Quando se trata de clássico Gre-Nal, Shashá pode ser considerada especialista. A atacante é uma das raras atletas que possuem no currículo passagens pelos dois clubes. Hoje, vestindo a camisa colorada, ela vai em busca do terceiro título gaúcho. A decisão contra o ex-time está marcada para o dia 5 de dezembro, na Arena Cruzeiro.
Aos 27 anos, a história de Shaiane Madeira Pedrozo, natural de São José do Norte, se assemelha a trechos da música "Levanta e Anda" dos artistas Emicida e Rael, lançada em 2014.
"Ser o único representante do seu sonho aqui na terra" se torna uma barreira quando "quem morre ao fim do mês é nossa grana ou nossa esperança".
Os trechos contrastam bem com a história da menina que aos 18 anos quase abandou o futebol para poder ajudar a família nas contas da casa.
— Tudo começou porque a minha mãe trabalhava numa escola, e não ganhava muito. Então, comecei a trabalhar no mercado para poder ajudar em casa, e, pelo menos, conseguir sair do aluguel e termos a casa própria. Porque, antigamente, no futebol tu tinhas que pagar para jogar. Eu jogava no Pelotas, sai para jogar no Rio Grande. E as minhas passagens (de ônibus), a minha mãe que pagava. Então, isso já complicava um pouco. E eu falei: "vou parar de jogar".
A mãe, no entanto, não deixou Shashá desistir. Depois de quatro anos longe de sua paixão, voltou a atuar pelo Rio Grande até chegar a chamada Seleção Gaúcha, que fez parceria com o time do Grêmio em 2017. O desempenho chamou a atenção do clube rival, que em 2018 efetuou a contratação da jogadora. Emicida e Rael já diziam: "o sonho te traz coisas que te faz prosseguir."
Ao mesmo tempo que vinha crescendo de rendimento nas temporadas com o time colorado, um novo episódio colocaria mais uma barreira a ser superada por ela. Depois da conquista do título gaúcho em 2019 sobre o Grêmio, Shashá entrava em campo em 20 de dezembro de 2020 para buscar o bicampeonato. Mas aquele jogo era diferente. A atacante estava no jogo sem a presença de sua grande incentivadora. Sandra Regina, mãe de Shashá, havia falecido às vésperas do jogo contra o Grêmio.
— Para mim, foi complicado quando eu soube que ela tinha falecido. Mas eu acho que as primeiras palavras que eu falei para o meu treinador, quando ele estava comigo foram: "as minhas coisas podes deixar, porque eu vou voltar para o jogo, vou voltar para a final" — relembra.
— A minha mãe sempre batalhou, sempre fez de tudo para eu jogar futebol, dava o melhor. Então, eu nunca ia deixar de jogar um jogo. Teve uma folga que foram três dias e eu pedi para o treinador para ficar um pouco mais. Eu estava no hospital com a minha mãe, e ela disse: "Shashá, eu não quero que tu faças gols. Quero, apenas, que tu jogues bem". Sabe quando tu sente que é uma despedida? Eu respondi: "Tá, mãe. Eu vou dar o meu melhor". Essa foram as únicas palavras que ela falou para mim — complementa.
Shashá não só esteve em campo na Arena Cruzeiro, como foi peça fundamental no título conquistado com vitória de 2 a 1 sobre o Grêmio. A taça foi em forma de homenagem.
— Foi por ela. Acho que o time todo jogou por ela. As gurias me acolheram muito, todo mundo me acolheu, como se a mãe delas tivesse falecido. Me senti muito orgulhosa da equipe que estava do meu lado ali — recorda-se Shashá.
Mais um Gre-Nal decisivo
Em 2021, a Arena Cruzeiro reserva um novo encontro. O palco do título do Inter no passado, será o mesmo. Novamente, Inter e Shashá estarão frente a frente com o Grêmio para defender a taça.
Acho que este Gre-Nal vai ser no detalhe
SHASHÁ
sobre a decisão do Gauchão Feminino
— Para nós, acho que o clássico é muito difícil, são os dois times querendo (a vitória). É uma emoção que vem lá de dentro, uma rivalidade muito grande. E eu acho que o que vai fazer a diferença é errar menos. Acho que este Gre-Nal vai ser no detalhe — opina.
Para defender uma invencibilidade que já perdura por 10 jogos diante das rivais, o segredo é manter o espírito de equipe. O terceiro título em sequência pode representar que nos basta só sonhar, seguir.
— Nossa equipe entra focada, querendo sempre mais: fazer o gol, buscar a vitória. Nosso time está bem unido, sempre foi bem unido, querendo sempre o melhor. É uma família, a gente sempre está ali uma ajudando a outra, dando o melhor dentro de campo. Acho que é nisso que o Inter ganha.