"Ele é louco pelo Inter", foi a mensagem que pingou no Whatsapp em julho do ano passado. O emissário era um jornalista grego, ao saber do interesse do Inter no atacante Pedro Henrique. O anseio do atacante de vestir a camisa colorada teve de esperar mais alguns meses e o de marcar um gol pelo clube do coração quase um ano, mas tudo virou realidade.
O atacante fez o caminho mais longo para realizar o sonho de criança. Sem nunca deixar a chama em relação ao time colorado se extinguir, ele viu primeiro a ambição de jogar na Europa se concretizar. Durante a última década, mesmo que estivesse vivendo na Suíça, ou em uma cidade à beira-mar na Grécia, ou em meio a casas medievais no interior da França, ou morando nas ex-Repúblicas Soviéticas do Azerbaijão e do Cazaquistão ou na Turquia, ele deixou arrefecer o seu amor pelo Inter. Não importava para onde a profissão lhe mandasse, ele acompanhava todas as notícias vindas do Beira-Rio.
Os laços eram tão fortes que no tempo em que atuou na Grécia, todos sabiam sobre a sua paixão pelo Inter.
— No tempo em que ele jogou no PAOK, ele contou para os dirigentes e para os jornalistas que era torcedor do Inter, mas o PAOK queria muito dinheiro para vendê-lo. Foram duas tentativas do Inter. Ele se tornou um herói aqui— conta Sotiris Milios, jornalista grego e editor-chefe do portal SDNA.
Quase o sonho teve de ser adiado mais uma vez. Quando as negociações com a direção colorada avançaram este ano, havia um tempo exíguo para selar o acerto antes do encerramento da janela de transferências. O negócio só foi fechado com a ajuda do ex-goleiro Taffarel. O ex-camisa 1 colorado indicou um médico de sua confiança dos tempos em que defendeu o Galatasaray para que Pedro Henrique realizasse exames médicos ainda na Turquia, acelerando os últimos trâmites antes de assinar contrato.
— Quando bateu o martelo, fui o primeiro a saber. Ele me ligou dizendo que era jogador do Inter. Ficamos mais de hora conversando. Eu ria e chorava. Sonhei com isso desde que ele começou a jogar, mas não acreditava que acabaria jogando no Inter. Ele abriu mão de muita coisa — explica Edgard Konzen, o Neka, tio e pai de criação de Pedro Henrique.
Foi por influência dele que Pedro Henrique virou colorado. Órfão da mãe aos seis anos, o jogador foi criado pelo tio e pelos avós. Neka revela ser daqueles colorados que chora nas derrotas. O hábito de acompanhar todas as informações em relação ao clube vêm daquela época em que o guri vivia em Pinheiral, no interior de Santa Cruz do Sul. O atual camisa 28 ouvia as rádios para saber as novidades. O tio garante que o sobrinho sabe de cor as principais escalações da história colorada.
Apesar da relação íntima, o seu coloradismo foi colocado em dúvida. Nas andanças pelo mundo da bola, o atacante passou pelas categorias de base do Grêmio sem nunca ter jogado pelo Inter, o que levou muita gente a pensar que sua paixão tinha outras cores. Após ser anunciado como novo contratado, foi preciso a família divulgar uma foto do atacante ainda guri vestindo a camisa colorada para dirimir qualquer mal-entendido.
Neka também tem grande parcela de "culpa" por o sobrinho ser jogador de futebol. O tio era fominha. Onde tinha jogo de várzea nos arredores de Santa Cruz, ele se apresentava para jogar. Junto com o par de chuteiras, levava Pedro Henrique para acompanhá-lo. Foi ali que surgiram os primeiros chutes e brotou o desejo de ser profissional.
O caminho incomum de jogar primeiro na Europa e depois defender o clube do coração, rende situações inusitadas. Como não tinha como vir a Porto Alegre assistir aos jogos, Neka acredita que a primeira vez de Pedro Henrique no Beira-Rio não foi como torcedor, mas como jogador.
O que ele não tem dúvida é daquilo que se passou no Beira-Rio no sábado passado (11). No final do jogo contra o Flamengo, ele viu o sobrinho pegar a bola pela esquerda, avançar em velocidade e ser derrubado antes que pudesse chutar. O atacante estava na sétima partida de sua fantasia de infância, mas ainda não tinha visto se concretizar a parte do sonho em que a torcida vibra com um gol seu.
— Ele estava carregando um peso. A gente via no semblante que isso estava ficando pesado para ele — revela Neka, ao falar da demora para o atacante ir às redes.
Como revelou após a partida, Pedro Henrique pediu a De Pena para cobrar o pênalti e transformar, aos 31 anos, aquela noite fria em um dos principais dias de sua vida. A cobrança saiu certeira.
— Eu estava na tribuna. Estávamos entre seis. Todos nos choramos quando ele fez o gol — relata Neka.
Agora mais leve, Pedro Henrique pode seguir vivendo o seu sonho.