Nos próximos meses, os torcedores devem ver mais novidades no time principal do Inter. Seguindo o projeto do clube de melhor aproveitamento da base, novos nomes devem receber oportunidades de Coudet, para além de Anthoni e Gabriel Carvalho, figuras já habituais nas escalações. Destaques como Yago Noal, Luis Otávio, João Dalla Corte e Ricardo Mathias serão chamados para jogos, de acordo com o diretor de transição e formação do Colorado, Jorge Andrade.
O dirigente, de família colorada, está de volta ao clube após seis anos, nos quais esteve em Santos, Athletico-PR, Figueirense e Sport. Neste tempo, Andrade realizou funções diferentes, encontrou realidades variadas e, segundo ele mesmo, teve um aprendizado fundamental para o futuro.
Em entrevista a GZH, o diretor falou sobre os desafios no Inter, citou a relação com Magrão, elogiou Coudet pelo aproveitamento e explicou a metodologia que pretende implantar. Confira a seguir.
Como foi esse retorno ao Inter?
Tinha recebido o convite no ano passado, mas não podia deixar o Sport naquele momento, no meio da temporada, em respeito ao clube, à direção e à comissão técnica. No início do ano, após a eleição, me apresentaram o novo modelo. Pelo fato de ser o Inter, de voltar para casa depois de seis anos, por minha família, aceitei o desafio. É uma função diferente das outras, como diretor de transição e formação. Pela ótima relação com Magrão, consigo transitar com ele e com o (diretor de Gestão e Jurídico) Felipe Dallegrave diariamente. Não tem qualquer bloqueio, pelo contrário, tem um incentivo para integração. Contamos com o trabalho de coordenação do PC Oliveira e do Julinho Camargo.
Qual é a diferença entre as funções deles?
Julinho é o coordenador técnico, tem uma visão de contato com o treinador. O Inter tem uma tradição de formar treinadores, podemos citar Osmar Loss, André Jardine, Lisca, Guto Ferreira e o próprio Julinho. Então ele faz esse contato, dá apoio e estimula. O PC é coordenador técnico e metodológico, que cuida da parte mais pedagógica com os treinadores. Faz o desenvolvimento de conteúdo de parte técnica e tática, para ser trabalhado ao longo da semana. E todos participamos juntos de processos de captação e contratação de atletas.
Como funciona esse projeto?
Contratações de meninos mais velhos envolvem o Capa, que participa das contratações do sub-20. Os demais são de captação da base. Temos observadores em RS, SC, PR, Nordeste, Centro-Oeste e São Paulo. Queremos fortalecer a captação na Região Sul. É o nosso quintal. Queremos estar próximo das comunidades de Porto Alegre e Região Metropolitana, para que não nos escapem jogadores como Raphinha, do Barcelona, que começou no Avaí. E precisamos ir nestes bairros, comunidades, regiões porque não são todos os que podem vir ao clube, pagar passagem, deslocamento. É nossa função achar esses jogadores.
Esses olheiros, digamos assim, são de consulados...?
São pessoas contratadas pelo Inter. Têm de criar um network, contato com comunidades, escolinhas, competições, avaliações. Acompanhar torneios de futsal, por exemplo.
Aliás, sobre isso. Quando o Inter contratou o PC, pareceu uma aproximação do futsal, pela história dele. É isso mesmo?
Sou um fã de carteirinha de futsal como iniciação esportiva para o futebol. É fundamental. No Santos, isso é muito forte. Todos os craques brasileiros passaram pelo futsal. É a modalidade para ser iniciado no futebol. Tínhamos um projeto assim no Inter na minha última passagem, em 2018. Junto com Ortiz, criamos um projeto com as categorias menores, sub-12, 13, que treinavam futebol e futsal, no ginásio de Alvorada, e disputávamos o Estadual. Fomos campeões de todas as categorias. Não sei porque isso foi encerrado. A vinda do PC também envolve nos ajudar nesse projeto de futsal. Temos um projeto para retomar, já conseguimos novamente o ginásio de Alvorada, PC está desenvolvendo o planejamento de treinos, diferença de pisos, bola. Precisamos estimular o desenvolvimento motor. As crianças estão fazendo cada vez menos esporte, ficando cada vez mais em casa. E esse problema está caindo para os clubes resolverem. Não é nossa ideia ter um time de futsal adulto, mas sim utilizar a ferramenta de futsal para o futebol.
