Residente em São Paulo, Mano Menezes passava o feriadão de Páscoa com a família, em Porto Alegre, quando recebeu os primeiros contatos dos dirigentes para comandar o Inter. Quando organizou a mala para a viagem, o treinador certamente previa um jogo de roupas para os quatro dias e ovos de páscoa para presentear os familiares.
A passagem de retorno para a capital paulista, porém, teve de que ser cancelada, já que as conversas duraram até a noite da última segunda-feira (18), quando o acordo com o Colorado foi oficializado. No dia seguinte, Mano estava no Beira-Rio conhecendo o elenco e comandando o primeiro treinamento.
Um bom número de sessões de treino e tempo para recuperação física são desejos de qualquer treinador esportivo. Para os comandantes do futebol brasileiro, porém, é repetitivo dizer que o calendário está distante do ideal, exigindo das comissões técnicas estratégias alternativas para a minimização de problemas físicos e correções de questões técnicas e táticas.
Mano teve cinco dias entre o primeiro treinamento e o apito inicial para Fluminense e Inter. Na prática, de fato, foram dois treinos. O treinador dedicou-se tanto na preparação para o jogo que não teve tempo de renovar o guarda-roupa para estar na casamata do Maracanã com uma camisa social das cores do Inter. Era assim nos outros clubes que passou, mas dessa vez teve de optar pelo abrigo de treinamento.
— Fizemos dois treinos, e isso possibilitaria pequenos ajustes naquilo que eu achava que deveria acontecer, mas não a ponto de modificar a equipe significativamente— afirmou. E foi o que se viu em campo.
Mano queria simplificar e optou pela manutenção do esquema tático do Inter que venceu o Fortaleza na última rodada, o 4-1-4-1, porém com ajustes para fazer um jogo mais direto. As primeiras foram Wanderson ocupando a ponta esquerda, com Carlos de Pena sendo deslocado para o centro, formando dupla de meias com Edenilson, recuperado de lesão. Mauricio fechava a linha de meia-atacantes pelo lado direito.
Sem a posse de bola, foi possível observar uma alternância logo no primeiro tempo. Nos primeiros 15 minutos, marcação adiantada para dificultar a saída de bola do Flu. Estratégia eficiente, que fez o time recuperar a bola no campo de ataque e levar perigo em algumas oportunidades, especialmente pelas aparições de Wanderson pela esquerda.
No entanto, o jogo tomou outro rumo. Os cariocas começaram a superar a primeira linha de pressão e fizeram com que Mano Menezes ordenasse aos seus comandados que baixassem as linhas. A ideia foi de induzir o Fluminense a atacar pelos lados e fechar as linhas de passe para Paulo Henrique Ganso. No entanto, Bustos e Renê tiveram trabalho para segurar Marlon e Calegari. Inteligente, Ganso se aproximou os volantes para criar sem uma marcação tão agressiva.
A reação de Mano para fazer o Inter transitar ao ataque com maior velocidade foi pedir aos jogadores para buscar o jogo de pivô com Wesley Moraes. O centroavante, contudo, não funcionou como o esperado e foi substituído no intervalo.
Alemão Colorado
De volta para o segundo tempo com uma postura similar aos primeiros minutos de jogo, a estrela de Mano Menezes brilhou logo aos oito minutos. Na troca de centroavantes feita no intervalo, Wesley Moraes deixou o time para a entrada de Alexandre Alemão, que já era o autor do gol da vitória sobre o Fortaleza, no final de semana passado.
Foi de Alemão a antecipação ao zagueiro Luccas Claro e o toque final para o gol, balançando pela primeira vez as redes na noite do Maracanã. Antes da conclusão, uma jogada em troca de passes que começou com Rodrigo Moledo, passou por Mauricio, Edenilson e Wanderson, até chegar em De Pena, na ponta esquerda, que serviu Alemão com um cruzamento na medida.
— Eu acho cedo para fazer diagnósticos de 90 minutos. Vamos decidir as coisas no dia a dia, é importante ter essa transparência — comentou o treinador.
A abertura do placar deixou os torcedores do Fluminense nervosos, respondendo com vaias aos seus jogadores. O Inter soube aproveitar e manteve o controle da partida com personalidade. Mano até conversou com alguns exaltados que estavam próximos da mureta para entender o que estava ocorrendo. Na sequência, para renovar o setor ofensivo, sacou Wanderson e Mauricio e colocou David e Boschilia. O time inclusive melhorou, e Bustos e De Pena tiveram chances de ampliar.
Por fim, aos 40 minutos, quando Edenilson acusou câimbras, o novo técnico colorado mandou o criticado Rodrigo Dourado para o gramado, sendo mais um a confiar no volante. O camisa 13 ajudou a interceptar um passe que cairia nos pés do artilheiro Fred, livrando o Inter do perigo de um gol de empate.
Pé quente, o estreante vitorioso Mano Menezes saiu do Maracanã feliz — não sem antes cobrar a arbitragem pelos sete minutos de acréscimos.