Os tempos hoje são outros. Vestir o recém-nascido com a roupinha do clube do coração ficou no passado. Estampar na porta do quarto que ali tem um novo torcedor se tornou quase arcaico. Sair da maternidade para o cartório e de lá para o estádio para que surja um novo associado está obsoleto. Agora, a prova de fanatismo (dos pais) surge antes do nascimento. É possível fazer a associação pré-natal.
Foi o que fez o casal Nelito e Kelly Molon. Moradores de Santa Catarina, vieram a Porto Alegre para o empolgado marido pegar sua carteirinha de sócio. A visita ao Beira-Rio também registrou o novo colorado Noah, programado para se juntar à torcida do Inter em maio.
É de se pensar que se trata de um casal de dois colorados fanático. Ledo engano. Kelly é gremista. A carteirinha sai com foto e tudo. Um exame de imagem entra no lugar da tradicional 3x4. No caso do novo coloradinho, aparece em uma ecografia 3D.
— Ter um filho é algo que transborda. Assim que vim a Porto Alegre, fiz minha contribuição ao clube. Meu amor pelo Inter também transborda. É uma sensação incrível — explica o empresário de 43 anos.
Pode-se imaginar que pai e mãe travaram um cabo de guerra para definir o time daquele que chamam de pequeno milagre, já que tiveram dificuldade para engravidar. Outro engano. A decisão foi mais pacífica do que a oração de um monge tibetano.
— Sei a importância dessa relação de pai e filho irem juntos ao estádio. Não só aceitei como apoiei — revela a empresária de 38 anos.
A benevolência de Kelly deve ser um caso isolado, você pode imaginar. Outro equívoco. A bancária gremista Bruna Brock, 37 anos, foi o elo para a filha ser sócia colorada.
Ela foi o ele entre a empresa e o marido antes do nascimento de Sofia, hoje com nove meses. O casal estava no hospital quando recebeu uma caixa de presente. Dentro do pacote, entre outros mimos, estava a carteirinha de sócia dela.
— Sou sócio desde que nasci. Foi emocionante. Estávamos no quarto. Eu queria associá-la antes de nascer, mas na correria me esqueci. Ganhei uma companheira para ir nos jogos no futuro — conta o pai, o gerente comercial Andreas Evremidis, de 41 anos.
Ele quer passar para Sofia a paixão recebida do pai. Filho de um grego que, ao chegar a Porto Alegre, escolheu o Inter como clube do coração.
A chance de associar bebês ainda na barriga da mãe faz parte da modalidade Coloradinho, disponível para crianças de até 11 anos e 11 meses de idade, com mensalidade de R$ 6,87. Dos quase 140 mil sócios colorados, 10,7 mil fazem parte deste programa.
— É uma brincadeira que se já pode ser colorado antes de nascer — explica o vice-presidente de marketing colorado, Nelson Pires.
Como a carteirinha precisa ter uma "data de nascimento", não é possível contabilizar quantos sócios pré-natais existem — acaba-se colocando o dia da associação como a data de aniversário, após o nascimento há um ajuste na data. Tudo para que em vez de dizerem que o filho(a) torce para o Inter desde o berço, mostrar orgulhoso que a torcida começou ainda na barriga da mãe.