Desde o início da temporada, o Inter se viu obrigado a utilizar atletas das categorias de base na equipe profissional. Sem verba para fazer muitas contratações, o técnico Eduardo Coudet teve de aproveitar os guris do Celeiro de Ases logo no começo de 2020. Após a saída do treinador argentino, Abel Braga teve o mesmo desafio: aproveitar os jovens para suprir carências do elenco.
Alguns já estavam no "time de cima", como Heitor, Nonato ou o já experiente Rodrigo Dourado. Outros não chegaram a ser utilizados ainda, embora figurem no grupo profissional, como o goleiro Emerson Júnior, o zagueiro Tiago Barbosa e o meia Lucas Ramos. Teve, ainda, os jogadores contratados com idade sub-20, como Mauricio e Yuri Alberto. Nenhum desses foi contabilizado.
Porém, mesmo sem esses atletas na lista, o Inter promoveu e utilizou nove atletas criados no Celeiro de Ases ao longo do ano. Alguns mais, outros menos. Mas em todos os setores do campo foi aproveitado ao menos um garoto, o que demonstra a qualidade no processo de formação feito pelo clube, que é o atual campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a principal competição de base do país.
Veja como foi o desempenho desses garotos:
Pedro Henrique (zagueiro)
O zagueiro de 19 anos chamou atenção ao longo da Copa São Paulo e foi chamado por Eduardo Coudet para completar o grupo profissional mesmo antes do término da competição de base. Considerado um atleta de boa técnica e imposição física, ele disputou seis jogos pela equipe principal (quatro no Gauchão, um na Copa do Brasil e um no Brasileirão). Soma 454 minutos em campo pelo time profissional em 2020.
— Pedro Henrique é um zagueiro muito determinado. Tem boa estatura e vigor físico, além de liderança. Dá conta do recado na bola aérea e possui muita qualidade para desarmar. Outro fundamento que chama atenção é o lançamento, pois bate com facilidade na bola com o pé direito. Merece mais oportunidades, especialmente quando começar o Gauchão. No entanto, a concorrência é grande e o atleta precisa ter paciência para aguardar o seu momento — entende Rafael Colling, apresentador e comentarista da Rádio Gaúcha.
Carlos Eduardo (zagueiro)
Companheiro de Pedro Henrique na dupla de zaga da equipe sub-20 no começo da temporada, Carlos Eduardo também tem 19 anos e ganhou uma chance entre os profissionais. Foi ainda no Gauchão, na vitória por 2 a 0 sobre o Novo Hamburgo, que o garoto entrou para substituir Nonato no segundo tempo e jogar os únicos 45 minutos pelo time principal. Apesar de não ter comprometido, não foi muito bem avaliado na cotação de GZH após a partida, levando uma nota 6:
"Embora não tenha culpa direta, sua entrada na equipe coincidiu com o crescimento do Novo Hamburgo".
Zé Gabriel (zagueiro)
Embora já tivesse participado de duas partidas do Brasileirão do ano passado sob o comando de Odair Hellmann, não havia se firmado entre os profissionais. Também passou por uma troca de posição: foi de volante para zagueiro, por indicação do técnico Eduardo Coudet. Após a saída de Bruno Fuchs, vendido ao CSKA Moscow em agosto, assumiu a titularidade na defesa, ao lado de Víctor Cuesta, devido à boa qualidade no passe.
Com 21 anos, o garoto disputou 33 pelo Inter em 2020, sendo titular em 26 delas. Teve grandes momentos e outros nem tão bons, com erros que qualquer garoto ainda em desenvolvimento pode cometer. Nos últimos jogos com Abel Braga, perdeu a titularidade para Rodrigo Moledo, mas fecha o ano com ótima minutagem.
— Em 2019, com Odair, fez sua estreia conta o Fluminense no Rio de Janeiro. Atuava como primeiro ou segundo volante. Virou zagueiro com a chegada de Coudet. Mas ele tem apenas 21 anos e, por mais que tenha apresentado uma queda no seu rendimento, sou contra condenar jogadores de maneiras definitivas, principalmente jogadores da base. Alguns erros individuais lhe custaram a titularidade. Depois de um início promissor, Zé Gabriel encerra a temporada em baixa, mas com potencial para ser explorado pelo novo treinador em 2021 — avalia Filipe Gamba, apresentador da Rádio Gaúcha e colunista de GZH.
Leonardo Borges (lateral-esquerdo)
Natural de Pelotas, o lateral de 19 anos é mais um que teve bom desempenho na Copa São Paulo e foi chamado para integrar o grupo principal. Esperava-se, inclusive, que tivesse mais chances, já que nem Uendel nem Moisés conseguiu ser unanimidade. Porém, disputou apenas um jogo pela equipe profissional, no empate em 0 a 0 com o América de Cali, pela Libertadores.
No 90 minutos em que esteve em campo, o desempenho deixou a desejar. Estrear em um jogo de Libertadores parece ter assustado o garoto, que levou nota 5,5 na cotação de GZH:
"Um lance em sua primeira tentativa claramente lhe tirou a coragem. Simplificou o que pôde na emergência".
