A Polícia Civil do Rio Grande do Sul concluiu nesta segunda-feira (13) o inquérito do caso de suposta injúria racial contra Edenilson e decidiu indiciar Rafael Ramos pelo crime. A confirmação foi feita pelo delegado Roberto Sahagoff, titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Porto Alegre.
Cabe agora ao Ministério Públio (MP) definir se irá oferecer a denúncia contra o jogador do Corinthians ou se o caso será arquivado. Também existe a possibilidade de o MP pedir uma ampliação da investigação por parte da polícia.
Mesmo que o Instituto-Geral de Perícias (IGP) não tenha obtido um resultado conclusivo na perícia labial sobre o que Rafael Ramos falou para Edenilson, o delegado entendeu que há elementos que sustentam o indiciamento. Sahagoff explicou ainda que outras três perícias foram anexadas ao inquérito, duas delas enviadas pela defesa da Rafael Ramos e que apresentam versões diferentes.
— Foi levado em conta a palavra do Edenilson. Segundo a própria jurisprudência, a palavra da vítima se torna muito importante nesses casos. Também havia quatro laudos periciais nesse inquérito, dois apresentados pela defesa do Rafael Ramos, o inconclusivo do IGP e um apresentado pelo advogado do Edenilson. Os dois do Rafael Ramos estavam contraditórios entre si, com versões diferentes do que havia sido dito pelo Rafael Ramos e do que o jogador alegou em seu depoimento — disse a GZH.
O caso
As primeiras provas do inquérito foram colhidas ainda na noite de 14 de abril, quando Inter e Corinthians se enfrentaram pelo Brasileirão. Na ocasião, o jogador colorado alegou ter sido chamado de "macaco" pelo lateral-direito Rafael Ramos, do time paulista. No Beira-Rio, o delegado plantonista Carlo Butarelli ouviu os dois jogadores e decretou a prisão em flagrante de Ramos por injúria racial. O jogador foi liberado após o Corinthians pagar uma fiança no valor de R$ 10 mil.
A defesa da Rafael Ramos, no entanto, apresentou uma outra versão do que teria dito o jogador. De acordo com o advogado Fabiano Cerveira, em entrevista ao programa Sala de Domingo, da Rádio Gaúcha, um dia após o fato, o português fez um xingamento a Edenilson usando o termo “mano, caralho”.
Na última quarta-feira (8), o IGP divulgou o laudo da perícia labial informando que não foi possível concluir o que Rafael Ramos disse para Edenilson. Em entrevista ao programa Hoje nos Esportes, da Rádio Gaúcha, naquele dia, a diretora do Departamento de Criminalística do Insituto-Geral de Perícias, Sheila Wendt, explicou por que a perícia não conseguiu apresentar uma conclusão.
— Para estabelecer algum resultado, a gente usa uma metodologia científica, que precisa ser testada e aprovada. Em várias áreas da perícia, temos metodologias consagradas. Qualquer análise tem que ser possível de ser repetida por outro perito, que chegará ao mesmo resultado. Neste caso, recebemos o pedido de leitura labial e procuramos tanto nacionalmente como internacionalmente se existia alguma metodologia, e não há. Então, se posicionar no sentido de tecer qualquer consideração sobre uma leitura labial, atualmente, é exploratório, é uma opinião. Pode ser baseado em algum conhecimento que a pessoa tenha, como um surdo-mudo, mas não é prova científica — declarou a diretora do IGP, sobre o laudo solicitado pela Polícia Civil, baseado nas imagens da partida.
Antes do parecer do Instituto-Geral de Perícias, outros especialistas em leitura labial já haviam se posicionado sobre o tema. Contratados pelo jogador corintiano, dois profissionais do Centro de Perícias Curitiba afirmaram que a palavra macaco não havia sido utilizada durante a discussão. Porém, em entrevista à Rádio Gaúcha, o perito judicial Roberto Meza Niella disse exatamente o contrário.
Para a diretora do Departamento de Criminalística do IGP, a contradição de versões comprova a dificuldade em apresentar uma conclusão científica do caso.
— Não há essa metodologia em nível estadual ou particular. Estas pessoas (peritos) não estão utilizando metodologias científicas. Tanto que uma disse uma coisa e a outra disse outra. Se tivesse um método científico, as duas chegariam ao mesmo resultado ou em um percentual de credibilidade daquele resultado. Estes resultados podem ser derrubados durante o processo ou no tribunal, se for a júri, justamente por não estarem embasados em um procedimento que seja indiscutível. Eles usaram de algum conhecimento que tenham, mas que não há uma metodologia que seja consagrada ou aceita internacionalmente para este fim. Não é uma questão de o Estado não ter como realizar a perícia. Para o juiz dar a decisão sobre quem está certo neste caso, ele tem que estar com a certeza. Geralmente, quem desempata é a perícia criminal. Então, temos que ter a responsabilidade de dar um resultado que não possa ser contestado. Se não podemos dar o resultado, a gente se abstém — concluiu ela.