Dois dias da semana futebolística mais importante do ano para Buenos Aires foram o suficiente para mudar a gangorra dos atacantes dos principais times argentinos. Ídolo da torcida do River Plate, Ignacio Scocco foi engolido por Geromel e Kannemann, do Grêmio. Relegado a reserva do Boca Juniors, Dario Pipa Benedetto terminou o dia como herói após fazer os dois gols da vitória sobre o Palmeiras.
A verdade é que Benedetto é um ídolo na Bombonera. Quando foi anunciado seu nome no telão do estádio, na apresentação dos jogadores, recebeu mais aplausos até do que Carlos Tévez. Porque tem uma relação intensa com a torcida. Desde sua chegada, em 2016, foi responsável por 37 comemorações em partidas oficiais, em 51 partidas. A cada duas horas, praticamente, o centroavante sobe o alambrado e vai vibrar com os loucos que ficam atrás da trave. Mas também se passou com ele uma das mais tristes histórias recentes.
Antes, porém, voltemos ao começo da carreira. Benedetto fez categorias de base no Arsenal de Sarandí. Como profissional, rodou por Defensa y Justicia, Gimnasia de Jujuy e retornou ao clube da adolescência. Negociado com o futebol mexicano, passou por América e Tijuana. E, então, chegou ao Boca. Na primeira temporada, fez 26 gols em 33 jogos. Na segunda, seguiu artilheiro. Mas na noite em que deixou seu nono gol em 11 partidas, contra o Racing, na Bombonera, sofreu uma das piores lesões que um atleta pode ter. Era 19 de novembro de 2017. Em um lance na área, despencou já com as mãos no joelho. Havia rompido ligamento cruzado. Pouco antes, havia sido convocado por Jorge Sampaoli e era figura quase certa na Copa do Mundo. Fim de sonho para o atacante então com 27 anos.
Benedetto não desistiu. Após a cirurgia, iniciou tratamento e partiu para a recuperação. Fisioterapia, treino e insistência, enfim, lhe devolveram aos gramados em 30 de agosto, entrou em campo contra o Libertad, pela Libertadores. Mas estava claramente descontado. Sem ritmo, observa do banco a disputa por uma posição no ataque. E ganha alguns minutos. Pois na quarta-feira (24), 339 dias depois daquela lesão contra o Racing, Benedetto voltou a fazer gols. E não esqueceu de quem tanto lhe ajudou no tratamento.
— Ele foi fundamental na recuperação, não só como fisioterapeuta. Foi também psicólogo e amigo. Aguentou meus desânimos. Sou muito grato ao que ele fez por mim — declarou o centroavante, ao explicar a comemoração do gol contra o Palmeiras em um caloroso abraço com o fisioterapeuta Sergio Brozzi.
Para o jornalista Matías Milla, repórter do jornal Clarín, a noite de quarta foi a consagração do retorno do centroavante:
— Foi um prêmio a um tempo de espera que teve altos e baixos, lesões como obstáculos, prazos que sempre pareciam demorar mais, mas que nunca quebraram sua confiança.
E foi premiado por isso. O presidente do Boca, Daniel Angelici, anunciou:
— Benedetto ganha por gols feitos, mas decidi lhe dar um presente. Os gols contra o Palmeiras serão pagos em dobro, pela importância.
Mas enquanto Benedetto termina a semana dos jogos de ida como um novo herói do Boca, o até então neoídolo do River Plate, Ignacio Scocco, autor de 26 gols em 53 jogos pelo time do Monumental de Núñez (quase um a cada duas partidas), terminou a partida diante do Grêmio sem deixar qualquer saudade na torcida. Não chegou a ser propriamente vaiado quando deu lugar a Pratto, mas ninguém lamentou a troca.
Porque Scocco, contra o Grêmio, viveu um dia dos seus tempos de Inter. Sem inspiração e sem transpiração, não conseguiu superar a dupla de zaga da equipe gaúcha. E nem pareceu se importar tanto. Deu a impressão de ter repetido sua justificativa para não ter ido bem em Porto Alegre: faltou-lhe adrenalina.
— Foi um dos mais frouxos do River. Com a bola no ar quase todo o tempo, não conseguiu jogar. Sofreu porque não teve a bola no chão e também não procurou se desmarcar para abrir espaços — analisou o jornal La Nación.
O atacante, porém, ainda goza de grande confiança de Gallardo. O treinador lhe tirou da partida contra o Aldosivi, marcada para a tarde de sábado (na qual o River usará apenas reservas). Sinal de que jogará na Arena.
— Ele é importante para o time. Tem números muito bons. Talvez lhe pese a incerteza da titularidade, já que o River pagou caro para ter Pratto. Mas não há dúvidas de que se trata de um grande jogador — pondera o repórter Leandro Alves, do canal Fox Sports da Argentina.
O mundo do futebol girou rápido para Scocco e Benedetto.