João Crescêncio, o único dos remanescentes do Rolo Compressor do Inter, morreu na noite de terça-feira (9), em Santa Maria. Ele tinha 102 anos e, de acordo com informações da família, teve morte por causas naturais enquanto dormia.
Russo, como foi apelidado, chegou aos Eucaliptos pelas mãos do general Flores da Cunha, seu chefe na Polícia Militar em 1937, aos 18 anos. Ficou no Inter até 1942, conquistando os títulos gaúchos de 1940, 1941 e 1942, em uma das formações mais históricas do clube, apelidada de Rolo Compressor tamanha era a superioridade com que superava os adversários.
— Ele nos deixou um legado. Sempre teve uma vida muito ativa. No ano passado, teve covid, o que deu um desgaste muito grande nele. Quando eu fizer a lápide para ele, vou escrever: "eu fui um homem muito feliz". Nunca o vi triste — relata o filho Valmir Crescêncio.
Durante o período em que João vestiu a camisa colorada, o clube contratou David Russowski, conhecido como Russinho. Não demorou muito para os colegas verem a semelhança entre os dois e apelidarem João de Russo. Além de Russo e Russinho, o time tinha outros grandes nomes. Os principais eram o atacante Carlitos, maior artilheiro da história colorada, e o ponta Tesourinha.
Colorado de coração, o ex-jogador deixou o clube em 1942 para trabalhar na Viação Férrea do Rio Grande do Sul, em Santa Maria. Na região central do Estado, fundou o Guarany Atlântico Futebol Clube. Porém, nunca se desvinculou do Inter. Valmir relata que sua casa tem diversos itens históricos, como uma carteirinha do clube de 1940, que deverá ser doada ao museu do Inter. O clube sempre mandava lembranças para João nas datas especiais, como Dia dos Pais e aniversário.
Ter jogado em um dos times mais vencedores da vida colorada o enchia de orgulho. Sempre que podia contava causos vividos com as estrelas da época.
— Jogar com Tesourinha e Carlitos era como ter jogado com Maradona. Tinha que jogar bem — exalta Valmir, que não chegou a ver o pai em campo.
Entre as histórias favoritas estavam uma envolvendo Tesourinha e outra com Carlitos. O primeiro, segundo relato de Valmir, recebia como salário no começo da carreira um litro de leite e um quilo de carne todos os dias para alimentar a família.
Era uma época em que o orçamento colorado era bem mais modesto do que os milhões atuais. O clube fornecia o uniforme, mas a chuteira tinha de ser adquirida pelos atletas. Como trabalhava na Polícia Militar e morava no quartel, João Crescêncio tinha um bom salário e poucos custos. Em um dos aniversários de Carlitos, ele levou o centroavante nas Casas Cauduro, localizada no centro de Porto Alegre, e lhe deu de presente um novo calçado para seguir marcando os seus gols.
O Inter prestou suas condolência e o homenageou nas redes sociais. "Com profunda tristeza, lamentamos o falecimento de João Crescêncio, o Russo, aos 102 anos de idade, última lenda viva do Rolo Compressor. Desejamos força aos familiares e amigos neste momento difícil", divulgou o clube.
João Crescêncio faria 103 anos em 25 de dezembro. Além de Valmir, ele também deixa os filhos Maria, Flávia e Luís Antônio, além de netos e bisnetos.