A história do Inter começava a mudar duas noites antes da final da Libertadores de 2006. O grupo colorado estava concentrado para a decisão, contra o São Paulo, naquela quarta-feira de 16 de agosto. Nesta segunda-feira (16), o título histórico completa 15 anos.
No Millenium Flat, em Porto Alegre, próximo ao Beira-Rio, o volante Tinga se imaginou fazendo o gol do título. Logo ele, um dos poucos titulares que não havia marcado naquela campanha.
— Acordei de madrugada e achei que poderia fazer o gol — recorda o ex-jogador.
Para ele, seria a redenção após a perda do título do Campeonato Brasileiro de 2005 para o Corinthians. Até mesmo por isso, pediu para a esposa que fizesse uma camiseta agradecendo a Deus para exibir caso ele marcasse o gol imaginado.
— Acabou que aconteceu. Sabia que algo maior estava reservado para mim. Fiz o gol e ainda fui expulso depois, para simbolizar ainda mais o que aconteceu em 2005 — destaca Tinga, que também levou o cartão vermelho no ano anterior na partida contra o Corinthians, que definiu o campeão nacional.
Antes disso, porém, o ambiente colorado era cercado pelo medo e pela expectativa. A equipe havia conseguido um feito gigantesco: vencer o São Paulo, atual campeão da América e do mundo, no Morumbi. O 2 a 1 na casa do rival, uma semana antes, não garantia nada, mas era um bom presságio.
— Foi um dos melhores jogos da história do clube. Fizemos uma partida quase perfeita, em uma final, contra um time como o São Paulo. Então, mesmo com toda a desconfiança, a gente começou a viver outro momento ali — garante Tinga.
Por outro lado, essa desconfiança a qual o ex-volante se referia era percebida por todos. Enquanto torcedores não se deixavam levar pela euforia, temendo que os roteiros de 1980 ou 1989 pudessem se repetir, os jogadores sentiam a pressão que carregavam nos ombros pelos fracassos anteriores na competição.
— No jogo de volta, no Beira-Rio, a gente sentia o medo. Era um medo muito grande. Depois, com a bola rolando, a gente foi se soltando. A imprensa falava muito que o Abel havia perdido (em 1989, para o Olimpia, na semifinal). Era uma esperança, mas com medo — lembra Rafael Sobis, que havia marcado os dois gols da vitória em São Paulo.
O que dava forças para o time era o torcedor. Como os atletas estavam concentrados em um hotel próximo ao Beira-Rio, conseguiam ver a movimentação em torno do estádio.
— A cidade toda estava tomada de vermelho. Para onde tu olhava, tinha alguém com a camisa do Inter. Foi incrível a mobilização para aquela final — conta Tinga, que foi fotografado lendo a Zero Hora na manhã da conquista:
— Ler o jornal no dia do jogo histórico ajudava a trazer a dimensão do que significava aquela partida.
No jogo, todos os colorados lembram dos gols de Fernandão, no primeiro tempo, e de Tinga, no segundo. Também se recordam da expulsão do ex-volante, que levou o segundo amarelo por levantar a camisa do Inter para mostrar, na camiseta que usava por baixo, a frase: "Obrigado Jesus". Ele só queria agradecer pelo gol, pelo título que se encaminhava, e acabou vivendo um drama em pouco mais de 20 minutos.
Os momentos entre o gol e o fim da partida foram no vestiário, a maior parte ajoelhado, rezando. O ex-volante sabia o que estava em jogo: ficaria marcado ou como o autor do gol do título ou como o jogador que foi expulso e prejudicou a equipe na final. Para a felicidade dele e de todos os colorados, ouviu os gritos da torcida e recebeu o recado de Gentil, roupeiro do clube:
— O Inter é campeão.
Depois disso, tudo foi festa. Como ele mesmo descreve, o Inter passou, de fato, a ser internacional. Se até a conquista da Libertadores de 2006 o clube era um gigante dentro do país, mas nem tanto fora dele, a partir daquele título todos na América do Sul souberam quem era o Colorado. O que o planeta descobriria meses depois.