De uma chegada cercada de muita expectativa para uma saída surpreendente, em meio às disputas do Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil. Assim se deu o ciclo de Eduardo Coudet no Inter, encerrado 11 meses após seu anúncio. GZH recorda 10 momentos vividos pelo argentino em sua passagem pelo Beira-Rio. Confira:
1) Suspense e apresentação
O Inter acertou a contratação de Eduardo Coudet quando ainda disputava as últimas rodadas do Brasileirão de 2019, sob o comando de Zé Ricardo. O próprio argentino também jogava o campeonato nacional com o Racing. Por isso, a oficialização do acordo só foi feita no dia 16 de dezembro. Dois dias depois, o treinador desembarcou em Porto Alegre para que, em 19 de dezembro, conhecesse o Estádio Beira-Rio e concedesse sua primeira entrevista coletiva.
— Coudet tem várias virtudes, entre elas a velocidade com que seus times desempenham futebol dentro de campo, e a forma intensa com que se entrega ao trabalho — declarou o presidente Marcelo Medeiros logo depois de presentear o técnico com um cachecol do clube.
2) Pedido por reforços
Antes mesmo de começar seu trabalho, o treinador pediu inúmeros jogadores que se encaixavam no seu perfil de jogo. Alguns dos nomes vazaram, e outros, ele próprio admitiu em entrevista concedida a GZH ainda em março, como Nacho Fernández, Taison, Lucas Pratto e Yony González.
De toda a lista, porém, somente dois pedidos foram atendidos pela direção colorada: o volante Damián Musto e o lateral-direito Renzo Saravia, que haviam trabalhado com ele em Rosario Central e Racing, respectivamente.
— Trabalhamos duas vezes juntos, e creio que a forma que ele (Coudet) tem de trabalhar é com o intuito de dar uma intensidade maior do que a média para a equipe — anunciou Musto em sua apresentação.
3) Estreia com vitória
O primeiro jogo do Inter com "Chacho" na casamata ocorreu no dia 23 de janeiro. Na estreia do Gauchão, o Colorado foi a Caxias do Sul e venceu o Juventude por 1 a 0.
A partida apresentou algumas das credenciais de Coudet, entre elas a escalação de Thiago Galhardo como atacante. Foi ele o autor do gol da vitória, convertendo um pênalti.
4) Críticas nas fases preliminares da Libertadores
A estreia colorada na Libertadores foi cercada de tensão. Em um ambiente de conflitos sociais, com policiais confrontando manifestantes nas ruas de Santiago, o Inter visitou a Universidad de Chile e segurou um empate por 0 a 0. Dentro do Estádio Nacional, torcedores acenderam uma fogueira nas arquibancadas.
Foi nesta fase do torneio também que o técnico ouviu as primeiras críticas ao seu trabalho por escalar um meio-campo formado por quatro volantes de origem: Musto, Rodrigo Lindoso, Edenilson e Patrick. Ainda assim, a equipe conseguiu chegar à fase de grupos. Primeiro, eliminou os chilenos da "La U", depois passou pelos colombianos do Tolima.
— Estamos em um processo de muitas mudanças. Assisti a todos os jogos do Inter na última temporada, e são esquemas e formas de jogar distintas. O Inter era uma equipe que esperava atrás e saía com espaços no contra-ataque. Agora, tentamos jogar mais em cima, marcando no campo adversário. Estamos em um trabalho de construção e com jogadores que estão chegando — explicou o treinador, após o empate na capital chilena.
5) Insucessos em Gre-Nais
No dia 15 de fevereiro, Coudet conheceu sua primeira derrota à frente do Inter ao perder em casa, para o rival Grêmio, e ser eliminado do primeiro turno do Gauchão. Também viveu pela primeira vez um peso que revisitaria ao longo da temporada e que causou seu maior desgaste: a falta de vitórias em Gre-Nais.
Foi derrotado mais duas vezes pelo Estadual e não conseguiu chegar à final da competição. Também perderia pela fase de grupos da Libertadores e empataria pelo Brasileirão. Dos seis confrontos, foram quatro derrotas e dois empates.
6) Pandemia e gramados ruins
A chegada da pandemia de coronavírus à América do Sul paralisou todas as competições em março. Sem poder realizar treinamentos, Coudet retornou à Argentina e só voltaria a Porto Alegre cerca de um mês e meio depois. Mal sabia o que estava por vir.
