O Inter saiu de La Paz com uma derrota por 2 a 0 nas costas, na estreia pela fase de grupos da Libertadores. A altitude de 3,6 mil metros atrapalha, claro. Mas a própria comissão técnica e os jogadores minimizaram os efeitos da falta de ar e reconheceram seus erros na derrota diante do Always Ready.
O técnico Miguel Ángel Ramírez admitiu que demorou a entender o jogo do time boliviano, que teve o retorno do argentino Omar Asad ao comando. Ele reestreou na terça-feira (20), o que dificultou a análise colorada do que viria a enfrentar na Bolívia.
Além disso, a equipe gaúcha não conseguiu executar bem o chamado jogo de posição que Ramírez tenta implementar. O Inter teve pouco a bola, abusou das ligações diretas e, quando conseguiu trocar passes, não teve objetividade para criar chances de gol.
Agora, terá de buscar os pontos nos próximos jogos — as duas próximas rodadas serão no Beira-Rio. Na próxima terça-feira, o adversário será o Deportivo Táchira, da Venezuela, que venceu o Olimpia na estreia. Depois, no dia 5 de maio, será a vez de receber os paraguaios em Porto Alegre.
Confira cinco erros cometidos pelo Inter:
1) Escalação
O primeiro erro colorado na Bolívia foi na escalação inicial. Sem Patrick, Praxedes e Yuri Alberto, a equipe perdeu poder de fogo e qualidade na criação das jogadas. Com Palacios e Caio Vidal no ataque, o Inter tinha velocidade, mas não conseguiu explorar essa virtude dos jogadores, já que a bola pouco chegava.
No meio, Mauricio não conseguiu ser o armador que se esperava e distribuir bons passes. E o ingresso de Galhardo como centroavante também não surtiu o efeito desejado, já que ele pouco conseguiu fazer entre os zagueiros. Há, ainda, quem discuta a escolha por Zé Gabriel na zaga, já que foi dele o erro no segundo gol boliviano.
2) Leitura errada do adversário
Como o próprio Ramírez admitiu, ele demorou a entender o jogo proposto pelo técnico Omar Asad, que escalou o Always Ready no 3-5-2, e não no 4-2-3-1 com o qual o Inter havia analisado o adversário. Essa dificuldade foi notória em campo, já que o Inter, acostumado a ter mais posse de bola, teve o domínio apenas por 46% no tempo na etapa inicial.
No segundo tempo, o treinador colorado ainda tentou espelhar o modelo de três zagueiros, colocando Lucas Ribeiro na vaga de Caio Vidal e formando uma dupla de ataque com Yuri Alberto no lugar de Palacios, abandonando o 4-3-3 para dar lugar ao 3-5-2, mas o time pareceu desajustado e deu espaços para os bolivianos abrirem o placar.
3) Substituições
Desde as trocas do intervalo, quando modificou o esquema da equipe, Ramírez não acertou a mão. Inicialmente, sacou os dois extremas para dar lugar a um zagueiro e um centroavante, dando mais liberdade aos laterais. Mas, como o time não está habituado a jogar nesta formação, as dificuldades foram visíveis.
Depois, sacou Edenilson, que fazia boa partida, para a entrada de Praxedes, enquanto Mauricio tinha mais dificuldade no jogo. A lesão de Lucas Ribeiro poderia ter devolvido ao Inter o ímpeto ofensivo, com a entrada de um jogador mais agudo, como Patrick, mas o treinador optou por colocar Nonato aos 24 minutos do segundo tempo. Aos 31, ainda fez uma mudança de laterais: sacou Moisés e colocou Rodinei, o que não permitiu uma reação em La Paz.
4) Falta de objetividade
O Inter teve menos a bola do que de costume. Embora tenha encerrado a partida com posse superior à do Always Ready (55% a 45%), trocou menos passes do que o rival boliviano — algo inédito sob o comando de Ramírez. Uma estatística que serve de alerta é que 25% da posse de bola colorada no jogo foi perto da meta defendida por Marcelo Lomba — e pouca no campo de ataque.
Também errou muitos passes (76% de acerto) e abusou das ligações diretas. Ou seja, quando teve a bola, não soube ser aquele time agressivo e objetivo como em outros jogos. Prova disso é que, apesar de ter acertado a trave uma vez, a equipe colorada não criou nenhuma chance clara de gol. Além disso, das sete finalizações, apenas duas obrigaram Lampe a trabalhar. O rival, no entanto, chutou 12 vezes (quatro no gol de Lomba).
5) Espaços na intermediária
O posicionamento defensivo do Inter não funcionou como deveria e a equipe deu muitos espaços para o Always Ready. Especialmente em jogos como o de terça-feira, em altitude como a de La Paz (3,6 mil metros acima do nível do mar), permitir que o adversário finalize, mesmo que de longe, é um perigo.
E o Inter deu essa liberdade na intermediária para os bolivianos, que chutaram 21 vezes — 11 de fora e 10 de dentro da área. Em uma dessas finalizações, com a marcação colorada distante, saiu o golaço de Saucedo, que abriu o placar aos sete minutos do segundo tempo. As trocas no Inter e a necessidade de buscar o empate também deram mais campo para a equipe da casa, que teve outras oportunidades e pararam nas defesas de Lomba. Em jogo como esse, não se pode dar espaço.