Joana Berwanger ainda estava triste quando foi ao apartamento da avó para arrumar e limpar o imóvel. Era janeiro, e dona Mariazinha Berwanger havia morrido em setembro passado, aos 88 anos. O trabalho seria árduo, porque, além da saudade, tinha muita coisa para separar e jogar fora. Pois nessa função aí, a jornalista de 26 anos encontrou relíquias que a aproximaram ainda mais de seus antepassados. A memória do Inter estava na casa dos avós — e agora parte do acervo está sendo catalogado pelo museu colorado.
Mariazinha foi casada com Enio Berwanger por basicamente toda a vida. E moraram no mesmo apartamento da Avenida Nilo Peçanha mais de 50 anos. O pai de Joana, que também se chama Enio, viveu por lá. Foi dele a missão de começar o serviço de limpeza. Quando Joana chegou e passou a mexer nas caixas, encontrou parte do tesouro guardado pelos avós. Muito ligados ao Inter, eles mantiveram, em excelente estado, flâmulas, fotos, adesivos e notas comemorativas.
Enio Berwanger foi radialista, por muitos anos trabalhou na Rádio Guaíba. E por mais ainda esteve conectado ao Inter. Evoluiu de torcedor a sócio, depois a conselheiro e ainda membro atuante da direção. Era o responsável pela "Voz do Poste" no, então, novíssimo Estádio Beira-Rio. Vinha dele os anúncios de escalações, público e renda, utilidade pública e demais recados. Por isso, o filho viu tantos jogos na "Cabine de Som e Luz" da casa colorada. O amor pelo Inter envolveu a família.
Conta Joana uma história que tanto ouviu de sua avó. Um certo dia, Enio chegou em casa com um tecido vermelho e outro branco. E coube a Mariazinha a missão de costurar a faixa que seria aberta na inauguração do Beira-Rio.
Por isso não chegou a ser surpresa encontrar material do Inter no apartamento. O que a deixou espantada foi o tipo de objetos. Estavam guardadas notas de dinheiro que simbolizavam a campaha de doação de tijolos para o Beira-Rio. Também havia uma foto do primeiro time do Inter no estádio, com autógrafo de todos os jogadores no verso. E mais: flâmulas, carteira de sócio, imagens panorâmicas. Tudo em ótimo estado. Parte do material foi doado ao Museu do Inter na última semana.
— É um belo material. Vamos aproveitar, catalogar e em seguida colocar boa parte disso em exposição. O resto ficará de apoio para ajudar a completar a história do clube — explicou Vanessa Leão, museóloga do Inter.
A doação, segundo Joana, foi uma forma de incluir mais colorados em sua história.
— Um pouco do que encontrei vou enquadrar, guardar. Mas era importante compartilhar. A torcida precisa ter acesso a essas relíquias, porque a história do Inter, do Beira-Rio, foi feita com união. O futebol é um senso coletivo — completou.
A história toda ainda causou uma emoção especial para Joana. Ela praticamente não conheceu o avô, que morreu quando ela tinha um ano. A paixão de Enio pelo Inter passou para o filho e, depois, para a neta. Mas quando o pai se mudou para São Paulo, Joana diminuiu a frequência no Beira-Rio. Só voltou depois de crescer. E hoje não abre mão de ir a qualquer partida.
— Não tive a chance de conviver com meu avô como queria. E no fim não precisei disso para ser apaixonada por futebol. Voltar ao futebol, fazer novos amigos, cumprir certos rituais, encontrar as pessoas. O Inter acabou nos unindo — finalizou Joana.