O técnico Mano Menezes foi apresentado pelo Inter após o treino desta quarta (20). Em sua primeira manifestação como treinador colorado, o profissional de 59 anos rechaçou o rótulo de defensivo, disse que chega ao Beira-Rio sabendo da proposta de jogo que a direção deseja e prometeu montar um time que se adapte a diferentes situações.
— Penso futebol de forma bem completa. Não conheço times vencedores que se comportem só de forma reativa, não conheço times vencedores que só se comportam ofensivamente. Não conheço time vencedor que só propõe jogo porque vai ter um dia que o adversário estará melhor e você precisará jogar diferente — destacou o técnico, que falou em simplifica algumas situações no começo do seu trabalho.
— Uma equipe bem organizada faz recuperar muita coisa. Quando as coisas precisam ser recuperadas, simplificar é o caminho inicial, tentar colocar as coisas nos devidos lugares. Se tem 10 coisas complexas para fazer no jogo e não conseguirmos nenhuma, fazendo cinco na próxima já é evolução. Isso melhora a atuação e o anímico vem junto.
O treinador ainda lembrou uma entrevista dada para a Rádio Gaúcha há algumas semanas, na qual elogiou o fato de o Inter ter o objetivo de definir uma ideia de jogo.
— Falei que o grande problema do futebol brasileiro é que os clubes vivem em constantes mudanças, e você vive num eterno recomeçar. Saúdo buscar uma identidade porque isso é o que o torcedor, a principal razão do clube, quer ver. O que precisamos fazer é saber construir o caminho para chegar onde queremos porque isso não é tão fácil. O Inter está tentando construir a estrutura que dê sustentação para a busca de uma filosofia. Eu faço parte dessa equipe que irá fazer isso. É importante quando você quer chegar a um lugar saber onde está. Assim esse percurso será bem construído e divididos em etapas para medir onde estamos avançando, ter solidez e o resultado faz parte importante. O resultado sempre foi e será importante no futebol. Ninguém evolui sem vencer. O torcedor quer chegar a modelo de jogo, mas ele quer ganhar o jogo de amanhã e o seguinte — completou.
Confira outros trechos da entrevista
Posicionamentos de Edenilson e Taison
"Dificilmente irei fazer comentários individuais sobre esse ou aquele. As minhas análises quase sempre serão da equipe. Ainda é cedo para falar como vou montar o meu time, mas os jogadores com trajetória como Taison e Edenilson se destacaram jogando de determinada maneira. Vou procurar tirar o melhor de cada dentro de suas características. O Edenilson tem uma situação mais recente no Inter, isso o levou para a Seleção Brasileira. A maneira como atuava fez dele destaque da equipe, tanto que foi convocado. Esse é um indicativo forte que um treinador da minha experiência irá respeitar. Os jogadores também mudam as características de jogar e isso será levado em conta. Já vimos muitos jogadores que iniciaram na beirada e com o tempo foram centralizados. Na beirada é exigido maior potência, profundidade e velocidade pelos lados. Isso será levado em conta".
Passagem pelo Bahia
"Eu fiz o que era possível no Bahia. No ano em que eu passei rapidamente o Bahia teve três técnicos e conquistou 12 vitórias, seis comigo, e não caiu. No ano seguinte caiu. Quando se avalia o trabalho de alguém é importante a gente contextualizar. A realidade do Bahia era aquele e você tem de trabalhar dentro de uma normalidade".
Como pretende construir jogo
"A minha ideia é fazer uma saída de três com dois zagueiros e um lateral, seja ele o da direita ao da esquerda. Vou respeitar as características dos jogadores que estiveram na função. Vamos construir com qualidade porque se você não construir com qualidade não estará entre as principais equipes do futebol brasileiro. O futebol é simples. Se não tivermos a bola, e todos gostam de ter, mas está cada vez mais difícil porque todos pressionam a bola. Se não tivemos a bola, rapidamente teremos que trabalhar para recuperar. Quando tivermos devemos ter competência para não entregar para o adversário. Penso que temos qualidade para nos aproximar daquilo que queremos fazer”.
Apoio da torcida
"O torcedor mesmo usando o exemplo de domingo entende o quanto é importante apoiar o time. E nós, como equipe, devemos entender como é importante ter o torcedor ao lado. Entender o que precisamos construir, por isso a identidade é importante, é fazer o torcedor ver no campo a identidade do que ele pensa de futebol. A forma de comunicar o que estamos construindo é importante. Às vezes se cria falsas expectativas, a comunicação não é tão boa e se cria uma expectativa grande, o que algumas vezes é acompanhada de frustração. Vamos transmitir a ideia, mostrar uma evolução contínua. Ela pode não ser tão rápida quanto se espera, mas o torcedor deve perceber. O pior é terminar um ano e precisar recomeçar tudo em janeiro do próximo. O torcedor sente essa frustração".
Uso da base
"Tenho uma teoria baseada na experiência e no que vivemos que de 60% a 70% dos jogadores são muito parecidos no mercado brasileiro. Para não contratarmos os jogadores parecidos, precisamos usar a base. Ao fazer isso, temos a capacidade de guardar dinheiro para ter a capacidade de disputar grandes jogadores. Temos que fazer um projeto de aproveitamento para esses jogadores que promovemos. Porque se é o primeiro ano do jogador da base é o terceiro da posição, no próximo ano tem que ser o segundo. Mas nós temos que trabalhar nessa evolução para ele ser o segundo. Se contratarmos para a posição, estaremos tirando o espaço dele. Por isso o Inter está montando um departamento de futebol capaz de tomar essas decisões para caminharmos na mesma direção. Erros irão acontecer porque existe um lado subjetivo no futebol, mas isso não pode ser desculpa para tudo e os erros não podem ser bastante grande. É para isso que nos sentimos preparados para fazer bem".
O que o Inter pode almejar no Brasileirão
"Eu estou aqui porque o Inter enfrentou dificuldades, se não estaria Medina. Não acredito que uma direção contrate um técnico para demitir. No Brasil é impossível dizer como vai ser o Brasileirão. Muitas projeções não se confirmam. Ano passado teve um exemplo local que foi assim, certamente quando começou o campeonato a ideia não era essa. Temos só duas rodadas do Brasileiro. Ninguém sabe como as coisas vão acontecer. Teremos um ano bastante peculiar em virtude da Copa do Mundo, com jogos próximos e clubes precisando revezar os times. O bicampeão da Libertadores está com um ponto, isso serve de exemplo. O Brasileirão começa a definir as turmas pela décima rodada, por isso é bom ser rápido porque queremos fazer parte da turma da frente e acreditamos ter potencial para isso. É hora de resolvermos nosso problema rápido. O que aconteceu domingo foi um bom exemplo da capacidade que esse grupo tem".