Johnny (volante)
Nascido em Denville, pequena cidade do Estado americano de Nova Jersey, nos Estados Unidos, o volante colorado de 19 anos cresceu em Criciúma, Santa Catarina. Chegou ao Inter há seis anos como atacante, depois virou meia, artilheiro e capitão da equipe sub-20. Nos profissionais, ganhou oportunidades como volante. Foram 15 jogos até agora na equipe principal (quatro no Gauchão, três na Libertadores, um na Copa do Brasil e sete no Brasileirão), iniciando nove como titular. Como quase todos os garotos, lhe falta regularidade.
— Por culpa de lesões e convocações, ainda é pequena a amostragem do menino Johnny com a camisa do Inter. Entretanto, nas poucas atuações, mostrou intimidade com a bola e um bom índice nos desarmes dois atributos indispensáveis para um volante. Com mais tempo para treinar, jogar e se entrosar com os companheiros, pode virar uma boa alternativa para o time e uma alegria para o tesoureiro do clube — afirma Guerrinha, comentarista da Rádio Gaúcha e colunista de GZH.
Praxedes (meia)
Um dos principais nomes do Inter na conquista da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o meia Bruno Praxedes tem apenas 18 anos e já conseguiu destaque no elenco profissional do Inter. Foram 25 jogos pelo time principal na temporada, 10 deles iniciando como titular. Ainda não marcou gols na equipe "de cima", mas tem se mostrado cada vez mais à vontade em campo, tanto que iniciou as últimas três partidas como titular do time de Abel Braga.
— Praxedes foi uma das melhores notícias do Inter neste 2020. Confirmou tudo o que se esperava dele desde os 15 anos no Fluminense. Surgiu lá como uma joia rara e só saiu porque, aos 16 anos, achava que deveria ter mais espaço no sub-17. No Inter, pulou etapas. Foi sub-20 com 17 anos e titular do time principal com 18. É jogador de área a área, moderno e daqueles que esquadrinham o campo. Tem muito a crescer, principalmente, fisicamente — ressalta Leonardo Oliveira, comentarista da Rádio Gaúcha e colunista de GZH.
Caio Vidal (atacante)
O guri de 20 anos foi chamado como elenco surpresa por Abel Braga para o duelo de volta das quartas de final da Copa do Brasil, contra o América-MG, em 18 de novembro. Desde então, apareceu em cinco jogos na equipe profissional, já que o treinador buscava no elenco um jogador de velocidade para atuar aberto no ataque. Foi titular em três jogos e foi importante nessa melhora de rendimento da equipe na reta final de 2020.
— É um atacante de lado, com potencial de crescimento, mas não fez nenhuma atuação que me enchesse os olhos após as oportunidades que lhe foram dadas por Abel Braga. Inclusive, não concordo com a titularidade dele ao lado de Thiago Galhardo, fazendo com que Yuri Alberto seja reserva. Um outro ponto de destaque sobre o Caio: no pouco que vi, não gostei de algo do comportamento dele em campo. Vi o Caio ao ser tocado, com falta ou não, ser um tanto espalhafatoso, estilo Marinho, do Santos. Muita "cena" para pouca causa. É preciso corrigir esta postura — salienta o narrador da Rádio Gaúcha, Gustavo Manhago.
Léo Ferreira (atacante)
Emprestado ao Inter pelo Desportivo Brasil, o atacante de 20 anos não deve permanecer no Beira-Rio. Apesar de ter feito parte do grupo campeão da Copa São Paulo, no início do ano, não conseguiu se firmar no time. Teve uma chance entre os profissionais, na derrota por 1 a 0 para o Fortaleza, em 19 de setembro, pela 11ª rodada do Brasileirão, e não foi bem. Levou uma nota 4,5 na cotação de GZH:
"Sentiu a dificuldade física nos duelos com os defensores do Fortaleza. Normal para quem teve a primeira chance entre os profissionais".
Peglow (atacante)
Campeão mundial sub-17 com a Seleção Brasileira em 2019, João Peglow tem apenas 18 anos e vem recebendo oportunidades na equipe profissional desde o início do ano. Soma 253 minutos em campo em 12 jogos no time principal, com um gol marcado, no empate em 2 a 2 com o Atlético-MG, em 6 de dezembro, pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro. Depois, perdeu o pênalti decisivo contra o Boca Juniors, que tirou o Inter da Libertadores, mas ainda assim é considerado a principal promessa da base colorada para 2021.
— Peglow joga em uma das posições de maior carência do Inter nas últimas temporadas. O time precisa de um atacante de velocidade, com drible e bom chute. Peglow reúne essas características, que foram evidenciadas na Seleção. Certamente 2020 trouxe muito aprendizado ao jovem atacante colorado. Ele foi do primeiro gol no profissional a um pênalti desperdiçado que custou eliminação da Libertadores. O torcedor certamente vai ver mais vezes o talento e a personalidade da joia colorada em 2021 — destaca Marcelo De Bona, narrador da Rádio Gaúcha.