O aproveitamento de 100% do Inter nas três primeiras rodadas do Gauchão não é sinônimo de tranquilidade para Eduardo Coudet, a meros quatro dias da estreia na Libertadores. Nos dois jogos em que os titulares foram utilizados — vitória sobre o Pelotas por 3 a 1, no domingo (26), e triunfo por 4 a 3 contra o São Luiz, na quarta-feira —, a bola aérea foi responsável por balançar as redes de Marcelo Lomba. Todos os quatro gols sofridos foram de cabeça, o que fez o treinador ligar o sinal de alerta no Beira-Rio.
— Seguramente há coisas para corrigir no jogo aéreo, e isso é trabalho, como digo sobre o tempo desde o começo — advertiu o argentino, depois do jogo em Ijuí.
A nova filosofia que Coudet começou a imprimir no Inter, em que os laterais jogam mais avançados, contribuiu para que o São Luiz tivesse tanta liberdade para marcar três vezes. A opinião é de Mauro Galvão, zagueiro campeão brasileiro invicto em 1979 pelo clube. Para o ex-jogador, o fato de os titulares estarem em estágio inicial de preparação para o ano também colabora para que erros ocorram com mais frequência:
— Não é muito comum tomar três gols assim no mesmo jogo, mas acontece por ser início de temporada. O treinador está testando algumas coisas, e têm outras que não encaixaram muito bem ainda. Mas que bom que os erros surgiram logo, pois há tempo para corrigi-los. Vi a bola cruzar a área inteira em alguns gols, o que pode ser grave em mata-mata.
Além de deixar os laterais mais livres para atacar, Coudet mudou a estrutura do meio-campo colorado. Contra o São Luiz, Musto foi o primeiro homem do setor, e outros três volantes completaram a meia-cancha — Edenilson, Rodrigo Lindoso e Patrick. Mesmo que a tendência com uma escalação assim seja de um time mais retrancado, a ideia é de que Musto atue principalmente na marcação, enquanto os companheiros participam da criação. Essa dinâmica exige muita entrega de todos na hora de defender, analisa Bolívar, zagueiro bicampeão da Libertadores pelo Inter.
— Quando se leva gol assim, de bola aérea, as pessoas questionam a dupla de zaga. Mas temos de lembrar que existe uma linha de quatro defensores e mais o volante, fundamental na transição defensiva. O entrosamento é do setor inteiro. Com Coudet, os laterais são quase alas, e os volantes precisam ajudar na contenção. Só com tempo eles vão se entender nos lances que precisam de cobertura — explica o treinador, atualmente sem clube.
Galvão também destaca a necessidade de entrosar melhor os jogadores para atender o que o técnico exige da sua equipe:
— É uma forma de jogar que muitos times estão adotando, com o 3-5-2 na saída de bola. Para o zagueiro, às vezes não dá tempo de dar conta sozinho. Tem de ter uma coordenação muito grande no setor, com jogadores velozes para fechar rapidamente. No terceiro gol do São Luiz, o lateral (Rodinei) nem apareceu no lance da TV, e é imprescindível que eles ajudem os zagueiros. Para dar certo, as funções têm de estar bem definidas.
Com os reservas em campo diante do Ypiranga no próximo desafio pelo Gauchão, amanhã, às 19h, em Erechim, os titulares terão mais três treinos antes da viagem a Santiago. É a oportunidade para ensaiar a consistência defensiva que falta ao Inter neste início de temporada — já que, na outra ponta, os números favorecem Coudet: o ataque marcou oito gols em três partidas — sete com o time principal.