Foi tudo tão ruim para o Inter na partida contra o Sport que não bastou só ter interrompido a série de 12 jogos invicto, permitir aproximação do Flamengo e deixar mais dramática a briga pelo título brasileiro. A isso tudo, somou-se a suspensão de Patrick, que levou cartão amarelo em um lance na área interpretado pelo árbitro Rodolpho Toski Marques como simulação. O meia, autor do gol da partida, está fora da partida contra o Vasco.
Essa ausência deve ser sentida pelo Inter. Patrick só não esteve em campo em quatro partidas e sem ele, o time não venceu nenhum jogo: empatou com o São Paulo e perdeu para Goiás, Santos e Fluminense. Com ele, o aproveitamento é de 70%.
Resultados à parte, Patrick executa uma função que só ele parece ser capaz de fazer entre os integrantes do grupo do Inter. Responsável pelos movimentos ofensivos e defensivos no corredor esquerdo, tem mostrado boa capacidade de drible e também de combate. Faz o que os técnicos costumam chamar de "arrasto" (quando o jogador leva os adversários para o canto, na tentativa de obstruí-lo, é como se de fato arrastasse os oponentes), na base da força e da habilidade.
O que não deixa de ser curioso, já que Patrick chegou do Sport contratado como volante, em 2018. Com Odair Hellmann, formava um tripé com Dourado e Edenilson. Foi a partir da chegada de Eduardo Coudet que acabou fixado em um setor mais ofensivo. O argentino contou que viu vídeos do jogador e disse não entender como alguém poderia considerá-lo um jogador de defesa.
Abel Braga efetivou-o como extrema esquerda. Extrema é basicamente um novo jeito de chamar os antigos ponteiros, apesar de, atualmente, esses jogadores terem mais atribuições ofensivas. É nessa posição que Patrick cresceu e se notabilizou no time. Com liberdade, tornou-se uma das principais armas, principalmente ofensivas. Dos últimos três gols do Inter, marcou dois e fez a jogada que virou pênalti diante do Bragantino.
— Patrick é a intensidade do Inter. É o cara que carrega, que vai buscar — elogiou o narrador Galvão Bueno, no SporTV.
Sem esse jogador, Abel Braga precisará escolher se apenas trocará nomes ou se mudará também a formação. Isso só deve ocorrer, porém, se Thiago Galhardo estiver de volta. Assim, ele retomaria a posição de centroavante e Yuri Alberto poderia ser deslocado para o lado, missão que já fez outras vezes.
— Galhardo está recuperado da lesão, deve estar no bolo para domingo — limitou-se a dizer o treinador.
Se não estiver em condições, A seguir veja as características dos principais concorrentes à vaga de Patrick.
As opções
Marcos Guilherme
Se não é lá muito amado pela torcida, ao menos no termômetro das redes sociais, o jogador que chegou no início do ano vindo dos Emirados Árabes tem bom conceito entre os treinadores. Marcos Guilherme é considerado um jogador cumpridor, que obedece a tudo o que lhe é pedido. Por outro lado, não faz um gol desde 2 de agosto de 2020, ainda pelo Gauchão. Abel Braga elogiou bastante seu desempenho após o empate em 0 a 0 com o Athletico-PR, quando foi escalado para marcar o lateral Abner. Como no Vasco deve atuar Pikachu pelo setor, um lateral bastante ofensivo, não se descarta que seja o escolhido.
Peglow
Uma das principais promessas da base colorada, Peglow começou 2020 em alta, sendo camisa 10 da seleção campeã do Mundial sub-17. Promovido ao time principal sem passar pour outras categorias, sofreu no processo de adaptação. Teve fratura por stress e ficou afastado. Com Abel, viveu a situação curiosa de ter sido colocado e retirado de um mesmo jogo. O treinador, porém, lhe deu moral. Inclusive quando o jovem de 18 anos assumiu a responsabilidade de cobrar um pênalti na decisão da Bombonera, pela Libertadores, e acabou desperdiçando. Fez gols importantes contra Atlético-MG e Fortaleza.
Maurício
Contratado do Cruzeiro na negociação que envolveu a ida de Pottker, Maurício trabalhou com Abel no clube mineiro. Mas nem esse conhecimento prévio lhe garantiu prioridade na fila de opções. Figura frequente nas seleções de base, o jogador de 19 anos tem apenas 240 minutos divididos em seis jogos no Brasileirão. Sua última aparição foi no Gre-Nal. Marcou um gol, contra o Fluminense. Não é originalmente um meia de corredor, mas a seu favor pesa o fato de ser canhoto, assim como Patrick. Tem a característica do drible e do chute, mas menos intensidade na marcação e na recomposição.
Thiago Galhardo
Sua presença está condicionada à forma física, já que se recupera de lesão muscular. O goleador do time no campeonato, é claro, não entraria como extrema. Ele voltaria em sua nova posição, no comando do ataque, e Yuri Alberto seria deslocado para a beirada. O mesmo raciocínio se aplica a Abel Hernández. Yuri Alberto, apesar de ser centroavante de origem, já fez essa função outras vezes, inclusive no próprio Inter. Em entrevista recente a ZH, garantiu não ter problemas se precisar jogar pelos lados do campo. É um jogador vertical, que busca o gol sempre. Ao mesmo tempo, exigiria um esforço de marcação.
Colunistas opinam
Filipe Gamba
Abel Braga está diante do seu maior desafio: encontrar uma maneira de minimizar o impacto causado pela ausência de Patrick contra o Vasco. Não há, no curto elenco colorado, um jogador capaz de substituir Patrick à altura. A perda de qualidade e o impacto no rendimento da equipe serão inevitáveis e Abel precisa encontrar uma maneira de fazer com que essa perda não comprometa sobremaneira o desempenho da equipe naquele que deverá ser o jogo mais importante do campeonato para o Inter. Apostar em um modelo defensivo, mais resguardado não é a melhor estratégia para o Rio de Janeiro. O Inter precisa vencer e precisa de jogadores capazes de mudar o jogo. Apesar da juventude e da pouca experiência, acredito que pela qualidade e pelo enorme potencial, o garoto João Peglow seria a opção apropriada para o momento. Contra o Sport, foi ele o escolhido para entrar na vaga de Patrick, talvez um indicativo de tendência. O fato é que a ausência de Patrick é uma perda irreparável.
Marcos Bertoncello
A margem de erro foi perdida com a derrota para o Sport e é fundamental o Inter chegar com o mínimo de gordura diante do Flamengo na penúltima rodada. Para enfrentar um Vasco desesperado e em mau momento técnico, e que ainda promete dar espaços, Abel Braga precisa montar um time agressivo. Com a possível volta do seu artilheiro, Thiago Galhardo, minha escolha seria deslocar o Yuri Alberto para o lugar de Patrick, formando um 4-1-4-1. Curiosamente esta estratégia foi usada no empate com o Atlético-MG no Mineirão há dois meses. Leandro Fernández atuou de "falso 9", tendo o Yuri pelo flanco esquerdo.
Marcelo De Bona
É uma questão de saber como está Thiago Galhardo. Se tem condições de atuar, optaria por ele. Mas não aberto, por não ter a velocidade nem o ritmo que o lado do campo exige. Poderia ser centroavante, com Yuri Alberto deslocado para a beirada. Se não estiver em condições, penso que a disputa deva ser entre Maurício e Peglow. O primeiro deixa o time mais encorpado. O segundo representa mais ofensividade. Há de se levar em conta a volta de Moisés, importante para o setor esquerdo. Não usaria Marcos Guilherme, que pouco entrega quando joga. Começaria com Maurício.