O Inter decidirá o seu futuro na Copa Libertadores em um estádio histórico. Palco do jogo desta quinta (25), contra o Metropolitanos-VEN, o Estádio Olímpico da Universidade Central da Venezuela, em Caracas, já testemunhou o talento de grandes craques do futebol mundial e tem sua história marcada pelo sequestro do ídolo do Real Madrid, o argentino Alfredo Di Stefano, em 1963.
Inaugurado em 1951 e remodelado em 2007 para a Copa América, o Estádio Olímpico é utilizado, geralmente, por quatro equipes venezuelanas. Além do Metropolitanos, jogam ali o Caracas FC, o La Guaira e o Universidad Central, o que, por vezes, impede que o gramado apresente as melhores condições. Vinculado à Universidade Central da Venezuela e com capacidade para pouco mais de 20 mil pessoas, o estádio deve receber apenas cerca de 3 mil pessoas na partida entre Metropolitanos e Inter.
O cenário previsto para a partida de quinta (25) é bem diferente dos momentos de maior glória do Estádio Olímpico. Nos anos 1950 e 1960, o local foi sede da Pequena Taça do Mundo de Clubes, torneio não oficial que foi uma espécie de embrião do que viria a ser o Mundial Interclubes, e que contava com a presença de gigantes do futebol europeu, como o Barcelona, de Kocsis, Kubala, Czibor e Evaristo de Macedo, e o Real Madrid, do lendário Alfredo Di Stefano.
Em, 1963, porém, a passagem por Caracas se tornaria inesquecível para Di Stefano. E pela pior das razões. Às 6h da manhã do dia 24 de agosto, o então melhor jogador do mundo, foi chamado pela recepcionista do hotel onde estava hospedado porque, segundo ela, policiais venezuelanos gostariam de colher um depoimento do atleta sobre algum fato desconhecido. Assustado, o ídolo espanhol concordou em descer e acabou entrando no que parecia ser uma viatura. Na verdade, os supostos policiais eram militantes das Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), organização que lutava pela implementação do comunismo na Venezuela. Di Stefano acabava de ser sequestrado.
Poucas horas após o desaparecimento do jogador, a FALN divulgou um comunicado reivindicando a autoria do sequestro e garantindo que o ídolo do futebol seria libertado assim que a ação atraísse publicidade suficiente para a causa da organização. Os militantes eram contrários ao regime do presidente Rodolfo Bittencourt, que havia declarado o Partido Comunista da Venezuela (PCV) ilegal.
Conforme o documentário "El Secuestro de la Saeta (apelido do jogador)", da ESPN, Di Stefano foi bem tratado pelos sequestradores nos três dias de cativeiro, comeu cachorro-quente e paella e recebeu inclusive permissão para escutar no rádio o jogo do Real Madrid, do qual ele não pôde disputar por estar no cárcere.
No dia 27 de agosto de 1963, Di Stefano, enfim, foi libertado em uma avenida no centro de Caracas. Assustado, o jogador dirigiu-se à embaixada da Espanha, onde foi acolhido e conseguiu conversar com seus familiares. A pedido do presidente Santiago Bernabéu, o atleta ainda voltou à concentração e entrou em campo no dia seguinte, na final da competição, contra o São Paulo.
Apesar da derrota para os brasileiros, Di Stefano foi ovacionado e aplaudido pela multidão presente nas arquibancadas do Estádio da Universidade Central da Venezuela. Mesmo palco em que, 60 anos depois, o Inter decidirá o seu futuro na Copa Libertadores.