Morreu, nesta quinta (23), aos 94 anos, o treinador de futebol Rubens Minelli. Ele teve uma forte relação com o Rio Grande do Sul. Primeiro, comandou o Inter entre 1974 e 1976. Depois, esteve à frente do Grêmio em duas oportunidades — 1985 e entre 1988 e 1989.
No Colorado, ele obteve 153 vitórias e 44 empates em 217 partidas, além de ter levado a equipe do Beira-Rio ao título brasileiro em duas ocasiões (1975 e 1976). No Tricolor, foram 97 jogos, com 52 vitórias, 29 empates e 16 derrotas, com a conquista do Gauchão em 1985.
Do lado do Inter, Minelli foi muito próximo a Paulo Roberto Falcão, ídolo colorado. Em entrevista ao programa Esporte & Cia, da Rádio Gaúcha, o ex-camisa 5 das conquistas brasileiras falou sobre o treinador e sobre os anos em que eles dividiram os vestiários do Estádio Beira-Rio. Confira abaixo trechos da entrevista:
Falcão, o que falar sobre Rubens Minelli?
Rubens Minelli é uma figura de muita importância no futebol. E vai ser sempre. Deixou um legado em todos os clubes que passou. Foi um inovador em termos de futebol no Brasil. Sempre que penso nele, lembro da injustiça que foi não terem chamado ele para o comando da Seleção na Copa de 1978. Um cara que é bicampeão brasileiro em 1976, pelo Inter, e tricampeão em 1977, pelo São Paulo, tinha que ser o treinador da Seleção.
O futebol do Rio Grande do Sul passou a ser respeitado em dois momentos. Quando o Inter foi campeão brasileiro. E, depois, quando o Grêmio de Felipão ganhou bastante. Sempre fomos marcados por ter um futebol de marcação e força física, mas não era assim. Tinha que ter qualidade pra fazer isso. E Minelli provou isso. Ele passou a ser respeitado ao ganhar dois campeonatos com o Inter. E se alguém duvidava dele, depois ainda foi campeão brasileiro com o São Paulo. Conseguiu ganhar três títulos seguidos por dois clubes diferentes. Mesmo assim ele não foi chamado pra comandar a Seleção. Essa é uma injustiça tremenda que não será mais possível reparar.
Como foi a tua relação e a dos demais jogadores daquele elenco bicampeão brasileiro com o Rubens Minelli? O que ele ensinou para vocês? Como era a forma de trabalho dele?
Ele chegou depois do Dino Sani, que estava aqui há muito tempo. Ele fez uma renovação naquele período. No Gauchão daquele ano, o Inter foi campeão com 18 vitórias consecutivas. Ele passou a fazer a marcação homem a homem, isso era improvável naquela época, quando só se marcava por zona. Era fácil trabalhar naquele time, pois tinham muitos jogadores inteligentes no elenco, o QI era alto.
Sempre que penso nele, lembro da injustiça que foi não terem chamado ele para o comando da Seleção na Copa de 1978
PAULO ROBERTO FALCÃO
Ídolo colorado
Ele era pescador e contava muitas histórias engraçadas. Na época se jogava uma vez por semana e os treinos costumavam ser quinta, sexta e sábado. Ele gostava muito de trabalhar escanteios. O Inter fez muitos gol assim, com Valdomiro cruzando e Figueroa cabeceando. Ele também tinha preocupação em mostrar alguns vídeos dos outros times para estudarmos os adversários. Mas era um time que tinha muita força física e muita organização. Somando tudo isso, o time só tinha como ser vencedor.
Qual era o estilo de jogo do Minelli?
Equilibrado. É o que penso também. Futebol tem que ser equilibrado, Quando tem a bola no pé, tem que jogar. Não tendo, tem que buscar. Essa é a essência do futebol.
E você percebe que teve algum jogador que foi lapidado por Minelli?
Acho que o jogador que ele lançou e gostava muito foi o Caçapava. Ele lançou o Caçapava em uma viagem pela Europa, se não me engano em 1974. O Caçapava jogava mais pra frente nas categorias de base e quando subiu para nosso time, o Minelli colocou ele como volante. Deu muita força para o Caçapa.
Há quem compare o estilo de jogo do Minelli com o futebol total, do Ajax. Você concorda com isso? Sentiu de fato uma inovação tática, principalmente na composição do meio de campo?
Em 1974, o Minelli inovou com a marcação homem a homem, individual, coisa que ninguém fazia. Nosso laterais marcavam os dois pontas do adversário. O nosso zagueiro, que era o Pontes, ou as vezes o Emílio, marcava o centroavante. O Figueroa sobrava. No meio-campo era eu e o Paulo César Carpegianni, e o Escurinho como terceiro. Pra encaixar no tripé do adversário. Com um volante e dois meias. E lá na frente três atacantes.
Quando o Marinho Peres veio para o nosso time, depois de ter passado pelo Barcelona e ter enfrentado a Holanda do Rinus Michels, ele agregou muito ao nosso time. Minelli adorou isso. A linha de impedimento era fantástica. Nas faltas laterais, a defesa saia e deixava o adversário impedido.
Colaborou: Leonardo Bender