Quando enfrentou o América-MG, na partida de volta das quartas de final da Copa do Brasil, Abel Braga escalou um time com os jogadores mais cascudos à disposição. O objetivo era vencer no Independência e sobreviver na competição. Até conseguiu ganhar no tempo normal, graças, curiosamente, a um gol de um jovem (Yuri Alberto), mas perdeu nos pênaltis. Agora, contra o Boca Juniors, o Inter se vê no mesmo dilema. Precisa ganhar na Bombonera, um estádio tradicionalmente difícil, mas são os guris que dão as melhores respostas.
Naquele jogo contra o América-MG, o treinador justificou assim sua escolha:
— Não tem tática, não tem estratégia. Coloquei uma equipe mais experiente pelo grau de dificuldade do jogo.
Mas desde sua chegada, e até no jogo anterior, ainda sob comando de Coudet, os gols colorados foram marcados por meninos. O levantamento foi feito inicialmente pelo repórter Eduardo Deconto, do GE.Globo. As últimas cinco vezes que o Inter balançou as redes adversárias tiveram como executores: Yuri Alberto (19 anos) duas vezes, Nonato (22 anos), Mauricio (19 anos) e João Peglow (18 anos).
Atualmente, dos quatro jogadores que marcaram gols, apenas Yuri tem sido titular habitual. E entre os demais egressos da base colorada (excluindo-se Dourado e Moledo, que, apesar de terem passado pela formação, já são mais experientes), Heitor é o único que recebe mais chances para começar (e nem sempre, uma vez que divide a lateral com Rodinei). Nonato, Praxedes, Maurício, Peglow e Caio Vidal, promovido, inclusive, pela atual comissão técnica, normalmente iniciam as partidas sentados no banco.
— Em relação aos garotos, eles têm entrado bem nos jogos. É o dia a dia que vai nos mostrar quem deve ir entrando — elogiou Leomir Souza, auxiliar de Abel que tem comandado a equipe nas partidas enquanto o treinador se recupera de covid-19.
A utilização de jovens, porém, é sempre um tema delicado. Ao mesmo tempo em que há a necessidade de revigorar a equipe, apresentar caras novas e ter um fator surpresa, existe o risco de queimar o jogador ou pular etapas na fase final de maturação.
Lateral-esquerdo na década de 1990, Daniel Franco foi um exemplo desse aproveitamento de jovens. Em um time cascudo, ele foi promovido antes mesmo de fazer 20 anos e se fixou como um dos melhores do Inter que conquistou a Copa do Brasil de 1992 e disputou a Libertadores do ano seguinte.
— Tem que apostar no atleta, no jovem, na formação. Agora que a nova comissão técnica já tem um tempo de convivência, pode dar mais chances. O Abel é especialista nisso, sabe tirar o melhor de cada jogador. Nada melhor do que um jogo grande, na Bombonera, para dar uma resposta — comentou o ex-lateral, que acrescentou: — São meninos que, talvez seja mesmo colocar peso demais buscar a vaga em Buenos Aires. Mas se não tiverem a responsabilidade de serem protagonistas, e sim uma peça que se encaixa na engrenagem do time, podem ajudar bastante.
Na Bombonera, o Inter não poderá repetir Belo Horizonte: precisará de tática, de estratégia, de experiência e, também, de juventude.
As chances dos guris
Heitor
Deve voltar a ser titular em Buenos Aires. Apesar de ter passado trabalho contra Villa no jogo de ida, acabou sendo a única válvula de escape nos ataques pelo lado direito. Compensa eventuais problemas de marcação com bons cruzamentos e coragem para se somar ao ataque. Tem quatro assistências contra zero de Rodinei.
Praxedes
Entrou bem no Mineirão, deu nova dinâmica ao meio-campo colorado. De estilo mais clássico, foi o destaque do time no título da Copa São Paulo em janeiro. Não deve ser titular principalmente porque Edenilson está liberado para voltar ao time.
Nonato
É o mais veterano dos guris, com 22 anos. Seu começo de ano não foi bom, o que lhe fez perder espaço com Coudet (principalmente para a função mais adianta do meio-campo). Depois, conseguiu recuperar seu futebol e quando se preparava para engatar sequência, pegou covid-19. Agora está voltando, mas não deve ser titular.
João Peglow
O mais jovem, tem 18 anos, viveu uma situação inusitada em sua primeira partida com Abel Braga: entrou e saiu no mesmo jogo. Apesar disso, foi elogiado. Domingo passado, voltou a receber chances e marcou o gol do empate. Subiu na fila de opções para entrar na quarta-feira.
Mauricio
Contratado em uma troca com William Pottker, é sempre um dos primeiros a entrar nas funções de armação do meio-campo. Fez um gol (contra o Fluminense) e participou do empate com o Atlético-MG. Veloz e canhoto, não tem medo de arriscar de fora da área.
Yuri Alberto
Titular absoluto do Inter atual, goza de bom prestígio na comissão técnica. Segundo Leomir, o ex-atacante do Santos "pode jogar nas três funções da frente. Tanto pelos lados ou como 9". A tendência é de que forme dupla com Thiago Galhardo na partida de quarta-feira.