A derrota para o Goiás teve reflexo imediato no Beira-Rio: Roberto Melo deixou a vice-presidência do Inter. Pediu para sair, uma vez que a sua situação no clube já era insustentável. O diretor-executivo Rodrigo Caetano passa a ser o homem forte do futebol colorado. Mas um novo dirigente político assumirá a função ao final da temporada. O nome do ex-presidente Giovanni Luigi foi cogitado, porém, em um primeiro momento, ele rechaçou a ideia.
Desde a demissão de Odair Hellmann, encaminhada pelo dirigente, logo após a derrota em Maceió para o CSA, Melo já não gozava de prestígio no clube. No vestiário, a saída de Odair teve péssima repercussão, uma vez que o treinador contava com a confiança dos jogadores, e Melo ficou marcado pela atitude considerada nas entranhas do Beira-Rio como intempestiva. Além disso, a falta de critério, a fim de buscar um substituto imediato para o técnico demitido, abalou ainda mais o Brasileirão da equipe.
Roberto Melo estava isolado no clube. Depois de o Inter perder para o Goiás, uma pequena reunião se deu entre os dirigentes. A situação de Melo já era irreversível, e a sua saída estava encaminhada. Para se evitar uma crise ainda maior, após a derrota com gol de Rafael Moura, o vice de futebol não se dirigiu à sala de entrevistas para as devidas explicações. Rodrigo Caetano foi falar com a imprensa. no jogo anterior, o empate com jeito de derrota com o Fortaleza, Melo também não havia se pronunciado, deixando as justificativas para o diretor de futebol Adauri Silveira (que também deixou a direção).
— O Roberto (Melo) esteve três anos seguidos à frente do futebol do Inter, no momento mais difícil da história, de reconstrução do clube. Há dois meses estávamos disputando uma Copa do Brasil juntos. Depois da não conquista, entramos em um processo de não manter ritmo e desempenho de futebol. Depois do resultado de ontem (quarta-feira, derrota em casa para o Goiás), ele estava muito chateado e tomou essa decisão. Foi uma decisão de foro íntimo dele. A gente acatou — disse o presidente Marcelo Medeiros, em entrevista coletiva, após a saída do vice de futebol.
A saída de Roberto Melo se deu devido ao gradual desgaste do dirigente em mais um ano sem conquistas. Melo, que abriu a gestão como o potencial sucessor de Marcelo Medeiros na presidência, foi perdendo espaço.
Candidato natural do Movimento Inter Grande (MIG) à presidência, uma vez que todos os eleitos anteriormente pelo grupo sempre passaram pelo departamento de futebol, ele viu seu prestígio político se apagar. Alexandre Chaves Barcellos, 2º vice-presidente eleito do clube, passou a ser visto como o próximo candidato à eleição colorada. Apesar dos maus resultados de campo, e dos muitos protestos da torcida, Medeiros não se sentia confortável para demitir Roberto Melo. É seu amigo pessoal, além de terem trabalhado juntos no departamento de futebol do clube em 2014, na gestão Giovanni Luigi.
Questionado sobre as possibilidades do Inter por vaga à Libertadores, Medeiros afirmou acreditar no grupo e na classificação:
— O que preocuparia no vestiário depois da derrota (para o Goiás) seria se os jogadores agissem como se nada tivesse acontecido, mas o grupo estava abatido e indignado. Conversei com o Lomba, e o sentimento dele é exatamente esse. Depende de nós. Esse é o grupo que disputou a final da Copa do Brasil, e eles vão nos levar ao nosso objetivo. O meu primeiro ano de mandato foi na Série B. Se eu jogar uma Sul-Americana (em vez da Libertadores), não tenho medo de nada. Para quem passou pelo que a gente passou, não tenho medo de nada.
No comando do futebol do Inter, Roberto Melo levou o clube ao vice-campeonato gaúcho (2017 e 2019), ao vice-campeonato da Série B (2017), ao vice-campeonato da Copa do Brasil (2019), ao terceiro lugar do Brasileirão (2018), à classificação à fase de grupos da Libertadores (2019) e às quartas de final da Libertadores (2019).
Nas últimas semanas, Melo se mostrava realizado com a contratação de Eduardo Coudet para treinar a equipe a partir de janeiro. Desde 2017, havia contratado Antônio Carlos Zago, Guto Ferreira, efetivado Odair, colocado Ricardo Colbachini como interino, e, em um dos últimos atos, foi convencido por Rodrigo Caetano a aceitar Zé Ricardo como técnico-tampão. Agora, o treinador argentino era o nome que Melo desejava para mudar a forma de jogar do time, e já passava a tratar de reforços com o novo técnico. O jeito atual de jogar do Inter, porém, o derrubou antes de Coudet chegar.