Quando desembarcou em Porto Alegre, em julho de 2008, D'Alessandro já havia jogado em três países da Europa desde sua saída do River Plate, em 2003. Talvez nem mesmo ele imaginasse a relação que iria construir com o Inter, Porto Alegre e com o Brasil, sempre rival de sua Argentina quando o assunto é futebol.
Pois D’Ale virou mais que o ídolo da torcida do Inter, onde deve completar 500 jogos nesta quarta-feira (23), em clássico contra o Grêmio. O argentino que soube levar para dentro do campo o sentimento do torcedor colorado também virou um cidadão gaúcho fora dele.
Desde 2014, ele organiza o Lance de Craque, evento beneficente que ajuda instituições assistenciais do Estado. Não apenas eu seu evento, mas em diversos momentos, como quando saiu do conforto de sua casa para, ao lado de Dunga, ajudar famílias no início da pandemia de coronavírus, o argentino mostrou sua preocupação com a sociedade que passou a viver como jogador do Inter.
Em 2015, D'Ale tem um laço familiar com Porto Alegre. Seu terceiro filho, Gonzalo, nasceu na cidade por escolha sua e da mulher, Érica. Mesmo que tenha voltado a morar em Buenos Aires no ano seguinte, quando foi emprestado ao River Plate, o camisa 10 sempre ressaltou que os outros filhos, Martina e Santino, que nasceram na Inglaterra e na Argentina, respectivamente, sentiam-se em casa quando estavam na Capital. No mesmo ano do nascimento de Gonzalo, D'Alessandro recebeu o título de Cidadão de Porto Alegre.
— Faz tempo que me sinto parte do povo gaúcho, que me acolheu e acolheu minha família. Até pela proximidade dos costumes com a Argentina. Minha família se adaptou muito bem. Minhas crianças no colégio falam português melhor que o pai — discursou na Câmara Municipal quando recebeu a honraria.
Mas ele quis dar um passo além. Quando voltou a Porto Alegre para defender o Inter na Série B, em 2017, D’Ale iniciou um processo de dupla cidadania para se tornar brasileiro. Quis o destino que uma semana antes (foi em 17 de setembro) de alcançar a significativa marca de 500 jogos pelo Inter, D’Alessandro teve formalizada no Diário Oficial por parte da Secretaria Nacional de Justiça a sua cidadania brasileira.
— Oficialmente brasileiro! Dia muito especial na minha vida e carreira. Ser cidadão de um país que tão bem acolheu a mim e minha família é motivo de muito orgulho. A história está feita! Obrigado, Brasil — comemorou o agora argentino/brasileiro em suas redes sociais.
Com contrato até dezembro, D’Alessandro ainda precisa estender seu vínculo para disputar a parte final da temporada 2020, que irá ocorrer apenas em fevereiro em razão da paralisação provocado pelo coronavírus. Não é descartado ainda que ele amplie por mais tempo o seu vínculo e chegue aos 40 anos ainda como jogador. Independente disso, D’Ale já revelou que seu desejo é seguir morando em Porto Alegre após “pendurar as chuteiras”.
— Meus filhos se criaram aqui, falam português perfeitamente e têm amigos aqui. É muito difícil para mim e para a minha esposa ir de férias para a Argentina, porque eles não têm amigos, não se acham em casa lá. É claro que temos a nossa família e amigos, isso eu não esqueço e sempre volto. Isso é para mim e para a minha mulher, mas os meus filhos, não. Penso que, por isso, o meu futuro será aqui — revelou em entrevista ao programa Cardápio do Zé, de GZH, em dezembro do ano passado.