Um Mano Menezes sorridente, simpático, fala mansa e tiradas divertidas integrou a bancada do programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (10). Ele entrou no estúdio no momento do último anúncio do intervalo e dele só saiu 47 minutos, nove perguntas, um break comercial e muitos esclarecimentos depois.
A seu modo, o treinador respondeu quase todos os questionamentos sem tergiversar. Em alguns, é claro, usou a experiência para amenizar, dar uma curva e evitar polêmicas. No geral, porém, o técnico falou sobre praticamente tudo: Moisés na lateral, Rodrigo Dourado, posicionamento de Taison, uso da base, vaias a Estêvão, falta de força ofensiva, tamanho do grupo de jogadores, aproveitamento de Alan Patrick, evolução de Alemão, retorno de Thiago Galhardo, sistema tático, entre outros.
Até sem palavras, Mano Menezes ficou. E já na primeira pergunta. Contrariando muitas das teorias de jornalismo que sugerem começar uma entrevista com um tema ameno, para "soltar" o entrevistado e lhe dar segurança para responder temas mais espinhosos, o apresentador Pedro Ernesto Denardin entrou de sola, disfarçado de sorriso:
— E aí, Mano? Três empates seguidos.
Depois de dois eternos segundos de silêncio (e quem ouve o Sala sabe o quanto isso é longo - e raro), o treinador colorado rebateu:
— Pedro, sou um cara que fala bastante. Não é fácil me deixar sem palavras. Parabéns.
A resposta foi seguida por gargalhadas dos demais participantes. Que então começaram a sabatiná-lo. Fora do ar, o papo seguia animado. Mano foi lembrado de que no dia 10 completou-se 13 anos daquele golaço que Nilmar marcou em um Corinthians x Inter no Pacaembu, passando por toda a defesa corintiana e deslocando o goleiro Felipe. Ele era o treinador do time paulista, e viu da casamata o então centroavante colorado fazer aquela pintura, que acabou imortalizada na voz de Pedro Ernesto, inclusive reproduzida no Jornal Nacional.
— Foi bonito para o Nilmar. Não para mim, que levei, né?
Esse Mano mais "solto", ligado em redes sociais, não é um personagem, ele garante. Claro que o fato de fazer vídeos, posts e memes faz parte da influência da filha, Camilla, jornalista e especialista na área. Mas, diz o treinador, a "essência é a mesma". Ainda mantém um pé atrás sobre o tema:
— É perigoso. Futebol depende muito do resultado. Se não ganharmos, sei que essa participação nas redes vai ser criticada.
O técnico reconheceu, porém, que essas ações foram fundamentais para que sua aceitação no Inter fosse facilitada. E que, até o momento, recebeu mais elogios do que críticas por seu incipiente trabalho. O mau desempenho de seu antecessor, Alexander Medina, contribuiu para isso. Mas houve o mérito de Mano, sua equipe, e o clube para dar mais rapidez à simpatia de público e crítica.
A seguir, veja outros assuntos que o técnico tratou.
Posicionamento de Taison
"Os jogadores modificam características com o tempo, isso falei na minha apresentação. Não dei exemplos naquele dia, mas posso dar hoje. Cristiano Ronaldo não é mais o extrema que era como começou, o Renato (Portaluppi), o da estátua (disse em tom de brincadeira), começou como beirada e não era não era um jogador de beirada quando encerrou. O Hulk está mais por dentro no Atlético-MG. Os jogadores, com o tempo, perdem algumas coisas e ganham outras. O Taison ganhou um repertório maior de jogadas e vem para dentro. Vai jogar como atacante, como jogamos com dupla contra o Juventude, ou como um segundo atacante, vindo um pouco mais por trás do centroavante."
Moisés na zaga
"Tive conversa com o Moisés sobre isso. Penso que tem ele tem características para a função. Não basta ter boa ideia, você precisa ver como as coisas andam. Ele passou por processo semelhante com o Carille (no Corinthians), mas não jogou porque havia bons zagueiros. Ele treinou como zagueiro e foi bem. Foi treino estilo jogo para eles ganharem ritmo. Não é só coletivo que trabalha linha de quatro. Você faz trabalho de posicionamento com um volante à frente, fica rodando a bola, faz eles trabalharem posicionamento, combate, redução de espaço. Esse trabalho surte mais efeito do que o coletivo."
Retorno de Galhardo
"Essa é uma questão administrativa e do jogador. Ele quer voltar? Quer estar no Inter? Esse é o primeiro passo. Se ele quiser, o clube define as questões de negócio. Tenho a informação de que o empréstimo termina no meio do ano e ele retorna. A partir disso, vamos pensar. O Galhardo teve um bom momento com o Coudet em uma maneira diferente do que a gente joga. Essa maneira influenciou certamente porque até então ele não tinha entregue tanto. É um jogador que você precisa respeitar o que ele construiu aqui."
Como usar Edenilson
"Edenilson sempre jogou no mesmo lugar quando foi bem. Já tive vários jogadores como ele, e eles precisam de equilíbrio no meio-campo para render. Já tive Paulinho, Elias... Eles precisam de estabilidade do outro médio, quase que precisam de uma terceira perna no meio para equilibrar. Quando o Edenilson subir, você precisa de outro. Em alguns momentos, vai ir e vamos perder a bola. É bonito aparecer lá, mas tem a perda da bola, os adversários estudam a gente. O Juventude colocou o Chico (Kim) na extrema para entrar nas costas do Edenilson quando ele subisse. É assim que se estuda e se trabalha."
Rótulo de defensivo
"Simplificação sempre é injusta. Meu último trabalho com sucesso foi o do Cruzeiro. Fui bicampeão da Copa do Brasil com sete jogadores acima de 32 anos no time, o que te leva a jogar de uma maneira. Se você não tiver a estratégia de preservá-los, vai pagar um preço grande nos últimos 20 minutos. Mas eu sempre gostei de jogar, por exemplo, com um jogador como o De Pena na função de médio. Usei o Ariel Cabral no Cruzeiro como volante, por exemplo. Quando botei o Elias de volante, ele também não era da função. Sempre procurei ter um meio-campo que jogue."
Centroavante
"O David vinha sendo utilizado como atacante pelo Medina. Ele já não é mais um jogador de beirada. Ele teve uma lesão no Cruzeiro, o que mudou a característica. Ele passou a jogar como segundo atacante no Fortaleza com o Rogério (Ceni). Temos mais um centroavante, o Wesley, e o Cadorini, que está no grupo. Esses são os dois com características de número 9. O Alemão não é era um 9, e é um jogador em formação para o nível que temos agora. O Alemão, sem menosprezar ninguém, estava no Novo Hamburgo, no sub-23 do Avaí, então é preciso trabalhar algumas coisas. Contra o Juventude, quis resolver algumas situações sozinho, algo que faz parte. São jogadores de característica diferente. Usei David e Wanderson por dentro no segundo tempo contra o Juventude."
Treinar o ataque
"Chegamos 60 vezes na última parte do campo contra o Avaí. Na minha opinião, poderíamos ter feito melhor com um número tão grande. Coloco a equipe no último terço, porque chegamos bem até aí. Então daí para a frente vamos treinar para ter mecânica, profundidade, romper a linha. Faz trabalho de oito contra oito, repetindo, repetindo, repetindo até as coisas melhorarem. Isso me surpreendeu. Com a proposta de jogo, de trabalho que tinha antes, isso deveria estar melhor desenvolvido. Se o trabalho era pegar a bola e ser propositivo, então deveria estar mais vezes na situação de último estágio."