Quando foram sorteados os grupos da Copa Sul-Americana, a maioria dos colorados nunca tinha ouvido falar no adversário da estreia, o 9 de Octubre-EQU. Uma das exceções foi Pedro Verdum, 58 anos, ex-atacante do Inter nos anos 80, que conhece como poucos o time de Guayaquil.
Após diversas passagens pelo Beira-Rio entre 1981 e 1985, sob o comando dos técnicos Cláudio Duarte, Otacílio Gonçalves e Dino Sani, o então centroavante transferiu-se para o clube do Equador em 1986, onde se tornou artilheiro, mas acabou sendo "boicotado" pelos colegas equatorianos.
— Na época, o meu passe pertencia ao Taubaté-SP, que me emprestou ao Filanbanco (clube importante do Equador naquela época, já extinto). Só que o Filanbanco já tinha estourado o limite de estrangeiros, e por isso, me repassou para o 9 de Octubre, que era um time muito pequeno na época, sem estrutura e sem dinheiro. Só que, como quem pagava o meu salário era o Filambanco, eu ganhava mais que os outros atletas e isso dava muita ciumeira nos companheiros equatorianos — conta o ex-atacante.
Gaúcho de Santo Ângelo, mas criado em Porto Alegre, Pedro Verdum recorda que, no início da sua passagem pelo 9 de Octubre, os jogadores equatorianos não passavam a bola nem para ele e nem para o meia Róbson da Silva, outro brasileiro que atuava na equipe.
— Eu ganhava na época US$ 1.200 por mês. Não era muito, mas ainda sim era um salário bem maior que o dos atletas equatorianos do time, que ganhavam uma mixaria. Então, eles ficavam com ciúmes, achando que nós ganhávamos mais só por sermos brasileiros. Aí eles montavam uma panelinha entre eles e, nos jogos, não passavam a bola para gente. Eu falava para o Robson: "Temos que passar a bola entre nós porque esses caras estão nos boicotando. Teve um jogo em que eu tive que ir até o meio-campo para tirar a bola do nosso centro-médio. Ele ficou brabo e eu respondi: "Vocês não passam a bola para mim" — relembra Pedro Verdum, que alegra que, com o tempo, a animosidade passou:
— Com o passar dos meses, fomos ganhando a confiança dos equatorianos e fizemos amizade com eles.
O ex-atacante colorado jogou no 9 de Octubre em um momento de crise financeira da instituição, pouco depois da "Era Dourada" que marcou o clube de Guayaquil nos anos 80. Desta forma, o gaúcho recorda que o clube tinha muitas dificuldades de infraestrutura.
— Não tinha estrutura nenhuma. Não tinha nada. Treinávamos na rua ou em campos de terra, como se fosse na Redenção ou no Arariboia. Eles não tinham dinheiro, não pagavam almoço e nem janta. Após o jogo, nos davam só um sanduíche de lanche. O meu almoço era o Filanbanco quem pagava — conta.
Segundo Pedro Verdum, o 9 de Octubre não tinha torcida na época.
— Eram só os parentes dos jogadores que iam aos jogos. Torcida mesmo não tinha. Jogávamos sem nenhuma pressão — relata.
Apesar das dificuldades, Verdum guarda boas lembranças do seu período em Guayaquil. Especialmente porque, diante das suas boas atuações, o Filanbanco chegou até a se arrepender de tê-lo emprestado ao 9 de Octubre.
— Eu fui bem, comecei a fazer gols e a me destacar. Aí a televisão me chamava para dar entrevista e eu fiquei mais conhecido no país. Aí os caras do Filanbanco perceberam que tinham emprestado o estrangeiro errado. Mas aí já era tarde — relembra, aos risos, o ex-atacante.
Porém, Pedro Verdum não foi o único gaúcho a fazer parte da história do 9 de Octubre. Cinco anos antes, em 1981, o clube equatoriano contratou o técnico Paulo Sérgio Poletto, também ex-jogador do Inter e que viria a ser treinador do Grêmio em 1990.
Poletto, que morreu em 2014, aos 72 anos, vítima de um câncer nos rins, ficou pouco tempo no time de Guayaquil, mas seu período marcou o início da "Era Dourada" do clube, coroada com os vice-campeonatos equatorianos de 1983 e 1984.