Professora. Engenheira. Médica. Jogadora de futebol. Na infância, qual era a sua aspiração? Entre essas e tantas outras possibilidades, a gaúcha Malu Schwaizer escolheu os gramados. Na infância, já dividia o sonho com o irmão Pedro Lucas. E ambos puderam realizá-lo.
— Com sete ou oito anos, eu fui morar em Porto Alegre porque meu irmão foi chamado para jogar nas categorias de base do Inter, e o feminino não existia ainda no Rio Grande do Sul como um clube. Então, eu jogava em escolinhas, joguei na escolinha da Duda (Luizelli). E quando eu fiz 15 anos, o meu primeiro clube foi o Santos. Eu sempre sonhei em jogar no Inter, porque eu via o meu irmão desde pequeno jogando nas categorias de base do clube e ia em todos os jogos dele, eu era apaixonada. Quando dava, eu ia nos treinos. Então foi: "Gente, eu quero muito viver isso aqui", e me identifiquei muito com o Inter — relembra a guria de 21 anos, natural de Vale Real, no interior do Rio Grande do Sul.
Em 2019, teve a oportunidade de vestir a camisa colorada. Aliás, não só isso, também conquistou títulos pela equipe.
— Eu queria muito jogar no Inter. Era um sonho meu. E ainda mais jogar junto com meu irmão. Eu fui numa época em que meu irmão estava no profissional também. Então, eu joguei na categoria sub-18 onde nós ganhamos o Brasileirão, foi o primeiro título nacional do Inter (feminino) e eu estava no time que conquistou. Isso, para mim, foi muito grandioso, e logo em seguida subi para o profissional. Foi uma época muito boa da minha vida — destaca Malu.
O time que conquistou o Brasileirão Feminino sub-18, em 2019, era treinado pela técnica Camila Orlando — que agora está nos Emirados Árabes. Entre as comandadas por ela, nomes muito conhecidos pelos torcedores colorados. Como o da goleira May, que assumiu a titularidade do profissional nesta temporada e foi chamada por Pia Sundhage para vestir a camisa da Seleção Brasileira. O da lateral Bruninha, que também é figurinha carimbada entre as selecionáveis, variando entre sub-20 e profissional, e agora defende o Santos. E, por fim, ainda estavam naquele time: a lateral Belinha e a zagueira Isa Haas, que seguem no Colorado.
Além deste título pela base, Malu também foi bicampeã estadual pelo profissional. Em 2019 e 2020, integrou os elencos vencedores no Gauchão. Depois, transferiu-se para o Bragantino. E, por lá, mais conquista: o acesso e o título à elite do Brasileirão Feminino.
— Foi um ano espetacular para nós. Fizemos uma campanha no Brasileiro A-2 muito boa, fomos muito bem no Paulista também, por ser um time muito novo, tinha dois anos de estrutura no feminino — afirma.
Acabei me apaixonando ainda mais por esse meio
MALU SCHWAIZER
sobre a moda e o empreendedorismo
E foi no interior do São Paulo que veio a decisão intitulada como "a mais difícil da vida". Em meio à pandemia, um desejo antigo voltou à tona: trabalhar com moda. Nesse meio tempo, o Bragantino ainda fez uma proposta: mais dois anos de contrato.
— Desde sempre, eu gostei muito de moda. Quando teve a pandemia, que eu voltei para casa, fiquei praticamente o ano todo em casa, e eu comecei a desenvolver a minha marca de roupa porque não tinha mais os treinos 24 horas, eu não vivia o futebol 24 horas mais. Claro que a gente tinha treino remoto ainda, mas eu consegui desenvolver a minha marca, comecei a fazer faculdade de Administração. Então, foi tudo junto, e eu acabei me apaixonando ainda mais por esse meio — complementa Malu:
— Foi muito difícil essa decisão, porque eu tinha as duas opções na minha mão: eu podia assinar com o Bragantino por dois anos ou tomar a atitude que tomei. Então, não foi: "a vida me levou a tomar essa decisão". Eu escolhi tomar essa decisão. Acho que foi mais difícil ainda, por eu ter essas duas coisas que eu tanto amo na minha mão.
Como colocar o outro sonho em prática?
Durante a pandemia, o futebol parou por um longo período no Brasil. O Brasileirão Feminino daquela temporada se iniciou em fevereiro, foi paralisado por sete meses e se encerrou apenas em dezembro. Neste meio tempo, ela começou a ter contato com a área da moda, e apaixonou-se ainda mais.
— Acabei gostando muito desse meio. E, ano passado, a minha marca de roupa estourou muito, deu muito certo. Então, este ano ou eu ficaria no futebol ou eu seguiria a minha marca. Eu tinha essas duas escolhas. E eu escolhi ficar na parte do empreendedorismo. Não com o coração tranquilo e calmo, porque foi uma das decisões mais difíceis da minha vida. Eu chorei por dois dias tentando decidir, mas coloquei tudo no papel. Foi bem difícil, a minha família esteve do meu lado, mas eu tinha essas duas coisas que estavam indo super bem na minha vida — relembra.
A empresa de Malu é focada em roupas comfy, que são mais confortáveis. Para ver os resultados e orgulhar-se dos frutos, ela envolve-se em todos os processos da Malu Concept.
Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida. Eu chorei por dois dias tentando decidir
MALU SCHWAIZER
sobre o momento em que decidiu largar o futebol
— Eu faço tudo, tanto da parte da costura, com o tecido, desenho as roupas. Tenho algumas empresas que me ajudam, que são os meus fornecedores, mas eu que vou desde a etiqueta da camiseta até o desenho delas. É uma empresa de roupas comfy, que são roupas confortáveis, roupas de moletom, camisetas, e eu decidi fazer isso no primeiro momento até para começar a minha marca. Eu não queria já fechar nichos na moda.
— Fiz uma viagem para Portugal, onde eu estudei muito a moda de lá. Geralmente, as coisas vêm da Europa para depois chegar no Brasil. Então, eu estou estudando muito para a gente poder abranger um pouco mais também as minhas peças — complementa ela.
E o futebol?
Sempre tratado como sonho, o futebol ainda não é uma porta fechada. Malu conta que ainda recebe algumas propostas. No entanto, por ora, não pensa em calçar as chuteiras novamente.
— É uma coisa que eu posso pensar mais para frente, mas eu coloquei como pausa até porque eu ainda tenho propostas para jogar em clubes, tenho propostas para fora, para jogar em Portugal. Então, eu coloquei como pausa porque a gente nunca sabe o dia de amanhã, e eu não gosto de fechar portas para tudo. Nunca fechei porta nenhuma na minha vida.
Quanto ao futebol feminino, Malu gosta de enfatizar a importância que o esporte teve em sua vida. Especialmente, para transformá-la no que é, como gosta de descrever.
— Sou extremamente apaixonada pelo futebol feminino. Eu sou quem eu sou hoje pelo futebol feminino. Eu tenho a minha marca hoje em dia por causa do futebol feminino. Então, eu quero muito lutar por essa causa ainda. Eu acho que tem muito para evoluir — finaliza.