No mundo do futebol, em que a estatura muitas vezes é vista como um dos atributos mais valorizados, existe um grupo de heróis improváveis que desafiaram as probabilidades e conquistaram corações: os zagueiros de baixa estatura. Normalmente são atletas altos e fortes que dominam o setor, mas também existem defensores destemidos, que demonstram que tamanho não é documento quando se trata de parar os grandes atacantes.
Com 1m74cm, Hugo Mallo chegou ao Beira-Rio para ser lateral-direito, posição em que atuou em praticamente toda a sua carreira no Celta. No entanto, foi surpreendentemente escalado por Eduardo Coudet como zagueiro e teve boas atuações contra Bolívar e Goiás, jogos em que o Inter não levou gol.
Improvisações não são decisões raras do técnico argentino, é verdade, porém colocar o espanhol ao lado de Mercado diante do rival boliviano, de forte jogo aéreo, chamou a atenção, já que foram muitos raros os momentos em que atuou por ali pelo time de Vigo.
— Mallo jogou de central em momentos pontuais, por necessidades. Porém, em 99% das ocasiões, foi lateral-direito, sua posição em toda a carreira — explica Rafa Valero, que faz a cobertura do Celta no jornal Marca.
Mallo correspondeu às expectativas atuando como substituto de Vitão. Nas disputas aéreas, a principal preocupação para o defensor de baixa estatura, o aproveitamento foi de 50%. O mesmo do companheiro Gabriel Mercado, jogador que também começou a carreira como lateral e transformou-se em zagueiro. O espanhol ainda acumulou nove cortes, quatro interceptações e dois desarmes nas partidas.
São Paulo e Athletico-PR serão os adversários do Inter antes da partida diante do Fluminense, em 27 de setembro, pela semifinal da Libertadores. Como as chances de Vitão estar à disposição de Coudet até lá são pequenas, Mallo deverá ganhar uma sequência na posição.
Hugo Mallo contra Bolívar e Goiás
- Cortes: 9
- Interceptações: 4
- Desarmes: 2
- Duelos no chão: venceu 2 de 5
- Duelos aéreos: venceu 3 de 6
Mercado contra Bolívar e Goiás
- Cortes: 6
- Interceptações: 2
- Desarmes: 4
- Duelos no chão: venceu 4 de 5
- Duelos aéreos: venceu 4 de 8
Exemplos de zagueiros de baixa estatura com grande sucesso não faltam. O maior deles é Fábio Cannavaro, de 1m76cm, capitão da Itália tetracampeã mundial em 2006 e eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa no final daquela temporada, desbancando Ronaldinho. No Inter, as principais referências são Mauro Galvão (1m79cm) e Carlos Gamarra (1m78cm), dois jogadores com alguns centímetros a mais do que Mallo.
— Sempre há alternativa. Entender o posicionamento do adversário, marcá-lo de perto, sem dar espaço, e apostar na antecipação. Não vai ser igual a um zagueiro, mas a adaptação é questão de tempo — afirma Mauro Galvão, que vestiu a camisa do colorado entre 1979 e 1986, que complementa:
— O lateral já tem normalmente a qualidade de impulsão, pois muitas vezes também está na área e precisa entrar nas disputas com os atacantes. Quando eu comecei a jogar, eu era lateral-direito, depois virei zagueiro. Então não é uma grande novidade para quem é defensor.
Referências argentinas
As referências de Eduardo Coudet para encaixar Hugo Mallo como zagueiro podem ter origem no futebol argentino. Pep Guardiola, outro técnico adepto de improvisações, viu que recuar o volante Javier Mascherano (1m74cm) para o centro da defesa seria a melhor forma de encaixá-lo em um time que contava com Busquets, Xavi e Iniesta. Masche, que foi colega de Coudet no meio-campo do River Plate, fez sucesso no clube espanhol em uma posição que por muito tempo foi de Puyol, outro lateral que virou zagueiro.
Na seleção argentina, gloriosa foi a trajetória de Daniel Passarella (1m73cm), capitão na conquista da Copa do Mundo de 1978 e também presente no elenco campeão de 1986. Rápido nos desarmes, utilizava da velocidade para se antecipar aos marcadores. Além disso, também se destacava em cobranças de falta. Quando técnico da albiceleste, entre 1994 e 1998, comandou Coudet.