O campo poderá empatar o jogo financeiro para o Inter. Depois de assumir o clube, dois anos atrás, com déficit de R$ 62 milhões, a direção se encaminha para o último trimestre de 2019 podendo ter saldo negativo mínimo, se comparado ao da herança de 2017, ou com chances de superávit — o que seria viável só em caso de conquista de título nacional. Ainda que os mais de R$ 55 milhões amealhados em premiações pelos torneios na temporada tenham colaborado, não foram suficientes para fazer o tesoureiro do clube rir de orelha a orelha.
No momento, tudo aponta que os cofres do Beira-Rio chegarão a 31 de dezembro ainda sangrando. Mas bem menos do que antes. Na pior das hipóteses, o déficit ficará na casa de R$ 10 milhões — algo "equilibrado" para um clube grande, ainda que não seja digno de júbilos.
A estimativa positiva aponta para um caixa zerado, ou seja, com ingressos e despesas empatados ou quase. Para que isso ocorra, Odair Hellmann precisa devolver a equipe ao G-4, com vaga direta à Libertadores de 2020, ou, na pior das hipóteses, até a oitava colocação. Assim, o Inter teria direito a um prêmio entre R$ 28 milhões (valor que será recebido pelo quarto colocado do Brasileiro) a R$ 21,4 milhões (valor destinado ao oitavo colocado).
Mesmo dependente da "venda de jogadores" como uma das principais rubricas, ano após ano, o Inter contou com negociações de atletas que já não estavam mais no clube para arrecadar R$ 60 milhões de um total de R$ 74 milhões previstos para a temporada.
Dos titulares, apenas Iago foi negociado — ainda que tenha deixado um rombo na lateral esquerda e no sistema de jogo da equipe. Nomes como Eduardo Henrique, Marcinho, Rogerinho, e até a segunda parte do empréstimo de Valdívia, ajudaram a compor os valores até aqui. Ao final do ano, uma possível nova venda deverá inteirar os R$ 14 milhões que restam para cumprir o que foi projetado para essa temporada.
— Nosso modelo de gestão não é o de fazer aventuras. Assumimos um clube em extrema dificuldade. No começo de 2017, a situação era terrível. Tínhamos perda de receita por estar na Série B. Nossos ativos (jogadores) não tinham atrativo forte, pela visibilidade menor. O potencial de novos sócios, em que pese a resposta do torcedor, que não deixou de contribuir na hora ruim, naturalmente caiu. Chegar agora, com déficit pequeno, ou quase zerado, dependendo do que ocorrer até o fim do ano, é plenamente exitoso. Ainda não ganhamos títulos, é verdade, mas estamos chegando a todas as fases decisivas. Tudo é questão de tempo, e há vários indicativos apontando que estamos no rumo certo — diz Giovane Zanardo, diretor-executivo de finanças do Inter, que na terça participou em Florianópolis da reunião da Associação Brasileira dos Executivos de Finanças do Futebol (Abeff).
Mesmo com as premiações recebidas pelas campanhas na Libertadores e na Copa do Brasil, os resultados não serão perceptíveis ainda em 2019. Mas tudo indica que a recuperação financeira do Inter se mostrará a partir de 2020. Se um ano atrás a direção contava os reais para pagar as contas e para investir no time, agora, a situação financeira para contratações à temporada seguinte já é bem diferente.
— A realidade do clube já mudou bastante de três anos para cá. Mas ainda não estamos em nossa plenitude. Primeiro, precisamos diminuir o déficit altíssimo, o que inviabilizou investimentos. Agora, a situação vai melhorar porque teremos mais fôlego do que em anos anteriores quando, por exemplo, tivemos de bancar folha extra em jogadores que estavam voltando de empréstimo — disse o 2º vice-presidente do Inter, Alexandre Chaves Barcellos.
— Gostaria de entregar o clube com superávit, mínimo que fosse, mas temos de considerar o cenário total, tudo o que ocorreu em 2017: déficit altíssimo, devido a problemas anteriores, clube na Série B, e, olhando o total, chegar com um déficit de R$ 12, R$ 10 milhões, é sem dúvida, algo bom. Porque em 2019 o Inter voltou a ser protagonista — corrobora Zanardo.
O executivo de finanças lembra que desde a chegada de Marcelo Medeiros à presidência, após a gestão Vitorio Piffero, o orçamento do Inter foi crescendo ano a ano. Em 2017, em meio à crise da Série B, dos altos custos, nenhuma venda relevante, e dos escassos recursos, o clube trabalhou com orçamento de R$ 245 milhões. No ano seguinte, foram R$ 293 milhões. Em 2019, deverá finalizar em R$ 380 milhões. Para o ano que vem, ainda que Zanardo não faça previsão, a esperança é que o orçamento possa superar R$ 400 milhões.
— Para que o clube siga em recuperação (financeira), seria muito importante estarmos classificados para a Libertadores. Isso coloca o clube em um outro patamar, em termos de visibilidade, publicidade, investimentos e protagonismo. Com vaga à Libertadores, podemos trabalhar em um nível mais elevado como um todo — afirmou Giovane Zanardo.
A missão da equipe de Odair Hellmann até o final do ano é devolver o clube à Libertadores, de preferência via G-4, o que, na pior das hipóteses, asseguraria ao Inter a vaga direta, sem o drama das fases preliminares, além de uma verba extra de R$ 29,7 milhões (o prêmio para o terceiro colocado no Brasileirão) e R$ 28 milhões (a bolada que receberá o quarto lugar no campeonato). Uma boa colocação ao final do ano não salvará as finanças coloradas, mas dará um novo aporte para a reforma e a qualificação do elenco de 2020.
Do campo aos cofres
- Vice-campeão da Copa do Brasil, o Inter arrecadou um total de R$ 33 milhões em prêmios, desde a sua participação nas oitavas de final até a decisão do torneio.
- Eliminado nas quartas de final da Libertadores, o Inter recebeu R$ 22,5 milhões em premiações, da fase de grupos às quartas.
- Caso encerre o Brasileirão na quinta posição, o Inter receberá R$ 26,4 milhões como bônus da TV pela campanha. O campeão receberá R$ 33 milhões, importância que vai sendo gradualmente reduzida até chegar aos R$ 11 milhões para o 16º colocado.
- Total até o momento: R$ 55,5 milhões (percentual foi pago em prêmios por objetivos pelo clube ao elenco, mas o Inter não informa quanto foi repassado aos atletas)