Quantos guris da base vocês preveem receber oportunidades no profissional?
Não tenho um número, mas alguns meninos estão aparecendo. Temos uma geração 2006/07 muito boa. São jovens e estamos oportunizando. Coudet tem uma metodologia de trabalho em que sempre pede, duas vezes por semana, 10 jogadores para treinar com o profissional. E isso tem sido muito bom porque ele vê os meninos diretamente. Não é só por relatório. Gabriel Carvalho, Ricardo Mathias, Yago Noal, Luis Otávio, que jogaram a Copa São Paulo, vêm se destacando. Temos de ter tranquilidade e paciência com os meninos. Para que quando eles forem, o treinador possa ter consciência dele. É isso é o que faz o treinador levar para os jogos do profissional.
O que faz sabermos se um jogador está pronto?
É o treino. Por isso é tão bom esse processo. O treinador avalia diretamente. Coudet é ótimo nesse ponto, um parceiro. Tudo fica mais fácil em um momento de vitórias. Quando ficamos um tempo maior sem ser campeão, aumenta a pressão. E precisamos ter mais cuidado para não queimar o guri. Esses meninos fizeram trabalho especial, porque estavam com índices abaixo. E isso deu reflexo. Essa chegada deles e os treinos com o profissional foi importante para eles. Estão melhorando níveis de força, volume, para chegar melhor no time de cima, conseguir acompanhar o ritmo do treino.
Como são esses treinos?
É o que temos visto. Como Coudet conhece todos os meninos, sabe como são. Conseguimos implantar essa cultura nos jogadores. Eles têm de estar prontos para treinar. O nível de competitividade nos treinos é absurdo. Por isso precisam estar preparados. Cada vez mais vamos oportunizar meninos a estar no time principal.
O Inter tinha o projeto Aprimorar, comandado pelo Ortiz, de desenvolver tecnicamente os jogadores. Existe possibilidade de retornar?
Magrão e eu sempre conversávamos, mesmo antes de vir para o Inter, sobre essa necessidade de melhorar os jogadores individualmente, criar um plano de desenvolvimento. Ampliar essa visão do atleta como um todo. Depois que identificamos as carências, traçamos um plano de ação. Teremos uma nova metodologia. Vamos ter treinos específicos para aquilo que precisa melhorar. Técnica e taticamente. Gerar um grande diagnóstico e desenvolvê-lo nisso.
Nesse mundo de números e narrativas, o que vale mais a pena, pegar um jogador para última categoria, já quase pronto, e contá-lo como "base" ou encontrar alguém desde criança, desenvolvê-lo, enfrentar as dificuldades de todas as idades?
Na minha avaliação, quanto mais jovem, melhor. Porque vai criar raízes, ter o DNA do clube. Mesmo se não for gaúcho, vai virar colorado. Isso é fundamental para um guri da base que vai até o profissional. Mas não significa que não tenha de ter uma prospecção de atleta semipronto. Precisa estar atento ao mercado. Há 15, 20 anos, o Inter era muito forte nisso. E quase ninguém mais fazia. Hoje, o Flamengo, o Bahia, o Athletico-PR têm projetos disso. E captam para todas as idades. O Grêmio também faz isso. Mas eu, particularmente, acredito no desenvolvimento do jogador. Por isso tem de ter plano de desenvolvimento, melhorar o jogador. Porque senão abandonaria todas as idades e faria só sub-17 e sub-20. Não é o ideal. Alguns nomes já são assim. Gabriel Carvalho e Anthoni estão desde os oito, nove anos no Inter. Chegaram a participar do futsal. Olha a identificação deles com o clube. A ligação. O Inter é uma academia, tem de formar, colocar conteúdo no jogador.