O tempo e o distanciamento histórico ainda apontarão Rafael Sobis como um dos maiores jogadores do Inter. Foi com ele que o clube saiu do ostracismo para a fama mundial.
Seus gols sobre o São Paulo, no Morumbi, encaminharam os colorados para a conquista da primeira Libertadores, algo impensável para quem havia deixado as derrotas dos anos 1990 para trás, e que começara os 2000 tentando se manter na Série A. Neste domingo, Sobis poderá iniciar o clássico contra o Corinthians, em Itaquera, um clube igualmente icônico nesse processo de tornar o Inter um clube dono de grandes títulos.
Com Paolo Guerrero tendo atuado pela seleção peruana na noite dessa sexta-feira, em Miami, no amistoso diante da Colômbia, a logística para a apresentação do camisa 9 em São Paulo previa a sua chegada para a manhã de domingo. Assim, devido ao desgaste, Guerrero, de 35 anos, dificilmente começará o jogo. Assim, Sobis e Pottker são os mais candidatos a compor o setor ofensivo.
A vida colorada de Sobis também pode ser comparada a um passeio de montanha-russa. Campeão da Libertadores, não ficou para o Mundial. Quis conhecer a Europa e se mudou para o Betis-ESP. Da Espanha, foi para o mundo árabe ganhar dinheiro no Al-Jazira, treinado pelo seu ex-comandante Abel Braga.
Voltou ao Inter em 2010, com Tinga e com Renan, para encorpar o Inter na reta final da Libertadores, a fim de buscar o bicampeonato e marcou gol na final. Aí, foi ao Mundial, mas havia o Mazembe no caminho. Depois, em 2011, acabou perdendo espaço devido a lesões musculares. Com o empréstimo junto ao Al-Jazira findando, e o Inter sem ter condições para bancar os 4,5 milhões de euros de sua compra, Sobis deixou o Beira-Rio novamente.
O clube dos Emirados Árabes emprestou o atacante para outro clube brasileiro, o Fluminense, que havia repatriado o técnico... Abel Braga. Em 2012, Inter e Fluminense se cruzaram nas oitavas da Libertadores. E Sobis, com Abel, ajudou a eliminar o Inter de Dorival Júnior. Anos depois, em 2015, o atacante alijou de novo o Inter do sonho de reconquistar a América, dessa vez, atuando pelos mexicanos do Tigres — clube que receberá Nico López ao final da temporada.
Agora, aos 34 anos, Rafael Sobis se prepara para vivenciar os seus últimos jogos com o Inter. Porque, ao que tudo indica, uma renovação de contrato dificilmente ocorrerá e, talvez, o próprio atacante tenha cansado do futebol.
— Eu vim para morrer aqui — disse um enigmático Sobis, após a derrota para o Ceará.
Reserva de um ataque que se perdeu em meio à temporada, o histórico atacante reencontrará o clube que, em 20 de novembro de 2005, colocou uma pedra no caminho do Inter, mas que também ajudou a construir uma ponte para a era dourada do clube gaúcho.
— Costumo dizer que o Corinthians foi muito importante para a história do Inter em 2006. Nós, jogadores, que vivemos 2005, sabemos o quanto foi importante, e o que significou em 2006. Conseguimos manter 90% das coisas boas e fazer outras — recordou Tinga.
Se Sobis marcou o gol de empate do Inter no Pacaembu, colocando o 1 a 1 no placar, Tinga teve a chance de construir a virada. Foi derrubado na área pelo goleiro Fábio Costa. O árbitro mineiro Márcio Rezende de Freitas, além de não marcar a falta, expulsou o meia colorado, alegando simulação. O caos se instalou a partir dali, em um campeonato que já fortemente marcado por denúncias de suborno ao árbitro Edilson Pereira de Carvalho, que teria manipulado alguns jogos — mas todos os 11 apitados por ele foram anulados pelo STJD.
O Corinthians, que já havia sido beneficiado com as partidas anuladas e jogadas outra vez (havia perdido para São Paulo e Santos e, depois, com os clássicos remarcados, venceu ambos), passava a ter a sua conquista manchada a partir daquele episódio. Dois anos depois, o presidente corintiano à época, Alberto Dualib, alvo de investigação da Polícia Federal, devido à nebulosa parceria com a empresa MSI, teve uma gravação vazada. Nela, ele dizia:
— Nos últimos cinco jogos, nós tínhamos 14 pontos na frente e chegamos, entendeu, um ponto só. Roubado.
E, depois, em entrevista à imprensa, Dualib, então presidente do Corinthians, que encerrou o Brasileirão de 2005 três pontos à frente do Inter, comentou:
— Se não tivesse a anulação de 11 jogos, nós estávamos fora. Porque o campeão de fato e de direito seria o Internacional.
Personagem daquele clássico, junto com Sobis, Tinga entende aquele episódio com o Corinthians como o trampolim para as grandes conquistas do Inter.
— Não tinha outra conversa (no vestiário) a não ser o absurdo do que já tinha acontecido no campeonato. O sentimento era de ser assaltado dentro da competição pela segunda vez. Mas, quando encontro os corintianos em São Paulo, eles mexem comigo até hoje dizendo que foi pênalti. Eles pensam que eu fico brabo e eu agradeço a eles. O Corinthians não deve ser odiado, deve ser exaltado porque nos ajudou a ganhar a Libertadores e o Mundial. Eles nos deram força para fazer o ano mais emblemático da história do Inter — contou.
— Há derrotas que nos ensinam mais do que vitórias. A de 2005 nos ajudou nesse sentido. A gente esteve perto de conquistar a tríplice coroa. O clube ganhou a Libertadores, o Mundial, e foi vice do Brasileirão. Teve muita coisa do Muricy mantida e o Abel implementou outras tantas — acrescentou Tinga.
Para Muricy Ramalho, treinador colorado em 2005, Rafael Sobis foi um dos construtores daquele Inter ressurgido em 2005.
— Passávamos por um novo momento, de reconstrução do Inter. Nos preparamos para ganhar aquele campeonato brasileiro, e chegamos muito perto. Nos tiraram o título lá em São Paulo. Tínhamos muitos jogadores importantes, entre eles, o Rafael Sobis. Ele fez o gol no Pacaembu, sempre foi um jogador diferenciado, com grandes passagens em muitos clubes, um vencedor. E isso é importante em um grupo — comentou Muricy Ramalho.
Catorze anos depois, Corinthians e Inter se enfrentam uma vez mais em São Paulo. Outra vez com Sobis. Talvez um de seus últimos grandes clássicos com a camisa que o consagrou.