Duas décadas depois, Inter e Mano Menezes se reencontram em momentos parecidos e com objetivos semelhantes. O profissional, que deixou as categorias de base colorada em 2002, construiu uma carreira vitoriosa, mas acertou o retorno ao Beira-Rio na tentativa de voltar a ser um nome protagonista entre os técnicos do país. Da mesma forma, o clube busca retomar os caminhos das vitórias após o insucesso do projeto com o uruguaio Alexander Medina.
Mano Menezes está entre os treinadores mais vencedores do século no futebol brasileiro, assim como o Inter entre os clubes. Depois daquela saída do Beira-Rio no começo da gestão Fernando Carvalho, o gaúcho de Passo do Sobrado ganhou destaque nacional quando levou o 15 de Campo Bom até a semifinal da Copa do Brasil, em 2004. Um ano depois, ele conduziu o Grêmio no retorno para a Série A e conseguiu em 2007 ser finalista da Libertadores.
O grande título que faltou a Mano nas boas campanhas em terras gaúchas veio em 2009, quando o seu Corinthians ganhou a Copa do Brasil vencendo o Inter na final. Um ano depois teve seu maior desafio ao assumir a Seleção Brasileira. Acabou demitido antes da Copa do Mundo disputada no Brasil, mas voltou a viver o sucesso em clubes com o Cruzeiro, onde foi bicampeão da Copa do Brasil, em 2017 e 2018.
Minas Gerais foi local dos títulos e também do início do declínio na carreira. A saída do Cruzeiro aconteceu justamente após a derrota para o Inter no jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil de 2019, mas teve como maior motivador a sequência ruim no Brasileirão.
Naquele momento, a Raposa era a 18ª colocada na competição e havia vencido apenas uma de suas últimas 18 partidas na temporada. O Cruzeiro teve ainda outros três técnicos naquele Brasileiro, mas não conseguiu evitar o primeiro rebaixamento para a Série B de sua história.
Menos de um mês após a saída do Cruzeiro, Mano teve a oportunidade de assumir o Palmeiras. Chegou para substituir Felipão com a missão de tentar recuperar o clube na briga pelo título brasileiro. Apesar de um aproveitamento superior a 60%, ele acabou demitido com apenas 20 jogos em uma sequência final de cinco partidas sem vitória.
O comentarista da Jovem Pan e do SBT e assumido torcedor do Palmeiras, Mauro Beting cita que a forte rejeição da torcida alviverde com Mano Menezes como um fator que atrapalhou a trajetória do treinador pelo Palestra Itália.
— O Mano teve a maior rejeição que já vi de um treinador quando foi anunciado. Era um momento delicado, de reconstrução e que se chagasse o Luxemburgo de 1993, o Felipão de 1999 ou Abel (Ferreira) de agora não teria certo. Não apenas pela identificação com o Corinthians porque outros não tiveram. Isso foi algo que ele nem o Palmeiras esperava. O Mano mal teve tempo para se arrumar, mas não se ajustou — avalia.
O jornalista Gian Oddi, comentarista dos canais ESPN, também cita essa rejeição como um fator que atrapalhou Mano. Ele ressalta que o treinador tentou adotar uma proposta de jogo mais ofensiva, mas que não teve sucesso. Mudar para um modelo mais defensivo também não deu certo.
— É possível apontar vários motivos para o fracasso do Palmeiras, mas o mais importante foi o contexto absurdo que ele encontrou quando chegou. A violência das críticas foi algo que não lembro de ter visto recentemente no futebol brasileiro. Isso te obriga a abrir mão de algumas convicções, a ser mais pragmático possível e atender a alguns desejos que talvez não sejam os principais. Dentro de campo até tentou desfazer a imagem de um técnico defensivo ou retranqueiro por ter um bom elenco, mas é verdade que não conseguiu fazer isso. O time em raros momentos produziu com volume ofensivo e foi aos poucos voltando a uma ideia de primeiro tentar não deixar o adversário jogar.
O Bahia foi o trabalho seguinte e último no Brasil. Mano Menezes foi o substituto de Roger Machado com a missão de afastar o clube da zona de rebaixamento do Brasileirão de 2020, mas não obteve sucesso. A passagem por Salvador durou pouco mais de três meses e ele acabou demitido com sete vitórias em 21 jogos. Um aproveitamento de apenas 34,9%.
— O Mano foi uma aposta errada do Bahia. O Roger Machado tinha acabado de sair com um trabalho totalmente diferente e, talvez, o Mano serviria se fosse um começo de temporada, mas não era. Ele apostou em primeiro acertar a defesa, até falou isso na reapresentação, mas não funcionou. O Bahia seguiu sofrendo bastante gol (34 em 21 partidas) e não melhorou ofensivamente. Foi uma passagem rápida e também de pouca contribuição tanto tática quanto de comportamento. A passagem do Mano foi um marco para o Bahia de que não adianta apostar em nomes de maior reconhecimento nacional se o momento não é bom — avalia Elton Serra, da ESPN Nordeste.
Mano teve uma recente passagem curta pelo Al Nassr, da Arábia Saudita, onde comandou apenas 16 partidas e teve o contrato rescindido em setembro do ano passado. Desde então, o treinador aguarda por uma nova oportunidade. Ela acontecerá no Inter, 20 anos após sua saída da base do clube.