Uma das formas de medir o sucesso da estratégia pensada por um treinador é observar o resultado final do jogo. Por esta ótica, é possível concluir que Rodrigo Dourado e Gabriel devam ser mantidos no meio-campo do Inter, nesta quarta-feira (8), contra o Santos, na Vila Belmiro. Afinal, depois de escalar os dois juntos diante do Bragantino, no último domingo (5), o Colorado venceu, encerrando a série de cinco empates consecutivos no Brasileirão.
Porém, o campo mostrou exatamente o contrário. Apesar da intenção do técnico Mano Menezes, em obter maior proteção defensiva com uma dupla de volantes, o time gaúcho viu a trave e o goleiro Daniel evitarem que o placar fosse aberto em favor dos donos da casa no primeiro tempo. Foi somente a partir da entrada de Carlos De Pena na vaga de Dourado, na etapa final, que o time gaúcho construiu os 2 a 0.
Batista, volante tricampeão brasileiro com o Inter nos anos 1970, analisa:
— Se o adversário é muito forte e tem meias perigosos, tudo bem escalar dois volantes para sofrer menos. O Dourado é um cara pesado, que costuma jogar mais postado. Não é de tanta mobilidade. Então, o treinador compensa, porque pensa que só um volante não vai dar conta e coloca dois. Ainda mais jogando fora de casa, quando você acha que o adversário virá para cima. Mas, às vezes, você pensa uma coisa e o campo te mostra outra. Aí você corrige ofensivamente no decorrer do jogo. Talvez tenha sido o que aconteceu.
Não foi a primeira vez que a dupla iniciou uma partida sob o comando de Mano. No fim de abril, ambos foram escalados contra o Independiente Medellín, na Colômbia, mas formando um tripé de meio-campo com De Pena. Na ocasião, Gabriel permaneceu mais fixo, enquanto Dourado se desprendia ao ataque. Foi assim, inclusive, que ele deu a assistência para Alexandre Alemão anotar o único gol da vitória por 1 a 0.
Mas em Bragança Paulista, o desenho foi diferente. Sem a presença do uruguaio, os volantes apareciam posicionados lado a lado, com o camisa 13 ganhando um pouco mais de liberdade para avançar pela direita.
— Não se pode cobrar que um volante pise na área. Ele tem é que evitar que o adversário pise na área dele. Falo por experiência própria. Às vezes, eu era cobrado por chegar ao ataque. Mas, se o jogo foi 0 a 0, eu fiz bem o meu papel. Quem precisa finalizar é o ponteiro, o meia, o centroavante. O volante tem que ser cobrado por intensidade defensiva, por ajudar os zagueiros, na cobertura aos laterais. Mas ele também precisa acertar passe. O drible não tem como treinar, isso nasce com o jogador. Lançamento também é dom, mas o passe curto precisa ser treinado. O passe é primário — explica Batista.
Este é justamente um dos fatores que pesa contra Dourado. Nos 72 minutos em que esteve no gramado do Abi Nabi Chedid, acertou 22 de 28 tentativas de passes (79% de aproveitamento), de acordo com o site de estatísticas Sofascore. Já Gabriel, que permaneceu em campo até o apito final, foi responsável por 52 passes, com 93% de acerto.
Além disso, o camisa 13 não contribuiu tanto defensivamente. Sem nenhum desarme efetuado, venceu apenas um dos seis duelos pelo chão e somente uma bola pelo alto.
— Um dos dois vai ter que sair. Primeiro, os dois juntos ajudam muito pouco na criação e o meio-campo tem que ter alguém que cria. Já que o Inter tem jogadores com características que podem chegar nas duas áreas, como Edenilson e De Pena, é um desperdício. Segundo, porque não deu certo lá em Bragança. O Inter foi muito atacado, tanto na bola aérea como por baixo. Então, é um ou outro. Qual? Os dois tem prós e contras, mas apenas um tem que ser titular — opina Luciano Potter, integrante colorado do programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha.
De fato, Mano parece ter chegado a uma encruzilhada: manter a dupla por convicção e estratégia ou devolver um deles ao banco de reservas.
Estatísticas contra o Bragantino
Rodrigo Dourado/Gabriel
Tempo em campo: 72 minutos / 90 minutos
Passes certos: 22 (79% de acerto) / 52 (93% de acerto)
Lançamentos: 2 (1 certo) / 5 (4 certos)
Duelos pelo chão: 6 (1 vencido) / 8 (3 vencidos)
Duelos aéreos: 2 (1 vencido) / 3 (2 vencidos)
Desarmes: Nenhum / 2
Interceptações: 2 / 2