O futebol brasileiro perdeu, nesta quinta-feira, um de seus ícones. Rubens Minelli não resistiu ao tratamento de uma infecção em São Paulo e morreu aos 94 anos. O técnico que abriu o caminho do Brasil ao Rio Grande do Sul, sendo bicampeão nacional pelo Inter, deixa um legado de evolução do esporte. Uma vida de conquistas e inovações.
Natural de São Paulo capital, Minelli começou sua história nas casamatas no interior paulista na metade dos anos 1960. Foi no Palmeiras, em 1969, que deu o salto. Campeão do Robertão (depois reconhecido como Brasileirão), montou o time que virou a Academia, com nomes do nível Leão, Luís Pereira, Dudu e Ademir da Guia. Ganhou o Paulistão pela Portuguesa em 1973.
Em 1974, chegou ao Inter, substituindo Dino Sani. De cara, foi o comandante do título gaúcho desse mesmo ano. A conquista se deu com 100% de aproveitamento, um recorde na competição.
Na temporada seguinte, Minelli aprimorou o time. Teve uma evolução tática para a época, criando o 4-3-3 com dois jogadores atrás e um mais à frente. Na semifinal do Brasileirão, contra o Fluminense no Maracanã, promoveu a substituição que mudaria a história do Inter: sai Escurinho, entra Caçapava. Essa mudança consolidou a equipe, que venceu a Máquina Tricolor e, na decisão contra o Cruzeiro, conquistou o primeiro título nacional do Rio Grande do Sul, graças ao gol de Figueroa.
— Praticamente, demos vida ao futebol gaúcho com aquela conquista. A equipe era muito boa, tinha jogadores individualmente maravilhosos e um jogo de conjunto muito bem executado. Chegou aonde chegou por todos estes fatores — comentou, em entrevista a GZH em 2020.
Minelli provou que era possível melhorar ainda mais um time campeão. Em 1976, com a chegada de Marinho Peres, vindo do Barcelona de Cruyff, aprimorou o conjunto e inovou definitivamente com a linha de impedimento. Inspirado na Holanda, o Inter sufocava os adversários e reduzia o campo para o tamanho que desejava. Chegou ao bicampeonato brasileiro com mais um recorde: 84% de aproveitamento, o maior da história desde a organização da competição.
Um dos maiores beneficiados por essa revolução foi Paulo Roberto Falcão. Com Minelli, virou um volante moderno, que atacava e defendia com a mesma destreza. O eterno camisa 5 do Inter se manifestou sobre a morte do técnico, inclusive com um adendo:
— Um treinador genial. Mas, para ser justo, o adjetivo deve ser outro para falar de Minelli. Ele foi revolucionário. Rubens sofreu uma das maiores injustiças que o futebol brasileiro já cometeu contra si. Depois de vencer o campeonato nacional por três anos seguidos, este líder extraordinário não foi convocado para ser técnico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo em 1978.
Campeão também com o São Paulo em 1977, foi preterido pela então CBD para comandar a Seleção na Copa do Mundo. Cláudio Coutinho assumiu o cargo. E o Brasil caiu na fase semifinal.
Depois do Inter, Minelli também trabalhou no Grêmio. Em 1985, foi o técnico da conquista do Gauchão. Também foi campeão de dois torneios na Europa, em Roterdã e em Palma de Mallorca.
— O futebol perde um dos seus grandes nomes. Trabalhamos no Grêmio, foi meu treinador e aprendi muito com ele. Meus sentimentos à família e que Deus o receba de braços abertos — declarou Renato Portaluppi.
Voltou ao Tricolor em 1988, era o treinador do time no Gre-Nal do Século, na semifinal do Brasileirão, vencido pelo Inter.
Ainda foi o primeiro técnico do Paraná Clube. E também esteve na coordenação do futebol no Avaí e no Athletico-PR.
O técnico será sepultado no Cemitério Gethsemani, em São Paulo, às 16h desta sexta-feira.
Repercussões
Ademir da Guia
Triste com a partida do nosso amigo e parceiro de longa data, Rubens Francisco Minelli.
Alex
Futebol brasileiro de luto. Faleceu um dos grandes personagens que já tivemos.
D'Alessandro
Um grande do futebol brasileiro que hoje infelizmente nos deixou. Nos conhecemos na despedida de carreira do nosso amigo Zé Roberto. Uma conversa afável e carinhosa, como seu jeito de ser. Deixa um legado gigante.
Figueroa
Recebi com grande tristeza a notícia do falecimento de uma grande pessoa, um grande amigo, um mestre, de quem aprendi muito. Quero mandar um abraço a toda família e externar meus sentimentos.
Títulos na carreira
- Palmeiras — Brasileiro (1969)
- Portuguesa — Paulista (1973)
- Inter — Brasileiro (1975 e 1976), Gaúcho (1974, 1975 e 1976)
- São Paulo — Brasileiro (1977)
- Grêmio — Gaúcho (1985)
- Paraná Clube — Paranaense (1994 e 1997)
Números pelo Inter*
- 217 jogos
- 153 vitórias
- 44 empates
- 20 derrotas
- (Dados oficiais do Inter)
Números pelo Grêmio*
- 97 jogos
- 52 vitórias
- 29 empates
- 16 derrotas
- (Dados Gremiopedia)