A ausência de Cuesta e a necessidade de se pagar uma multa milionária para contar com Rodinei no jogo decisivo contra o Flamengo dominaram o noticiário do Inter até o momento e tiraram os holofotes de onde, pela primeira vez, há fartura. Se atrás as dúvidas são por carência, na frente, Abel Braga tem uma equação positiva a resolver. O retorno de Thiago Galhardo, com gol, e a versatilidade de Yuri Alberto abrem uma discussão sobre o sistema ofensivo que entra em campo às 16h de domingo (21), no Maracanã, na partida que pode valer o título do Brasileirão.
O leitor mais desavisado poderia até não entender como o goleador do Brasileirão, presente na última convocação da Seleção e autor de um gol na última rodada não seria titular de um time que precisa vencer para ser campeão antecipado. É que Galhardo não é um centroavante puro, da trombada com o zagueiro, do pivô. E estava fora do time há mais de um mês, recuperando-se de lesão.
Dos 17 gols que ele marcou no Brasileirão, 15 foram sob o comando de Eduardo Coudet, que montava o time com dois atacantes centralizados. Naquele sistema, Galhardo não precisava se preocupar com as tarefas "sujas" dos centroavantes, como dividir com zagueiros, segurar bola lançada para o ataque, disputar cobrança de tiro de meta pelo alto, segurar tranco de encontrão. Primeiro, Guerrero, e depois Abel Hernández, tinham essas missões.
Quando Abel Braga mudou o sistema, trocando um dos atacantes por um criador, Galhardo sofreu. Em compensação, Yuri Alberto aproveitou. O jogador de 19 anos é centroavante de nascença. Forte e rápido, ganhou seu lugar no time mostrando também a faceta de goleador. Apesar de jovem, demonstrou frieza quando chegou à frente dos goleiros, especialmente contra Ceará, Palmeiras e São Paulo. Diante do Tricolor paulista, aliás, fez até um gol sem olhar para a trave, estilo Ronaldinho. Inclusive, foi seu último no Brasileirão. Desde então, ainda que tenha feito bons jogos, não balançou as redes.
— Não estamos no dia a dia, isso dificulta a análise, mas o Inter tem sido mortal, principalmente fora de casa, aproveitando os contra-ataques. Galhardo voltou bem, fazendo gol, até se emocionou. Vi nas redes sociais que ele tem apoio da torcida. Yuri também está bem, tem veia goleadora, se encaixa no esquema. É a típica dúvida que só o treinador, com a convivência pode tirar — analisa o ex-centroavante Leandro Machado, autor dos dois gols na vitória do Inter por 2 a 1 sobre o Flamengo, no Maracanã, no Brasileirão de 1994.
Essas características de Yuri Alberto permitem uma terceira via. Por mais que seja centroavante de origem, ele mesmo deixou portas abertas para jogar aberto, e pelos dois lados. A GZH, lembrou que foi escalado assim na seleção sub-17 e garantiu não ter qualquer incômodo com a mudança. Pelo Inter, desempenhou essa função diversas vezes, circunstancialmente, e diante do Ceará, era nesse lugar que estava quando fez o gol, arrancando com a bola depois de um desvio de Abel Hernández, executando o papel de pivô.
Se optar por ele, Abel Braga pode abrir mão de Caio Vidal, por exemplo, o que tira drible mas dá outra alternativa ofensiva importante.
— Como Rogério Ceni insiste com Arão na defesa, isso tem deixado vulnerável a bola aérea. A defesa ficava mais forte quando tinha uma dupla de zagueiros de verdade, como Rodrigo Caio e Natan ou Gustavo Henrique, mais Arão no combate no meio-campo. Diego não é esse jogador — acrescenta José Carlos Araújo, o Garotinho, histórico narrador de rádio do Rio de Janeiro, atualmente na Tupi.
De fato, a bola aérea defensiva é um dos problemas do time. Dos 45 gols que sofreu, 14 partiram de cruzamentos. E isso pode pesar na escolha de Abel Braga.
As três opções
1 — Yuri Alberto de centroavante, Caio Vidal na direita
É o jeito mais habitual do Inter. A presença de Caio Vidal dá velocidade pelo lado direito e tem crescido nos lances individuais. É a válvula de escape e pode ser importante já que a faixa esquerda é a mais vulnerável do Flamengo. Com Yuri, o time tem mais vantagens nas disputas aéreas entre centroavante e zagueiros. Não há tanta troca de passe.
2 — Galhardo de centroavante, Caio Vidal na direita
Antes da lesão de Galhardo, foi a formação que Abel encontrou para ter mais amplitude e rapidez. Por ser um meia de origem, Galhardo participa mais das jogadas pelo chão, redistribui o jogo, troca passes. O time perde em força, principalmente na hora de brigar por bolas lançadas ou rebotes, mas ganha em em toques curtos e manutenção de posse.
3 — Galhardo de centroavante, Yuri Alberto na direita
Essa opção foi pouco testada, mas já ocorreu em alguns minutos. Yuri tem a mesma velocidade de Caio Vidal, com a vantagem de ser mais vertical, de procurar mais o gol e ter mais força para as disputas. Por outro lado, teria de fazer um sacrifício físico enorme para acompanhar os atacantes flamenguistas. Há um acréscimo nas jogadas aéreas.