Com o impedimento da prefeitura para que a Capital sediasse jogos de futebol, o Inter teve de mandar alguns jogos fora do Beira-Rio. No primeiro deles, um Gre-Nal, em Caxias do Sul, no Estádio Centenário. Após a derrota por 1 a 0, o técnico justificou o mau futebol apresentado pela equipe pelas condições do gramado:
— Vindo a Caxias, falei que não era o melhor campo para jogar, mas era o campo em que se podia jogar. Realmente, creio que não foi uma decisão acertada para o espetáculo. Podemos ganhar, empatar, perder. Mas também empatamos na Libertadores e se viu uma partida muito mais linda. Pedimos outro tipo de condição. Se perguntam meu pensamento, não vejo certo transportar duas delegações e trazer para hotéis diferentes, temos de voltar a Porto Alegre agora. O mais simples teria sido jogar no Beira-Rio, em um grande campo, onde se veria um outro tipo de espetáculo, onde estaríamos preparados para ver o protocolo seguido. Não sou eu que decido, apenas dou minha opinião.
7) "Grupo curto"
Em agosto, o Inter iniciou a disputa do Brasileirão pressionado por não ter chegado à final do Campeonato Gaúcho (foi derrotado pelo Grêmio na decisão do segundo turno). Ainda assim, conseguiu vencer nas duas primeiras rodadas, contra Coritiba e Santos. Porém, bastou a primeira derrota, para o Fluminense, no Rio, para que Coudet voltasse a reclamar:
— Sempre tem problema com a escalação. O grupo é muito curto, essa é a verdade. É muito difícil para mim, se vocês não acompanham esse trabalho. O Inter não é o Manchester City, não tem uma quantidade grande de jogadores — desabafou.
No dia seguinte a esta declaração, seria constatada uma lesão no joelho de Paolo Guerrero, que o tiraria do restante da temporada.
8) Liderança do Brasileirão
Contra todos os prognósticos, o Inter cresceu de produção em agosto. Sem Guerrero, Coudet fez de Thiago Galhardo o seu centroavante e goleador. Assim, na quinta rodada, com gol dele, venceu o Atlético-MG e assumiu a liderança do Brasileirão.
Aos poucos, a direção também passou a buscar peças de reposição ao elenco. Para a vaga de Bruno Fuchs, vendido ao CSKA Moscou, foi contratado o zagueiro Lucas Ribeiro, do Hoffenheim-ALE; para o ataque, chegaram o uruguaio Abel Hernández e o argentino Leandro Fernández.
9) Briga política
Com a retomada da Libertadores, o Inter passou a dividir atenções em duas competições, e o rendimento da equipe passou a cair. Duas derrotas em sequência, para Goiás e Fortaleza, fizeram com que o time perdesse a liderança do Brasileirão na 11ª rodada. No torneio continental, um novo insucesso diante do Grêmio custou o topo do Grupo E. Para piorar, o ambiente político do clube respingou no vestiário.
Dois dias após a quarta derrota em Gre-Nais, o vice-presidente de futebol Alessandro Barcellos foi afastado do cargo. A motivação alegada pelo presidente Marcelo Medeiros, porém, não estava nas quatro linhas. O dirigente é visto como um possível candidato às eleições presidenciais do clube, agendadas para novembro.
— Não vou negar que a saída do Alessandro, com quem tenho uma grande relação, me afetou. Ele é uma pessoa que eu gosto muito e saiu. Tomara que não afete (o time). Vamos tentar que não atrapalhe ou atrapalhe o mínimo possível. Ano político em clube grande é difícil, é algo que já passei — comentou Coudet.
10) Atrito com Rodrigo Caetano
Ironicamente, o último capítulo de Coudet à frente do time colorado começou a ser escrito após a vitória sobre o Atlético-GO, que classificou o clube às quartas de final da Copa do Brasil. Em sua entrevista, o treinador voltou a falar sobre "grupo curto" ao analisar as dificuldades de lidar com três competições ao mesmo tempo. Desta vez, contudo, a declaração foi rebatida publicamente pelo executivo Rodrigo Caetano.
— Fomos finalistas da Copa do Brasil do ano passado. Penso que também não tínhamos um elenco muito vasto, não vou ficar aqui comparando, mas chegamos às quartas de final da Libertadores, perdemos para o campeão, chegamos na final da Copa do Brasil, e em sétimo no Brasileirão. Jogamos as três competições — afirmou ele. — Quem trabalha no Inter tem de estar disposto a disputar as três no topo.
No jogo seguinte, ao empatar por 2 a 2 com o Coritiba, no Beira-Rio, o técnico pôs o cargo à disposição. Como justificativa, apresentou oferta para treinar o Celta de Vigo, da Espanha.