Confinados em casa devido à pandemia de coronavírus, os jogadores de futebol enfrentam dificuldades inevitáveis para manter a forma. Mesmo com as recomendações dos clubes, a falta de espaço físico nas residências dificulta a realização de atividades intensas. Contudo, o centroavante do Inter, Gustagol, 26 anos, conta com uma instrutora especial para ajudá-lo nos exercícios que pratica em seu condomínio no Menino Deus, em Porto Alegre. Professora de educação física, a esposa Mayara Zerbetto, 30, orienta o atleta diariamente nos treinamentos e inclusive dá dicas para a população em geral não usar o período de isolamento como desculpa para parar de se exercitar.
— No início, nós ficamos um pouco perdidos em relação ao que fazer aqui dentro do apartamento, pois as áreas de convivência do condomínio foram fechadas, e um atleta precisa ter a capacidade cardiorrespiratória bem treinada. Mas aí fizemos atividades de fortalecimento nos (músculos) estabilizadores e exercícios para ele manter a massa muscular. Realizamos também um treino de tiros na escada do edifício. Depois, descobrimos um cantinho no condomínio em que o solo tem pedrinhas. Aí conseguimos fazer exercícios que trabalham bem o cardiorrespiratório e incluímos algumas atividades com bola — explica Mayara, que está na Capital com Gustavo desde o início de março, dias depois da apresentação do marido como reforço colorado.
Menos de uma semana depois de o clube suspender as atividades do grupo principal, os jogadores receberam uma apostila com exercícios e recomendações físicas. Então, a profissional passou a orientar as atividades do centroavante seguindo a cartilha do clube.
— A gente segue a rotina que o Inter determinou. Eu o ajudo com o posicionamento para ele não fazer nenhum exercício de forma incorreta. Como há essa cartilha, eu o guio conforme as recomendações. Mas, normalmente, quando estamos em férias e quando viajamos, quem cuida dos treinos dele sou eu — relata.
Natural de São Paulo e formada em educação física pela Universidade Paulista (Unip), Mayara esclarece que, por mais que ela e o marido se empenhem em trabalhar o máximo possível no apartamento, é inevitável que um jogador profissional sofra alguma uma perda na sua capacidade física ficando um período longo sem treinar nas dependências do clube. Afinal, nenhuma residência tem a estrutura de um CT (Centro de Treinamento). Além disso, as próprias circunstâncias do isolamento em virtude da pandemia dificultam o rendimento máximo do atleta no treino.
— Nós compreendemos que isso não é uma situação fácil para os jogadores, pois eles estão acostumados o tempo inteiro a estar em lugares diferentes fazendo o que eles gostam. Agora, eles estão com o tempo muito ocioso. A gente tem que compreender que a cabeça deles vai ficar um pouco bagunçada. Não adianta eu querer que ele faça sempre o melhor treino, se a cabeça dele não está boa. Também nunca vamos conseguir trabalhar o cardiorrespiratório com a mesma intensidade que eles trabalham no campo. Temos feito alongamentos e exercícios de resistência e mobilidade, que é algo que eles precisam muito. Dentro das possibilidades que temos, estamos fazendo de tudo, mas é inevitável que ocorra alguma perda de todas as capacidades por conta deste período, que eu espero que não seja longo — completa Mayara, que é casada com Gustavo desde 2018, quando o centroavante defendia o Fortaleza.
Contudo, não são apenas os atletas profissionais, como Gustavo, que enfrentam dificuldades para praticar atividades físicas neste período de pandemia. Segundo Mayara, qualquer pessoa pode se exercitar dentro de casa. A impossibilidade de sair para correr no parque ou ir à academia não pode ser desculpa para ninguém ficar sedentário.
— Para quem já tem o hábito de ir a uma academia, a maioria dos exercícios básicos podem ser feitos em casa. É possível fazer agachamento livre, flexão de braços e também uma remada curvada usando um cabo de vassoura. Também há como fazer abdominais, polichinelos, corrida parada e até pular corda. Para quem gosta de dançar, há várias aulas de dança no Youtube. É tão gostoso dançar na própria casa. O importante é estar em atividade e colocar o corpo em movimento — estimula.
A ausência de halteres e anilhas, importantes na maioria dos exercícios de musculação, também não pode ser desculpa para as pessoas abandonarem os treinos durante o período de isolamento. Afinal, diversos objetos domésticos podem substituir as cargas das academias.
— Tudo que a gente pega na mão e gera um tipo de sobrecarga é útil. Pode ser até um pote de amaciante. Podemos fazer uma elevação lateral com duas latas de ervilha, por exemplo. Se eu colocar um saco de arroz nos meus pés e fizer a extensão dos meus joelhos sentada em um cadeira, eu vou trabalhar o meu quadríceps. Se eu abraçar um saco de arroz ou um saco de feijão, eu posso fazer um agachamento (com carga). Tem muitas possibilidades. O mais importante é por na cabeça que não podemos ficar parados — sugere Mayara.
Por fim, a profissional explica que, além dos cuidados com o corpo, a manutenção de uma rotina regular de exercícios físicos é importante inclusive para a prevenção contra o coronavírus. Afinal, a prática de esportes é importante para o funcionamento do sistema imunológico do corpo humano.
— A atividade física contribui para a redução do risco de morte por doenças cardíacas e diabetes e ainda ajuda no combate à depressão, à ansiedade e ao estresse. Além disso, estamos em uma situação em que é importante nos protegermos do vírus. Temos que pensar em nossa imunidade. Se fizermos atividade física nesse período, a nossa imunidade aumenta — finaliza a esposa e treinadora de Gustagol.