O Inter intensificou a busca por psicólogos do esporte para trabalhar com os jogadores. A falta dessa figura foi apontada como um dos fatores para o insucesso da equipe em competições recentes. Mas, afinal, o que faz esse profissional? Os especialistas respondem.
Segundo Pedro Sá, psicólogo especializado em alto rendimento, a função desse profissional é basicamente preparar o atleta para lidar com todas as cargas psicológicas que a modalidade pode trazer. Esse trabalho pode se dar individualmente com o jogador ou de forma conjunta. As sessões individuais normalmente partem por interesse do atleta.
— No caso do futebol, e mais especificamente dentro de um clube, o papel do psicólogo é capacitar estes atletas comportamental e emocionalmente para a carga que passam, seja nas rotinas de treinos, nas viagens, nos jogos, no lidar com as pressões exercidas sobre eles, e aqui entram a autocobrança, a pressão da torcida adversária e sua própria, por exemplo. O psicólogo atua em tudo o que perpassa a emoção e o pensamento deste jogador — completa Pedro.
São tratados assuntos como a relação com o grupo e com a comissão técnica, em como lidar com suas performances após um jogo ou treino, no trato com a mídia, manter a cabeça boa mesmo com a saudade dos familiares, entre outros. Em clubes cuja cultura já estabelece a presença de um psicólogo, é possível avançar a pontos específicos, tipo auxiliar na hora de cobrar pênalti.
— Psicólogo e atleta estabelecem uma rotina para o pênalti, fazendo o jogador ter mais controle deste momento que é altamente ansiogênico. O atleta pode focar somente no movimento do corpo, para a cobrança, o que diminui a margem de erro.
Pedro Sá lembra que o River Plate conta com Pablo Nigro, psicólogo do clube há mais de 15 anos. Ele é um case de sucesso e costumeiramente lembrado por sua atuação em 2014, antes de um clássico contra o Boca. Naquele dia, montou um vídeo com as esposas e outras pessoas importantes para os jogadores para motivá-los, e ainda trabalhou com o marketing do clube para decorar o vestiário com bandeiras e colocar mensagens de torcedores junto às músicas da torcida.
— A importância do psicólogo se dá na identificação das necessidades do grupo de atletas. A partir daí, prepara-se um trabalho de fortalecimento mental para todos os obstáculos que o esporte de alto rendimento traz. Ele é uma instância tão relevante quanto a comissão técnica, o departamento de nutrição, de fisiologia — finaliza.
O psicólogo do esporte Lucas Bajerski, cofundador do Sportelogia, um portal especializado no tema, aponta outros benefícios. Atuando em esportes eletrônicos, nas equipes Loud e no MIBR, faz acompanhamento diário das equipes e analisa as demandas das equipes.
— Resolvo conflitos, trabalho habilidades psicológicas específicas, como confiança, concentração e resiliência e dou suporte para questões da vida pessoal dos atletas. Antes do jogo, temos um ritual de preparação, fazemos uma análise após as partidas para compreender o que ainda precisamos aprimorar e executamos a maior parte do trabalho durante a rotina de treinos, com conversas individuais e em grupo — explica.
Essa busca intensificada no Inter tem apoio do técnico Roger Machado. O treinador, em entrevista coletiva, declarou:
— Sou um cara da ciência. As coisas do futebol são multifatoriais. Envolve psicologia, algumas áreas das ciências sociais.
Em um esporte definido pelos detalhes, a psicologia se provou grande demais para ficar em segundo plano. Ainda mais para um clube que ficou tão traumatizado pelas derrotas recentes, quase todas em casa.