Em uma forma de enxergar futebol, é possível dizer: irá para a decisão da América o time que levar menos gols no Beira-Rio. Assim, está nas mãos de Rochet e Fábio o futuro de Inter e Fluminense. Aliás, se nada ocorrer nos 90 minutos de quarta-feira (4), ambos serão fundamentais para definir o finalista da Libertadores.
Mas comecemos pela bola rolando. Rochet e Fábio têm números bem parecidos na competição em 2023. Ambos entraram em campo 11 vezes. O uruguaio levou 12 gols (cinco pelo Inter, sete pelo Nacional-URU nos seis jogos da primeira fase). O brasileiro foi vazado 10 vezes. Juntos, impediram que mais de 70 conclusões dos adversários se transformassem em mudança no placar.
Para fazer gol em Fábio, foi preciso concluir de perto. Em um time que joga pelo chão desde o campo de defesa, isso é importante. Mesmo quando a defesa do Flu foi desarmada em sua intermediária, o goleiro salvou todas as conclusões de fora da área. Rochet levou duas vezes de fora do perímetro. Uma delas, a de Solari, do River Plate, porém, foi no um contra um, sozinho, no Monumental. A curiosidade é que três dos gols sofridos por Rochet foram marcados pelo Inter (Mercado, De Pena e Alan Patrick), nos confrontos da primeira fase.
A história de Rochet no Inter é tão surpreendente e meteórica como sua contratação. Ninguém esperava que o clube iria atrás de goleiro, uma vez que John, antigo titular, vinha sendo o herói das partidas. Pois do anúncio à titularidade, tudo foi rápido demais. Em entrevista à GZH, Rodolfo Rodríguez, possivelmente o ex-goleiro uruguaio de maior sucesso por aqui, havia avisado que acreditava em uma adaptação tranquila ao Brasil. Nem ele, porém, imaginava que seria assim.
Rochet foi bancado por Coudet na estreia do técnico argentino. Com a liberdade de um novo trabalho e com a justificativa de que tudo estava no zero, escalou o uruguaio contra o Bragantino. Está a caminho de virar ídolo no Beira-Rio. A notícia de sua lesão nas costas, que o impediu de treinar normalmente até esta segunda-feira, causou preocupação entre torcedores. Procure nas redes sociais: o que não falta é candidato(a) a fazer massagem e cuidar do camisa 33.
Pudera, segundo o Sofascore, Rochet é o goleiro com maior número de defesas difíceis nos mata-matas da Libertadores 2023. Defendeu 81% dos chutes. E até marcou um gol, de pênalti, na disputa com o River Plate.
A vantagem colorada nessa posição só não existe porque do outro lado está uma lenda do futebol sul-americano. Fábio, que completou 43 anos no sábado, era adolescente quando Rochet (que também não é mais criança) nasceu. A história do camisa 1 da equipe carioca é tão rica que ele já estava em campo no século passado.
O Fluminense, aliás, é o terceiro time pelo qual Fábio atingiu mais de 100 jogos (conseguiu esse número também por Cruzeiro e Vasco). Sua primeira partida profissional data de 1997. Na época, para se ter uma ideia, o goleiro do Inter era André. O do Atlético-MG, Taffarel. E o Fluminense era rebaixado pela segunda vez (e desta vez cumpriria o calvário na Série B).
Mas voltando ao goleiro. Na época, o mato-grossense militava no futebol paranaense antes de chegar ao Vasco. E depois cravar seu nome na história do Cruzeiro. No clube mineiro, foi campeão brasileiro e da Copa do Brasil, mas bateu na trave na Libertadores. Perdeu uma decisão, para o Estudiantes. E agora, sonha em chegar ao título da América.
— Fábio é um gênio do gol — resumiu Fernando Diniz em entrevista coletiva.
Se chegar à decisão, Fábio cumprirá, no Maracanã, seu 100º jogo por Libertadores. Nesta edição, deixou para trás D'Alessandro. Só ficará atrás de Sergio Aquino e de Ever Almeida. Mas não fale nem em final para o Flu, muito menos em Almeida perto de um colorado em uma semana como essa. Deixe tudo para o folclore, se for o caso, na quinta-feira (se não sabe a razão, procure por Olimpia 1989 no Google).
E se for para os pênaltis
Rochet e Fábio têm fama nos pênaltis. Rochet defendeu o único que precisou enfrentar nos 90 minutos. E passou pela decisão de penalidades que disputou (9 a 8 sobre o River, inclusive marcando um gol). Segundo o Transfermarkt, foram 38 batidas contra o goleiro uruguaio: sete não foram convertidas.
Fábio, em levantamento feito pelo ge.globo do Rio, teve 100 cobranças contra si de 2012 a 2022. Dessas, 33 não viraram gol. Em 2023, foram quatro penalidades. Defendeu a de Bruno Rodrigo, do Cruzeiro. E levou de Robson, Matheus Peixoto e Barco.
Em uma semifinal de Libertadores, os dois sabem que o gol fica menor ainda com tanta história envolvida.
Números na Libertadores
Rochet
- 11 jogos
- 12 gols sofridos (10 de dentro da área, 2 de fora)
- 1 pênalti defendido (1 cobrança, só vale tempo normal)
- 39 defesas (24 de dentro da área, 15 de fora)
- 351 ações com a bola
- 155 passes (60% certos)
Fábio
- 11 jogos
- 10 gols sofridos (todos de dentro da área)
- 0 pênalti defendido (1 cobrança, só vale tempo normal)
- 33 defesas (13 de dentro da área, 20 de fora)
- 366 ações com a bola
- 200 passes (80% certos)
Dados do Sofascore