A indefinição a respeito do calendário do futebol brasileiro está obrigando os profissionais que lidam com a preparação físicas das equipes a desenvolverem métodos para amenizar essa paralisação. No Inter, o coordenador do departamento de performance do clube, Élio Carravetta, demonstra apreensão com essa indefinição:
— O planejamento dos clubes vai depender do reinício da temporada e do calendário a ser estabelecido. Uma coisa é certa, todos já perderam as adaptações físicas, técnicas, táticas e relacionais adquiridas até aqui. Tanto no futebol europeu como no brasileiro.
Carravetta reconhece o esforço dos jogadores que procuram se manter em atividade física em tempo de isolamento, mas admite prejuízos técnicos:
— Os treinos individuais que os jogadores devem estar realizando em casa não evitam a perda das adaptações específicas para jogar futebol.
No caso colorado, a pré-temporada de janeiro foi completada diretamente com jogos do Gauchão e da Libertadores. Ou seja, não foi feito o trabalho ideal devido à falta de tempo. Por isso, o clube espera que o período de paralisação não seja superior a um mês.
— O importante seria que esse período de transição não se prolongasse por mais de 30 dias (período de rotina no final das temporadas). Se for prolongado, o que deve acontecer, as perdas serão muito maiores — garante Carravetta.
Quando o clube retomar as atividades, o coordenador da área de performance prevê uma diferenciação em relação a jogadores, de acordo com as idades. Ele explica que os atletas mais experientes têm facilidade no retorno aos treinamentos nos aspectos técnico, táticos e de relação, enquanto os mais jovens levam uma certa vantagem na questão física:
— Jogadores experientes, com seis a 10 anos atuando em times de elite, trazem uma bagagem dos componentes técnicos, táticos e relacionais (leitura de jogo e interação) mais duradoura e sedimentada. Os mais jovens perdem com mais rapidez esses componentes qualitativos, já que não estão tão consolidados. Na parte física, há perdas semelhantes, embora nos jogadores acima de 30 anos, por processo fisiológico degenerativo do envelhecimento, a perda seja mais acentuada.
Mesmo sem ter uma data marcada para a volta das competições e sabendo apenas que as férias concedidas pelo clube vão até o próximo dia 20 de abril, Élio Carravetta tem a convicção da necessidade de uma nova pré-temporada e o temor de que jogos sejam marcados sem o prazo ideal para readaptação.
— Uma nova pré-temporada é inevitável para o Inter. O calendário deve contemplar no mínimo duas semanas para este trabalho. Quem sabe deste limão amargo e indigesto não saia uma abundante limonada doce. Vamos ver — diz, otimista.