O Inter se aproxima da estreia no Gauchão diante do Juventude, na próxima quinta-feira (23), às 21h30min, no Alfredo Jaconi, e acerta os detalhes para o primeiro compromisso sob o comando de Eduardo Coudet. Uma ideia que o grupo colorado tem trabalhado de forma enfática, e é fundamental para que seja colocado em prática o que o argentino quer do seu time, é o conceito de pressão após a perda da posse da bola, o perde-pressiona.
— O grande diferencial é essa intensidade que ele pede. A perda da posse e a retomada tem de ser muito rápida. Ele gosta de ter a posse da bola. Quando perde a bola, ele pede para pressionar o mais rápido possível. O Coudet deixa bem claro isso e é uma das coisas que ele trouxe para a gente — afirmou o meio-campista Nonato nessa segunda-feira (2) ao ser questionado sobre o que mais chamou atenção nos primeiros dias de trabalho com o novo técnico.
Esse estilo foi marca do jogo-treino realizado pelo Inter contra o São José no último sábado (18), no Beira-Rio. Profissionais do clube da zona Norte da Capital relataram a dificuldade que o time teve para trabalhar a bola diante da forte marcação colorada já no campo de ataque. A cada treino no Parque Gigante fica claro que os jogadores são orientados a pressionar quem tem a bola. Por conta disso, carrinhos e entradas mais fortes são comuns até mesmo nas habituais atividades de dois toques.
— O conceito do perde-pressiona é simples. É um time retomar a bola logo após perder a posse. Isso é um movimento coletivo. Não se trata do jogador que perdeu tentar recuperar. É quem está mais próximo, dois ou três jogadores, pressionando o rival. É uma ação coletiva e treinada. Antigamente, os clubes perdiam a bola e todo mundo recuava — cita o analista tático do site Globoesporte.com Leonardo Miranda.
Foi dessa forma que Eduardo Coudet alcançou sucesso no seu país. O Rosario Central, de boa campanha na Libertadores e duas vezes finalista da Copa Argentina, e o Racing, campeão da Superliga Argentina no ano passado, se caracterizaram por executar com propriedade o conceito que o treinador tenta impor agora no Beira-Rio.
— Ele fez muito isso na Argentina. Tanto o Rosario Central quanto o Racing eram times que criavam muitas jogadas roubando a bola no campo do adversário — relembra Miranda.
As influências
No futebol brasileiro, a expressão perde-pressiona se tornou comum entre os treinadores após ser utilizada pelo gaúcho Tite. O técnico da Seleção Brasileira usou o termo para explicar o gegenpressing (na tradução livre do alemão seria "pressão ao contra-ataque"), termo que caracteriza o estilo de Jürgen Klopp.
Klopp é tido como muitos analistas táticos como o criador do contraveneno para Pep Guardiola, o técnico que ditou as regras do futebol europeu no começo da década. Aplicando esse estilo, o alemão conseguiu superar o espanhol e se tornou referência nos últimos anos. Atualmente, o seu Liverpool, campeão europeu e mundial, é considerado o melhor time do planeta aplicando com propriedade o perde-pressiona.
Leonardo Miranda destaca que a forma de pensar futebol de Eduardo Coudet segue referências de Klopp. Uma frase famosa do alemão é de que seu melhor meia-armador é a bola roubada no campo de ataque. Pois jogadas criadas dessa forma deverão ser comuns no Inter se Coudet conseguir implementar sua ideia de jogo.
— O Coudet gosta muito disso. Boa parte da armação das jogadas dele é assim. Os times dele são muito de correria para explorar isso. Em alguns momentos, as equipes criam mais chances de gol roubando a bola do que saindo tocando do campo de defesa até o ataque. Ele gosta desse momento de pressionar — completa Miranda.
Na busca por implementar seus conceitos de jogo, Eduardo Coudet corre contra o tempo. O Inter terá apenas mais dois treinos antes da estreia no Gauchão contra o Juventude. Depois disso serão apenas duas semanas até o primeiro compromisso pela Libertadores, a partida de ida da fase preliminar diante da Universidad de Chile, em Santiago.