Na noite em que as principais atenções do futebol gaúcho e brasileiro estarão na luta do Grêmio contra o rebaixamento para a Série B, o Inter vai encerrar diante do Bragantino, no Estádio Nabi Abi Chedid, uma temporada que só não foi mais melancólica pela situação terrível do rival. O Colorado chega para a última rodada do Brasileirão, no Estádio Nabi Abi Chedid, com chances remotas de conquistar uma vaga na Libertadores de 2022 - e com clima de despedidas, tanto na comissão técnica quanto no elenco.
O Inter já não tem mais chances de conseguir a classificação direta para a fase de grupos da competição continental. Para entrar na etapa preliminar, precisa vencer o Bragantino e ainda torcer por uma combinação de resultados: América-MG, Atlético-GO, Ceará e Santos não podem ganhar seus jogos. Ou seja, a tendência é de que 2022 seja mesmo um ano de Copa Sul-Americana no calendário vermelho.
Esse cenário mostra como a temporada foi mal conduzida. Vice-campeão do Brasileirão de 2020 por centímetros, se levarmos em conta o gol de Edenilson anulado nos minutos finais daquela partida contra o Corinthians, o Inter havia começado 2021, ainda na reta final da temporada anterior, sob nova direção. A gestão Alessandro Barcellos apostava na reformulação da forma de atuar da equipe, com a contratação do técnico Miguel Ángel Ramírez, já a partir do Gauchão, menos de duas semanas após o fim do Brasileiro.
O começo do trabalho do espanhol até teve bons momentos, com goleadas pela Libertadores no Beira-Rio e a classificação para a final do Gauchão. A derrota na decisão estadual para o Grêmio, combinada com atuações ruins fora de casa no torneio continental, balançaram um trabalho que acabou encerrado com apenas três meses, após a eliminação para o Vitória na Copa do Brasil.
Saiu Ramirez, entrou Diego Aguirre, com proposta de jogo bem diferente daquela do espanhol, o que representou a desistência da aposta em uma filosofia de jogo tão complexa como a de Ramírez, em um elenco pouco adaptável ao seu estilo. Mesmo com Aguirre, porém, o Inter esteve longe de atingir o melhor nível da temporada passada, tanto com Eduardo Coudet quanto com Abel Braga. A goleada de 4 a 0 sobre o Flamengo e uma sequência de oito jogos sem derrota entre o final do primeiro turno e o começo do segundo foi apenas uma falsa esperança para a torcida. Antes disso, houve a eliminação precoce nas oitavas de final da Libertadores para o Olimpia, adversário que havia sido derrotado duas vezes na fase de grupos- com o treinador anterior na casamata.
Diante de tudo isso, a vitória no Gre-Nal, com gol de Taison, acabou sendo o ponto alto no Brasileirão do Inter, tratado como um empurrão para o rebaixamento do Grêmio - que se não for confirmado nesta noite, tornará a temporada colorada ainda mais melancólica. Aguirre, aliás, deverá fazer sua despedida do clube nesta noite. Na quarta-feira, Marcelo Gallardo anunciou sua permanência no River Plate, o que abre a porta para o atual treinador colorado assumir a seleção uruguaia.
Mesmo que o convite para a Celeste não venha, a direção do Inter também não tem interesse na permanência do uruguaio. Os argentinos Juan Pablo Vojvoda e Eduardo Domínguez aparecem como principais alvos dos dirigentes no momento.
Mas não apenas Aguirre está de saída. Haverá mudanças também no elenco. O Inter estuda a negociação de atletas importantes do elenco como moeda de troca na busca por reforços. Nomes antes incontestáveis, como Víctor Cuesta, Rodrigo Dourado e Patrick, podem sair. Com contrato encerrando no final deste ano, Marcelo Lomba e Saravia têm pouca possibilidade de permanecer.
Hora de mexer nos "medalhões" para 2022?
A partida contra o Bragantino, pela última rodada do Brasileirão, pode marcar a despedida de alguns jogadores que têm protagonismo no Inter dos últimos anos, casos de Marcelo Lomba, Víctor Cuesta, Rodrigo Dourado, Patrick e Edenilson. Três comunicadores do Grupo RBS foram questionados sobre quais desses jogadores o Colorado deve procurar manter para 2022.
Filipe Gamba, colunista de GZH
O Inter necessita, urgentemente, de uma reformulação e ela passa pela saída de jogadores que não conseguem mais agregar ao time. As imagens de Lomba, Cuesta, Dourado e Patrick estão desgastadas. Os quatro tornaram-se uma espécie de emblema desse Inter que não conquista títulos. Por exercerem uma posição de liderança dentro do vestiário, torna-se difícil mantê-los na condição de reserva. Sendo assim, o melhor para o Inter em 2022 seria renovar o seu elenco sem a presença dos quatro, assim como também seria positivo para Lomba, Cuesta, Dourado e Patrick encontrarem novas ambições em outros clubes. Com relação a Edenilson, em que pese a relação conturbada com setores da torcida, creio tratar-se de um jogador do qual o Inter ainda não pode abrir mão.
Rafael Colling, apresentador e comentarista da Rádio Gaúcha
Edenilson é o melhor do time, disparado, e deve permanecer. Dos outros, eu ficaria apenas com Cuesta, que é um zagueiro diferenciado. Cruza melhor que qualquer lateral do grupo colorado. Dourado, para mim, simboliza a falta de técnica e de velocidade na saída de bola do time há cinco anos e deve ser negociado. Patrick é um atleta previsível, de uma jogada só. Além disso é mais um perdedor no clube que está fazendo hora-extra. Lomba também deve sair porque se mostrou insuficiente e não há mais clima com a torcida.
Marcelo De Bona, narrador e apresentador da Rádio Gaúcha
Penso que há fim de ciclo para alguns e necessidade de reposição para outros. O Inter fala em ruptura e mudança no estilo de jogo há dois anos, porém mantém Dourado e Lindoso como titulares. Para além da análise da qualidade, está a observação nas características de ambos e o que eles entregam ao time. Teoria e prática não estão alinhadas no clube. Até as paredes do Beira-Rio sabem que o Inter precisa de volantes com maior capacidade de passe e vocação ofensiva.
Vejo um fim de ciclo para Lomba e Patrick. O goleiro pela presença de Daniel e Keiller. O volante pela constante oscilação e por ter feito em 2021 a pior temporada com a camisa do Inter. Por fim, penso que os problemas do Inter passam longe de Cuesta e Edenilson. O zagueiro, sempre que teve um companheiro à altura, mostrou eficiência na posição. O meia é de longe o jogador mais decisivo do time nas últimas temporadas. O desafio do Inter é encontrar de quatro a cinco titulares no mercado. Jogadores que sejam protagonistas e que tenham o patamar de Cuesta e Edenilson.