Estudiantes x Grêmio em 1983, que colocou em risco a vida dos representantes brasileiros. E, mais recentemente, pela Libertadores de 2015, foi a torcida do Boca que lançou spray de pimenta contra os jogadores do River no intervalo da partida. O Boca acabou punido com a desclassificação. O episódio deste ano seria o revide pela agressão de 2015, só que a Conmebol perdeu toda a autoridade para agir com o rigor necessário e pôr fim a essa bagunça que privilegia o extracampo em detrimento do futebol.
Se me permitem a sugestão, acho que está na hora de o papa Francisco, argentino e aficionado torcedor do San Lorenzo, entrar em campo e rogar pela pacificação das hinchadas do vizinho país e por ações confiáveis, disciplinares e competentes dos diretivos. Se nem isso resolver, lamentavelmente acabará de vez aquela derradeira possibilidade de solução: a de se queixar para o Papa. Aí será a vitória definitiva da barbárie.