Comandado por Odair Hellmann, o time colorado se caracterizou nos últimos dois anos por ter uma defesa sólida e um jogo reativo eficiente. Porém, não conquistou os títulos esperados. Por isso, com a promessa de promover uma ruptura no futebol da equipe, os dirigentes foram a Buenos Aires buscar Eduardo Coudet.
Além da troca no comando do vestiário e da contratação de seis reforços, a equipe trocou também o sistema tático. Fica para trás o 4-1-4-1 de Odair, e entra em cena o mesmo 4-1-3-2 aplicado por Coudet em Racing e Rosario Central. E, sob a ideia de um estilo mais intenso e vertical, este novo Inter viverá sua primeira prova de fogo hoje, contra a Universidad de Chile, pela pré-Libertadores.
— O Coudet está tentando liberar os atacantes para o pessoal do meio fazer o trabalho defensivo. A sequência do ano vai mostrar o que realmente o time pode render, contra adversários mais qualificados. Precisamos dar tempo. O esquema tático não vai dar certo se você não tiver o jogador necessário — analisa o ex-volante colorado Batista.
Defesa
Comparando nome a nome, é o setor ofensivo quem sofre as principais modificações até aqui. Do time-base de 2019, o goleiro Marcelo Lomba e os zagueiros Rodrigo Moledo e Víctor Cuesta seguem titulares. As novidades estão nas laterais. Na direita, o ex-flamenguista Rodinei ocupa a vaga deixada por Bruno, que não teve seu contrato renovado. No lado esquerdo, Moisés, outro recém-contratado, colocou o experiente Uendel no banco de reservas.
Porém, na visão do colunista de GaúchaZH Leonardo Oliveira, a principal ruptura entre os dois trabalhos não se dá na nominata, mas no comportamento da equipe, que afeta diretamente o sistema defensivo.
— Com Odair, o Inter esperava. Com Coudet, o Inter busca fazer acontecer. O posicionamento é mais à frente, com a marcação a partir do ataque. Só isso já simboliza uma ruptura. A nova ideia é ter a bola, para ter o que chama de protagonismo do jogo. Com ela, a orientação é trocar passes rápidos e buscar as infiltrações. Os laterais viram ponteiros e são vigorosos, para ter a vantagem física. São eles que alargam o campo. E a saída de bola é feita com o volante recuado para o meio dos zagueiros — observa ele.
Meio-campo
Em teoria, o tripé de volantes usado tanto tempo por Odair está desfeito. No entanto, mesmo que o Inter tenha contratado jogadores que possam exercer funções no meio-campo (Thiago Galhardo e Gabriel Boschilia), quem abre a temporada são os antigos titulares: Rodrigo Lindoso, Edenilson e Patrick.
Ordenado a proteger a própria área e, em seguida, puxar contra-ataques, o trio ganha novas atribuições em 2020, como participar da criação das jogadas. Porém, o comentarista Mauricio Saraiva vê dificuldades para que eles possam exercer estas funções.
— Argumentava-se que o Odair não atacava mais porque não tinha jogadores com essas características, principalmente no meio-campo. O Coudet chega em 2020 propondo atacar mais, mas com os mesmos jogadores? Não creio que consiga, porque os atletas que compõem o meio não são complementares. São jogadores de reação, originariamente de marcação. Quem mais conseguiu se desamarrar disso foi o Edenilson. Os demais, especialmente Lindoso e Patrick, não. Então, até agora, eu não vejo ruptura, vejo uma transição de Odair para Coudet — argumenta ele — O meio-campo do Inter carece de velocidade e criatividade. Força, tem sobrando. Não me parece o suficiente para uma ruptura — conclui Saraiva.
Ataque
No ataque, Paolo Guerrero deixa de ser o único atacante do time. Em compensação, os extremas foram extintos. Não à toa, Nico López, Guilherme Parede e Wellington Silva deixaram o Beira-Rio. Aquela figura que precisva recompor, voltando à linha do meio-campo, não existe mais. O próprio D'Alessandro, que muitas vezes foi deslocado para lado do campo, passa a funcionar como uma espécie de segundo atacante.
— Escalado mais à frente, ele fica livre para criar e sem obrigações de marcação, como na Era Odair. Guerrero, com isso, ganha companhia e um time que chega com, pelo menos, cinco jogadores ao ataque — comenta Oliveira.
A mudança de filosofia de 2020 pode ser traduzida em números. Em quatro jogos, a equipe teve três vitórias e um empate, marcando oito gols e sofrendo quatro. Também teve posse de bola maior que todos seus adversários de Gauchão até então. No mesmo período, em 2019, os resultados obtidos foram uma vitória, um empate e duas derrotas, com apenas três gols marcados e cinco sofridos. Além disso, teve menos posse que dois adversários (São José e São Luiz). Ou seja, aos poucos, Coudet começa a colocar suas cartas na mesa. Resta saber se o resultado final será melhor que o obtido por Odair.